quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Animais são os outros?

Animais são os outros?

Não somos animais? Somos. E, para piorar o estado de quem se achar diminuído por ser animal, somos vegetais.

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16/04/2018 às 19:00 

Por Dr. phil. Sônia T. Felipe
Divulgação

Não somos animais? Somos. E, para piorar o estado de quem se achar diminuído por ser animal, somos vegetais. E para deixar no desespero total quem ainda não pensou sobre sua vulnerabilidade biológica vegeto-animal, somos, dois terços, mineral. Então, tudo o que fazemos aos outros animais e aos vegetais fazemos ao animal que somos (venenos, toxinas, seca, queimadas, gases etc.). Tudo o que fazemos às águas, fazemos à água em nosso corpo, pois elas todas, as de fora e as de dentro, ressoam, comunicam-se sem parar.

Do total de 23 mil genes que constituem nosso organismo, que os cientistas apregoaram como sendo de mais de 100 mil quando iniciaram o Projeto Genoma, em 2000, e deram com a cara no muro, quando descobriram que temos tantos genes quanto os tem a Drosófila (conhecida como mosca da fruta), 40% é vegetal e, pasmem uma vez mais, “fluido”. Cada gene pode mover-se e juntar-se a outros, levando consigo informações e alterando as respostas genéticas em função do ambiente novo no qual estiver. Os demais 60% são tecidos animais, como o são os de todos os outros organismos vivos sencientes.

Mas, tecidos vegetais e animais são constituídos de dois terços de água. Então, a maior parte do nosso corpo, 71% a 80% das mais de 50 trilhões de células (certo, os cientistas divergem quanto a esse número, uns afirmam que são 10 trilhões [Antonio Damasio, The Strange Order of Things, 2018], outros que são 100 trilhões [Alberto Peribanez Gonzalez, Cirurgia Verde, 2017], então escolhi ali pelo meio, 50 trilhões, Bruce H. Lipton, A Biologia da Crença e Evolução Espontânea) que o constituem, é feita de água, mineral em estado líquido, memorial. As águas recebem e emitem vibrações celulares carregadas de “in-forma-ações”.

Não estamos reduzidos a estas três naturezas. Mas estamos imbricados em todas elas e delas dependemos para seguir vivos. Entretanto, nossa mente é capaz de registrar, arquivar, receber e emitir informações, todas gravadas na matriz água, do mesmo modo que o é a mente de todos os demais animais e, já em estudos avançados, a mente dos vegetais.

Sentir dor é característica peculiar de seres sencientes. Tendo nascido livres, os animais precisam levar consigo um aparato que os alerte sobre riscos à integridade física ou ameaças de morte. Neste quesito não há distinção entre nós, humanos e qualquer outro animal. Todos reagimos à dor e à ameaça de extermínio, com movimentos que são típicos de cada espécie: fugir, lutar ou paralisar.

Quando tratamos da dignidade nossa e alheia, tratamos do dever de preservar o bem próprio dos seres que podem ser danados, prejudicados ou devastados por nossas escolhas. É disto que a ética trata. E para não cometer injustiças, todos os seres com tais características são incluídos na consideração moral. Portanto, nossa dignidade não está no formato nem na constituição do nosso corpo, ela está confinada à nossa mente. Se nossa vida representa malefício, dano, tormento e morte para a vida de qualquer outro ser senciente, aí, sim, perdemos o tiquinho de dignidade que nascemos para bem cuidar e nos reduzimos ao resto, pura animalidade.

Através de uma canetada, no século XIII, o teólogo da Igreja Católica, Tomás de Aquino criou um quarto reino e ali instalou confortavelmente os animais humanos, desviando-se da teologia e da ciência cultivadas até seu ato, que reconheciam apenas a existência de três reinos: mineral, vegetal e animal.

Há humanos que preferem seguir a doutrina tomista, porque querem porque querem esquecer das agruras que sua condição animal lhes inflige: dor, tormento, ansiedade, medo, insegurança e terror da morte violenta. Então, faço lembrar que exatamente tudo isto é sentido por todos os outros animais.

Se queremos alguma distinção ou privilégio moral sobre e contra os direitos dos outros animais, estamos lutando por uma ética que preserva o domínio de uns sobre os outros. E com tal ética não se pode avançar em nenhuma outra questão moral no âmbito da discriminação. Como cada um vai resolver o impasse, é dever de cada movimento (antirracismo, feminismo, abolicionismo animalista) pôr em discussão a questão.

Para dar o tom real do lugar que ocupamos no reino da vida animal, aqui vai a classificação científica da natureza animal de todos os humanos, doa a quem doer possa:


Classificação taxonômica dos seres humanos:

– Domínio: Eukaryota (quer dizer, formados por mais de uma célula, cada tipo com características bem distinguíveis)
– Reino: Animal (Animalia)
– Subreino: Eumetazoa
– Filo: Chordata (Cordados)
– Subfilo: Vertebrata (Vertebrados)
– Superclasse: Tetrapoda (Tetrápodes), quer dizer: Quadrúpede
– Classe: Mammalia (Mamíferos)
– Subclasse: Theria, quer dizer, dá luz sem precisar botar ovos
– Infraclasse: Eutheria (o desenvolvimento do embrião é dentro do corpo da fêmea, em uma placenta)
– Ordem: Primates (Primatas)
– Subordem: Haplorrhini
– Infraordem: Simiiformes
– Superfamilia: Hominoidea
– Família: Hominidae (Hominídios)
– Subfamília: Homininae
– Tribo: Hominini
– Subtribo: Hominina
– Gênero: Homo
– Espécie: H. Sapiens
– Subespécie: H. Sapiens Sapiens

* Dr. phil. Sônia T. Felipe é autora dos livros: Ética e experimentação animal: fundamentos abolicionistas; Galactolatria: mau deleite, implicações éticas, ambientais e nutricionais do consumo de leite bovino; Acertos abolicionistas: a vez dos animais; Passaporte para o mundo dos leites veganos: receitas

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