Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Domingos Pellegrini
Os presidentes do Banco do Brasil e da Caixa também têm
culpa nas “pedaladas”, pois pegaram o dinheiro dos depositantes, emprestaram
indevidamente e não cobraram devidamente.
Os conselheiros dos Tribunais de Contas julgam as contas do Executivo que os indicou para seus cargos. No Paraná, há pouco o presidente do TC, que foi secretário e até funcionário do governador, absolveu “pedaladas” do governo estadual. Juízes do Supremo são indicados pela Presidência da República, não sendo, pois, de se estranhar que cinco dos que votaram contra “impichar” a presidente foram indicados por ela. São apenas alguns exemplos do conluio interpoderes em toda a estrutura do Estado brasileiro, uma república de padrinhos.
Os conselheiros dos Tribunais de Contas julgam as contas do Executivo que os indicou para seus cargos. No Paraná, há pouco o presidente do TC, que foi secretário e até funcionário do governador, absolveu “pedaladas” do governo estadual. Juízes do Supremo são indicados pela Presidência da República, não sendo, pois, de se estranhar que cinco dos que votaram contra “impichar” a presidente foram indicados por ela. São apenas alguns exemplos do conluio interpoderes em toda a estrutura do Estado brasileiro, uma república de padrinhos.
Depois de sete Constituições e décadas de avanço republicano, chegamos a uma estrutura estatal que tem, na base, exemplos de democracia comunitária, como as eleições para conselheiros tutelares. Mas, no alto dessa estrutura, trocando favores e mutuamente protegendo seus privilégios, temos uma superelite que custa muito caro para serviços sem auditoria de produtividade, com imensas máquinas de servidores a seu serviço, dando exemplo de “desdemocracia”.
No topo, os poderes públicos se imiscuem.
O Judiciário é apadrinhado pelo Executivo, de quem recebe os salários sem autonomia orçamentária, como estamos vendo agora, no Paraná, onde o governo quer se apropriar de recursos do Judiciário. Podemos questionar o desuso dos recursos pelo Judiciário, mas não é legal (no sentido de “conforme a lei”) o governo, por estar de tanga, avançar em recursos que não são seus.
O Judiciário é apadrinhado pelo Executivo, de quem recebe os salários sem autonomia orçamentária, como estamos vendo agora, no Paraná, onde o governo quer se apropriar de recursos do Judiciário. Podemos questionar o desuso dos recursos pelo Judiciário, mas não é legal (no sentido de “conforme a lei”) o governo, por estar de tanga, avançar em recursos que não são seus.
O respeito entre os poderes é fundamento da República, mas
as indicações ou apadrinhamentos causam erosão constante nesse fundamento,
trocando o respeito pelo ajeitamento.
A profusão não fiscalizada de cargos de confiança amplia
essa república de padrinhos, somando União, estados e municípios com centenas
de milhares de apadrinhados. É comum deputados e vereadores terem assessores
ausentes de qualquer serviço, quando não fantasmas mesmo. E os servidores de
carreira agem sempre como os três macaquinhos: nada ouvem de errado, nada veem
de estranho, nada informam à Promotoria.
Do topo à base, a doença é a mesma: apadrinhamento. Assim
se formam camarilhas, grupos dedicados a se perpetuar no poder com proteção
mútua e benefícios barganhados. O pessoal do Judiciário está há anos sem
aumento, mas os juízes tiveram aumentos, além de auxílios para moradia e
comida. Enquanto isso, o Congresso Nacional se esmera em ser a meca
centralizadora e a usina central geradora dos apadrinhamentos, de deputados e
senadores, nas redes federal e estaduais, além das empresas estatais.
O juiz Moro não tem padrinhos, nem o poder de indicar
substituto ou continuadores. É um samurai da república num pântano de
padrinhos, com uma Polícia Federal que acaba de ter orçamento cortado quando
merecia mais recursos nessa luta vital para um futuro melhor de todos nós.
Um dos eixos a pautar nova Constituição a reformar para
valer a República Federativa do Brasil é reduzir radicalmente e limitar
operacionalmente o apadrinhamento, doença mista de corrupção e conivência.
Quem paga 40% de impostos na renda merece Estado enxuto, funcional, estável e produtivo.
Quem paga 40% de impostos na renda merece Estado enxuto, funcional, estável e produtivo.
Essa tendência e atração pela dependência e dominação
também está no fundo da escolha popular pelo presidencialismo, em dois
plebiscitos. Fosse Estado parlamentarista, já estaria resolvida a crise
política, e a crise econômica poderia ser encurtada por medidas cautelares do
parlamento, como a destituição da (se fosse o caso) primeira-ministra Dilma
Rousseff.
Na sua carta ao rei, Caminha já pedia emprego para
parente. Passou há muito a hora de se livrar da praga do apadrinhamento.
Domingos Pellegrini é Escritor. Originalmente publicado na Gazeta do Povo (PR) em 30 de janeiro de 2016.
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