É preciso, urgentemente, incorporar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos às políticas de desenvolvimento do país.
Por Jaime Gesisky*
O capital natural do Brasil pode ser a base para transformar a
conservação e o uso sustentável de seus ativos ambientais em
oportunidades para um desenvolvimento capaz de enfrentar novas condições
futuras e, ao mesmo tempo, promover prosperidade socioeconômica. Mas
isso só será possível se o papel da biodiversidade em alavancar o
desenvolvimento social e econômico brasileiro for reconhecido e
incentivado.
É o que aponta o sumário para tomadores de decisão do primeiro
diagnóstico brasileiro de biodiversidade e serviços ecossistêmicos,
elaborado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES).
A versão preliminar do documento foi apresentada durante a 70ª Reunião
Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que
que terminou neste sábado (28/07), em Maceió.
O sumário é preliminar foi levado à SBPC para ter suas conclusões
discutidas com a comunidade científica e incorporar críticas e
sugestões.
Segundo Carlos Joly, professor da Unicamp e membro da coordenação da BPBES e do Programa BIOTA-FAPESP, o debate sobre o
papel da biodiversidade no desenvolvimento do país precisa situar-se
para além da academia e de setores do governo ligados especificamente ao
tema ambiental.
Joly defende, por exemplo, que o tema seja incorporado nas políticas
públicas nos ministérios do Planejamento e da Fazenda, pois a biodiversidade relaciona-se com a qualidade de vida da população brasileira e pode ser fator decisivo no desenvolvimento nacional.
Em entrevista ao Canal Ciência, Carlos Joly convocou a academia a tentar
traduzir melhor os temas da biodiversidade de modo que faça sentido
para os tomadores de decisão. Segundo Joly, é preciso mudar o patamar
das discussões sobre a biodiversidade no Brasil.
Pressão
Os ativos ambientais do Brasil – representados pela oferta de bens da
natureza e serviços ecossistêmicos, como os associados à polinização e
manutenção dos recursos hídricos – são a base de sustentação das
demandas da sociedade brasileira, ressaltam os autores do relatório.
O documento aponta que, das 141 culturas agrícolas brasileiras
cultivadas, 85 dependem de polinização por animais, como abelhas, e mais
de 40% da produção de energia primária no país são provenientes de
fontes renováveis.
“O capital ambiental do Brasil representa o seguro do país em um ambiente de crises globais de diferentes naturezas”, disse Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB), uma das autoras do diagnóstico.
Os recursos naturais brasileiros, contudo, têm sido fortemente pressionados e ameaçados. A
atual destruição e degradação das florestas brasileiras, por exemplo,
coloca em risco o ciclo hidrológico que mantém, em grande parte, a
produção agrícola brasileira.
“O uso insustentável de recursos naturais no país precisa ser
urgentemente interrompido em face dos vários sinais de colapso
ambiental”, diz o documento.
A fim de assegurar às futuras gerações no mínimo as mesmas riquezas
naturais que a sociedade brasileira dispõe hoje será preciso,
urgentemente, incorporar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos às políticas de desenvolvimento do país.
Além disso, é fundamental promover o cumprimento das leis ambientais
existentes e inovar no desenho de políticas que integrem componentes
sociais, econômicos e ambientais, sugerem os autores.
“Há urgência nas escolhas para consolidar as bases para um futuro sustentável. Talvez essa seja a principal mensagem do relatório”, avaliou Bustamante.
*Com informações da Agência Fapesp
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