REINO VEGETAL
As plantas sentem dor?
A clássica pergunta: “as plantas sentem dor?" é o objeto deste artigo escrito pelo biólogo e colaborador do MOVE, Helder Canto Resende.
18/06/2018 às 17:30
Por Helder Canto Resende, da Redação
Desde a infância ouvimos nossos pais e educadores nos advertirem: “Não maltrata a plantinha que ela chora!”, “Não arranca a florzinha! Não quebra o galho da plantinha que ela vai ficar triste!”.
E assim, de uma forma pueril, vamos aprendendo desde cedo o respeito que devemos ter à flora. Mas, planta sente dor? Planta fica triste? Planta sofre ao ser comida? São dúvidas que permanecem incomodando alguns que se alimentam exclusivamente do reino vegetal, e muitas vezes argumentos utilizados como resposta crítica à opção vegetariana.
Não raro ouvimos: “Vocês não comem carne para não fazer sofrer os animais, mas comem as plantas, arrancam e matam os pés de alface! Não têm compaixão das plantas e do sofrimento delas?!?
E então, como fica? Afinal, planta sente dor?
Neste artigo, vamos defender o argumento de que não, planta não sente dor! Mas é claro que, se o amigo(a) leitor(a) tiver uma visão diferente da nossa, pedimos a gentileza de nos ajudar a ampliar nossa visão do assunto deixando seus comentários e referenciando seus argumentos.
Plantas não sentem dor. E, por conseguinte, planta não é submetida ao sofrimento quando cortada, ou arrancada do solo, ou tem seus frutos colhidos. Pelo menos não a dor ou o sofrimento como nós a sentimos ou entendemos como dor e sofrimento. A afirmativa pode ser concluída por diversos caminhos.
Pela análise da biologia, da anatomia e da fisiologia vegetal, chegamos à conclusão que planta não sente dor pelo simples fato de não ter sistema nervoso. Para entender isso precisamos compreender como se processa a dor, ou, em outras palavras, como a dor é sentida.
Woolf [1] classifica a dor em (a) Dor nociceptiva; (b) Dor inflamatória; e (c) Dor patológica. A dor mais comum é a dor nociceptiva, sendo as outras resultantes de processos patológicos.
A dor nociceptiva é causada por alguma estimulação (calor, frio, esmagamento, rasgo, corte, etc) que é percebida pelas fibras nervosas (nociceptores) gerando um potencial de ção que é transmitido pelas vias nervosas periféricas, passando pela medula espinhal até o tálamo e depois para o córtex, onde há de fato a consciência da dor, isto é, onde é processada a qualidade emocional ou afetiva da dor e qualidades mais precisas como tipo de dor, localização e ansiedade emocional.
Aqui fizemos um breve resumo de um assunto muito vasto (para ler mais veja referência [2]), apenas para concluir que a sensação de dor depende de um complexo e integrado sistema nervoso, que não existe nas plantas.
Plantas não possuem células nervosas, tecidos, órgãos ou sistema nervoso. Nem mesmo algo similar, ou que teria uma função similar às células nervosas ou ao sistema nervoso dos animais.
Basicamente, as plantas possuem tecidos de revestimento, que servem principalmente para proteção, absorção, excreção, secreção e trocas gasosas; tecidos de preenchimento; tecidos de sustentação; e tecidos de condução – sistema vascular de transporte de seiva.
Logo, pela falta de um sistema nervoso, ou mesmo de um sistema similar, as plantas não têm a capacidade de perceber ou sentir dor como os humanos e outros animais.
Tratamos do argumento biológico, mas e a questão espiritual?
Kardec, na questão 586 [3] do Livro dos Espíritos, pergunta aos espíritos da codificação se as plantas têm consciência de sua existência e a resposta é que “Não. Elas não pensam, não têm mais do que a vida orgânica”.
Comparemos essa questão com a 597 [4], na qual se questiona se há nos animais um princípio independente da matéria, e a resposta é que “Sim, e que sobrevive ao corpo”. Logo, compreendemos que plantas não têm alma, não têm mais do que a vida orgânica, enquanto os animais possuem alma que sobrevive à morte do corpo.
Kardec ainda quis saber se as plantas sofrem quando mutiladas, e a resposta dos espíritos foi que “As plantas recebem as impressões físicas da ação sobre a matéria, mas não têm percepções, por conseguinte, não têm a sensação de dor” [5].
Aqui, vemos a resposta dos Espíritos em conformidade com a ciência atual que diz ser a dor uma percepção, muito além de uma mera impressão física da ação sobre a matéria, como descrito em relação aos nociceptores. E não havendo tal percepção, não há a sensação ou compreensão de dor.
Contudo, antes de chegar a uma conclusão precipitada e errônea de que as plantas não passam de um amontoado celular, já que não têm alma, é importante visitarmos a questão 607 do Livro dos Espíritos, quando Kardec questiona se pode considerar-se a alma como tendo sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação.
Respondem os Espíritos que tudo se encadeia na Natureza e que é nesses seres inferiores da criação que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida.
Assim, o princípio inteligente na fase vegetal ainda não pode ser considerado uma alma, mas é um ser espiritual que anima um corpo físico. Logo, as plantas não são apenas matéria.
Nesse sentido, vamos encontrar, nas belíssimas palavras do Espírito Joanna de Angelis, informações valiosas sobre a evolução do princípio inteligente [6]:
“Em tudo se manifesta a Divina Presença. Não há vazio nem silêncio em lugar algum. Deus prossegue criando sem cessar. O Seu psiquismo dá nascimento a verdadeiros fascículos de luz que contêm em germe toda a grandeza da fatalidade do seu processo de evolução.
Manifestando-se em sono profundo nos minerais, através dos milhões de milênios, germina, mediante processo de modificação estrutural, transferindo-se para o reino vegetal, às vezes passando pelas formas intermediárias, dando surgimento à sensibilidade, a uma organização nervosa primária de que se utilizará no remoto futuro. Obedecendo a campos vibratórios sutis e inabordáveis, lentamente se transfere para o reino animal, experimentando as variações do transformismo e do evolucionismo, igualmente vivenciando as experiências encarregadas das mutações e variações, desdobrando os instintos, até alcançar os primatas e deles prosseguindo no direcionamento humano.”.
Assim, a Natureza é sempre o livro divino, onde as mãos de Deus escrevem a história de sua sabedoria, livro da vida que constitui a escola de progresso espiritual do homem [7]. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas menores como nas maiores coisas [8].
Se as plantas sentissem dor ou sofrimento ao serem colhidas ou cultivadas, do que haveríamos de comer sem causar sofrimento? Estaríamos condenados a causar dor e sofrimento mesmo por uma alimentação estritamente vegana.
É assim que a sabedoria providencial divina disponibiliza para a alimentação as nossas irmãs plantas, poeticamente descrito em Gênesis [9]:
“E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento.”.
E não as deu apenas ao homem, mas também para manutenção da vida “a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda a erva verde lhes será para mantimento. E assim se fez.” [10].
E é assim que compreendemos que, pela vontade do Divino Escultor e da sua Comunidade de Espíritos Puros [11], a providência divina nos abençoou a vida no planeta com todas as nossas necessidades e com toda a sua bondade, sem a absoluta necessidade de que façamos sofrer os nossos irmãos animais para atender aos desvarios de nosso paladar.
E as nossas irmãs plantas estão aqui conosco, nos servindo agradavelmente não só pelos recursos nutricionais de que carecemos para a manutenção orgânica, mas também com o oxigênio, as belezas, os perfumes, os remédios que nos alimentam e curam o corpo e a alma. E se devemos nossas vidas às plantas, pelo ar que respiramos, pelo alimento, pelo remédio, mais que irmãs, merecem ser chamadas de nossas mães e avós.
Referências:
[1] Woolf, CJ (2010). What is this thing called pain? Journal of Clinical Investigation. 120 (11): 3742–3744. doi:10.1172/jci45178.
[2] Site: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dor
[3] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, Questão 586.
[4] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, Questão 597.
[5] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, Questão 587.
[6] FRANCO, D. P.; JOANNA DE ANGELIS (Espírito). Iluminação interior. Capítulo 1 “A Divina Presença”.
[7] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). O Consolador. Questão 27.
[8] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, Questão 13.
[9] MOISÉS. Velho Testamento. Gênesis, cap. 1:29.
[10] MOISÉS. Velho Testamento. Gênesis, cap. 1:30.
[11] XAVIER, F. C.; EMMANUEL (Espírito). A caminho da luz. Capítulo 1 “Gênese planetária”.
—
O MOVE também indica duas referências didáticas sobre o tema:
[12] Site: https://www.vista-se.com.br/plantas/
[13] Vídeo: https://youtu.be/pEKUK14Fk_A
O autor do artigo, Helder Canto Resende, é biólogo e colaborador do MOVE.
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