quarta-feira, 27 de julho de 2016
Amazônia monitorada
Centro Regional da Amazônia, do INPE, investiga as causas do
desmatamento na Amazônia através de um sistema de mapeamento inédito no
mundo
A exploração desordenada da maior floresta tropical do planeta tem entre
seus maiores problemas e consequente preocupação o desmatamento,
questão monitorada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
desde 1988, apoiado pelo seu Centro Regional da Amazônia (CRA),
localizado em Belém. Existe uma dinâmica de ação de combate ao
desflorestamento na Amazônia e a missão dos órgãos atuantes contra esta
prática, a exemplo do INPE, é justamente enfraquecer a atividade e assim
reduzir os índices de desmatamento e suas consequências.
Há os responsáveis em fazer mapas para identificar os locais onde ocorre
desmatamento; existem aqueles que em posse do mapa vão a o local para
conferir e multar se o desmatamento for criminoso e há também aqueles
que estudam para explicar como se dá tal dinâmica de desflorestamento.
Ao INPE, através do Centro Regional da Amazônia, compete justamente a
elaboração dos mapas, através de interpretação de imagens de satélite; a
verificação de onde estão ocorrendo ações de desmatamento em toda a
Amazônia Legal, e também estudar a destinação dada à terra.
Um dos projetos desenvolvidos no CRA/INPE, em parceria com a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – por meio de suas
unidades em Belém e em Campinas (SP), é o TerraClass, responsável por
qualificar o desflorestamento. Pasto, agricultura, mineração, floresta
secundária: como as áreas desmatadas na Amazônia estão sendo utilizadas?
O mapeamento realizado pelas equipes fornece dados para que se saiba
exatamente a motivação da derrubada de árvores.
Inédito no mundo, o diferencial do TerraClass está no empenho em
qualificar o desmatamento na Amazônia Legal. O sistema PRODES, maior
programa de monitoramento de florestas do mundo, faz mapeamento do
desflorestamento, mas é o TerraClass que investiga os motivos: houve
desmatamento por quê? Até o momento já foram gerados dados de uso e
cobertura da terra para os anos de 2004, 2008, 2010, 2012 e 2014.
As informações geradas representam um avanço no conhecimento do uso e
cobertura da terra na Amazônia como um todo. O TerraClass utiliza 12
classes temáticas para mapear o desflorestamento e classificar os tipos
de uso e cobertura da terra, tendo como base a interpretação de imagens
de satélites e tecnologias de geoprocessamento.
De acordo com o pesquisador do INPE e coordenador do projeto, Dr. Marcos
Adami, “merecem destaque os números relativos à Agricultura, em
crescente no Mato Grosso, Pará e Rondônia, principalmente, e que
correspondem a 6% do desflorestamento; à Pastagem, que compreende 60% do
total de áreas desmatadas em toda Amazônia; e a Vegetação Secundária,
classe que representa 23% das áreas mapeadas”.
Para melhorar a qualidade do trabalho dos responsáveis pelo mapeamento
do desmatamento na Amazônia Legal Brasileira, eles participaram do I
Trabalho de Campo do Projeto TerraClass 2016, que ocorreu entre os dias
22 e 26 de maio, em Paragominas, na região do nordeste paraense. A
proposta foi uniformizar conceitos e nivelar a capacidade de discriminar
as classes do projeto e isso aplicado a todos os profissionais, visando
melhorar a interpretação.
Em Paragominas é possível se observar com clareza os mais variados tipos
de uso do solo. A região possui grandes extensões de terra voltadas à
agricultura, pastagem, reflorestamento e vegetação secundária.
Daí a escolha deste local para a realização do trabalho de campo, somada
à presença do Núcleo de Apoio à Pesquisa e Transferência de Tecnologias
da Embrapa (NAPT Belém-Brasília). Aliás, foi no NAPT a primeira parada
dos 25 analistas em geoprocessamento do Projeto.
Antes do campo propriamente dito, os profissionais assistiram à palestra Padrões de uso e cobertura da terra e considerações físicas sobre a paisagem no município de Paragominas, ministrada pelo pesquisador do instituto francês CIRAD, Dr. René Poccard-Chapuis. René desenvolve estudos em parceria com a Embrapa e a Universidade Federal do Pará.
Antes do campo propriamente dito, os profissionais assistiram à palestra Padrões de uso e cobertura da terra e considerações físicas sobre a paisagem no município de Paragominas, ministrada pelo pesquisador do instituto francês CIRAD, Dr. René Poccard-Chapuis. René desenvolve estudos em parceria com a Embrapa e a Universidade Federal do Pará.
O pesquisador destacou que o mapeamento do uso do solo na Amazônia Legal
gera dados que não existem no mundo. A oportunidade de se aperfeiçoar o
trabalho dos profissionais é um ganho para fornecer com mais qualidade
informações úteis à sociedade.
O objetivo do campo foi verificar o uso que se tinha nas imagens de 2015
analisadas no laboratório e comparar com o que se via no presente.
Permanece igual? Transformou-se em quê? O estudo possibilita confirmar
ou não, a interpretação das imagens quando observado em campo, a
conhecida “verdade terrestre”.
Pasto com solo exposto; pasto limpo; pasto sujo; regeneração com pasto;
mosaico de ocupações, e reflorestamento. Essas foram as classes levadas
em consideração durante o trabalho de campo.
“O reflorestamento às vezes pode ser confundido com a vegetação
secundária, pois dependendo da idade do reflorestamento (geralmente o de
eucalipto mais antigo), o adensamento das copas faz com que o
intérprete confunda o padrão das cores na imagem, porém a diferença se
dá pela textura, mais densa e rugosa no caso da vegetação secundária e
lisa, no caso do reflorestamento”, explica a engenheira florestal e
especialista em geoprocessamento do CRA/INPE, Márcia Barros, que esteve à
frente da organização do trabalho de campo.
Os analistas se dividiram em equipes e cada uma utilizou um GPS, um
notebook e uma câmera digital. O GPS identificava o ponto exato de
localização, confirmado na imagem de 2015 e em seguida se observava em
campo, no terreno, no que a área havia se transformado. Vale destacar
que os analistas foram acompanhados durante todo o trabalho pelo
pesquisador René Poccard-Chapuis, convidado pela Embrapa. O chefe-geral
da Embrapa Amazônia Oriental, Adriano Venturieri e o pesquisador Orlando
Watrin também estiveram presentes.
De acordo com Adriano Venturieri, “o TerraClass tem uma repercussão
mundial com a questão de emissões de gases no Brasil. Não existe no
mundo quem faça um trabalho como esse”, atesta. “O que nós fazemos é o
que a gente chama de qualificação do desflorestamento. Se antes o INPE
dizia que tinham sido desflorestados 1.000 km², agora a gente está
dizendo que desses 1.000 uma parte é agricultura, uma parte é pastagem,
por exemplo. Então, agora estamos dizendo o que se transformou após a
conversão da floresta”, explica Venturieri, que divide com os
pesquisadores do INPE a coordenação do projeto.
Com o trabalho realizado, os técnicos puderam inclusive pensar no
desmatamento não só como vegetação em si, mas expandir o olhar, pensar
questões de uso do solo, relevo. O resgate histórico feito pelo
pesquisador René Poccard-Chapuis, foi de fato um dos grandes trunfos.
Segundo ele, o TerraClass “se apropria do conhecimento geográfico e
transforma ele em operacional. Os dados gerados são importantíssimos
para discussões atuais, no que diz respeito ao clima, por exemplo”,
ressaltou.
“O campo foi um aprendizado para que todos melhorem o trabalho de
monitoramento. Pudemos visualizar as classes para entender o que é feito
de fato no laboratório”, disse Márcia Barros.
Participante do trabalho de Jamille Guimarães, disse que a construção e
desenvolvimento do trabalho mostrou-se relevante para operacionalizar o
entendimento do intérprete durante as etapas de identificação e
classificação dos padrões uso e cobertura da terra na Amazônia Legal
mapeados pelo projeto TerraClass, além de capacitar os profissionais
para realizar futuros estudos de campo no que diz respeito a validação
dos padrões.
Fonte: EcoDebate
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