quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O amanhecer desta terça, 15 de dezembro de 20-15, deixou o país atônito e perplexo....


Ney Lopes
A tragédia é o trapezista pensar que pode voar

O amanhecer desta terça, 15 de dezembro de 20-15, deixou o país atônito e perplexo.


A mídia anunciava viaturas policiais à frente da residência oficial do poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha e o processamento da diligência de busca e apreensão.


Em outras cidades brasileiras repetia-se o mesmo cenário, com outros investigados.

A primeira ideia vinda à cabeça foi a frase do ex-ministro Mario Henrique Simonsen, de que “A tragédia do trapezista é quando ele pensa que pode voar”.


Os últimos fatos que mancham a vida pública brasileira ocorreram justamente por aqueles que, detendo a plenitude do poder, assemelharam-se ao trapezista, ao pensarem que a impunidade seria uma regra perpétua.

Foram surpreendidos com as mudanças no Brasil.

O país muda para melhor, em que pese ser necessário reivindicar, para o mais breve espaço de tempo possível, uma readequação do sistema constitucional e jurídico a fim de eliminar certos excessos, ou omissões, que ainda perduram, justamente pela mudança abrupta ter provocado, em alguns casos, o salto de um extremo para outro.

Como os extremos se opõem, mesmo prevalecendo as melhores intenções, subsistem situações, que lesionam profundamente a cidadania, sobretudo os direitos fundamentais.
O único caminho será, certamente, a convocação de uma Constituinte, com a tarefa de reconstruir o Brasil.

O momento vivido é extremamente delicado e de profunda instabilidade política.
No passado, jamais uma crise colocou, ao mesmo tempo, o presidente da República na iminência de destituição, os presidentes das duas Casas do Congresso sob suspeita, além de ministros de estado, parlamentares e altos funcionários públicos.

A cada dia novos capítulos inusitados.

A grande indagação é para onde caminhará o PMDB, o maior partido no Congresso, diante dos últimos acontecimentos.

Será a gota d’água para o rompimento com o governo e o passaporte liberado para aprovação do impeachment?

Com os caciques atingidos quase mortalmente, talvez ocorra fenômeno contrário.
O governo sairia fortalecido politicamente, na medida em que se desfez a parceria indireta, entre Eduardo Cunha e a oposição, no sentido de viabilizar o impeachment.

O PMDB nesse momento difícil buscará líderes que encarnem a resistência ao governo, ou, resolvam somar-se ao Planalto, movidos pelo instinto da sobrevivência política.

O vice-presidente Michel Temer é o sobrevivente mais habilitado para assumir o comando, em função de ter adquirido mais espaço político do que detinha, quando era obrigado a partilhar decisões com os “caciques” tradicionais na sigla.

Hoje, os caciques caíram.

A única exigência imposta pela conjuntura instável do momento é que o vice tenha postura diferente.

Isso exigirá que ele, definitivamente, se coloque perante a nação pró ou contra o impeachment presidencial.

A eclosão dos últimos fatos tiraram-lhe a possibilidade de uma posição diplomática, equidistante, ou de estadista.

O cenário está mais para o tudo ou nada!

Em período de tempestade, o comandante terá que segurar o leme com firmeza e conduzir o barco para um destino pré-determinado.

Caso isso não ocorra, a tendência será o PMDB dividir-se ainda mais, com a grande chance do governo sair ganhando na estatística final.

Bem, são prognósticos, apenas.

Afinal, o país surpreende os analistas, minuto a minuto.
Porém, os acontecimentos dessa terça feira, 15, inspiraram o raciocínio exposto.

Aguardemos!

Ney Lopes – ex-deputado federal (sem partido); procurador federal, ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, jornalista e professor de Direito Constitucional. – nl@neylopes.com.br

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