quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
No Mato Grosso do Sul, a porção norte do estado poderá apresentar um
aumento de até 5,8°C graus na temperatura e uma redução de até 19% no
volume de chuvas nos próximos 25 anos.
Os resultados da pesquisa foram compartilhados durante o Seminário
Indicadores de Vulnerabilidade à Mudança do Clima, que ocorreu nesta
quarta-feira (30/11) em Campo Grande (MS). Para o coordenador do
projeto, Ulisses Confalonieri, este trabalho possibilitará aos gestores
avaliar, por meio de mapas e gráficos, qual parte do território está
mais e menos vulnerável às alterações do clima e os mais aptos a se
recuperarem de possíveis impactos climáticos.
“O Mato Grosso do Sul é o
único representante da região centro-oeste a participar do estudo. Além
dele, foram escolhidos mais cinco estados para serem avaliados:
Amazonas, Espírito Santo, Maranhão, Paraná e Pernambuco. Também foi
desenvolvida uma ferramenta, um software, que ajuda a quantificar a
vulnerabilidade humana às mudanças climáticas, conforme cada município”,
ressalta o pesquisador da Fiocruz Minas.
Dias mais secos
A pesquisa feita sobre os municípios sul-mato-grossenses indica que a
porção sul do estado poderá ser a mais afetada em relação ao número de
dias secos consecutivos no ano, índice chamado de CDD. Na cidade de
Japorá, por exemplo, o aumento no número de dias seguidos sem chuva
poderá chegar a 12,6%, seguida por Sete Quedas (12,2%) e Tacuru (11,5%).
O município de Novo Horizonte do Sul apresentou o CDD mais elevado do
estado, com um aumento de 15,2% para os períodos de estiagem. Esta
situação é diferente em cidades localizadas na parte central, como
Rochedo e Corguinho. Nelas, os dias seguidos sem chuvas permanecerão os
mesmos em comparação com o período atual.
Mais calor e menos chuvas
Em relação à temperatura máxima, Corguinho poderá ter um incremento de
até 5,8°C para os próximos 25 anos. Os municípios da porção norte serão
os mais afetados, assim como algumas cidades localizadas na parte leste
do estado. Em Paranaíba e Aparecida do Taboado o aumento pode chegar a
5,7°C para o período de 2041 a 2070.
O Alto do Taquari pode ser uma das regiões mais impactadas pela redução
do volume de chuvas. Em Coxim e Rio Verde do Mato Grosso, por exemplo, a
precipitação poderá diminuir 19,3%. Na parte leste do estado, a
pluviosidade pode reduzir até 17,6%, como é o caso do município de
Selvíria.
Campo Grande apresenta uma elevação de 5,4°C na temperatura e uma
redução de 8,3% na precipitação. Em relação ao número de dias seguidos
sem chuva, a capital pode ter uma diminuição de 5,4%.
Mudança do clima no Pantanal
As projeções feitas no estudo indicam possíveis consequências para o
Pantanal. Por ser um bioma úmido, que depende do ciclo de cheias e
secas, o aumento da estiagem pode impactar no ciclo de inundações e na
diminuição da biodiversidade, por causa das alterações no processo
reprodutivo de plantas e animais.
As mudanças do clima também podem provocar transformações em fenômenos
naturais recorrentes no Pantanal, como o período das cheias dos rios.
Por causa das alterações no volume de chuvas e elevação da temperatura,
podem ocorrer eventos extremos, como secas e alagamentos. Estes
fenômenos climáticos poderiam impactar no Pantanal, a perda do potencial
de pesca e, em outras partes do estado, a redução da produção agrícola,
afetando diretamente a segurança alimentar das populações que vivem
nessa região. Outro impacto que pode ser apontado nesse cenário futuro é
o aumento de doenças, devido à proliferação de vetores.
Vulnerabilidade dos municípios
As pesquisas realizadas sobre o estado consideram informações de cada
município relacionadas a fenômenos extremos, a exemplo de tempestades, e
doenças vinculadas ao clima, entre elas, dengue, leptospirose e
leishmaniose. Dados sobre a população, envolvendo saúde e condições
socioeconômicas e a capacidade dos municípios para lidarem com as
mudanças climáticas também são utilizados.
As informações coletadas são associadas a três elementos – exposição, sensibilidade e capacidade adaptativa da população, considerando dois cenários de clima futuro: um com redução nas emissões de gases do efeito estufa e menor aquecimento global, e outro que considera o aumento contínuo dessas emissões com maior impacto no clima. A partir da combinação e análise desses dados, é possível calcular o Índice Municipal de Vulnerabilidade (IMV) e outros indicadores.
As projeções feitas na pesquisa indicaram que os municípios mais
vulneráveis à mudança do clima seriam Rio Verde do Mato Grosso, Rio
Negro e Sonora e os menos vulneráveis seriam Jateí, Naviraí e Chapadão
do Sul. As cidades mais expostas às alterações climáticas foram
Maracaju, Três Lagoas e Coxim, em virtude de desmatamentos, variações
bruscas de temperatura e ocorrência de eventos extremo, como secas e
enxurradas. Em relação à sensibilidade, que indica a intensidade com a
qual os municípios são suscetíveis aos impactos do clima, Juti,
Taquarassu e Paranhos seriam os mais impactados.
O estudo apontou que Campo Grande, Chapadão do Sul e Costa Rica foram
considerados os municípios mais adaptados para lidar com as mudanças
clima, devido à existência de infraestrutura de saúde, como leitos
hospitalares, plano de contingência de desastres e atuação da Defesa
civil. Coronel Sapucaia e Novo Horizonte do Sul seriam os menos
adaptados.
Fonte: EcoDebate
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