Oito aves já foram extintas neste século, quatro delas são brasileiras
Um artigo científico divulgado esta semana pela Biological Conservation, realizado por pesquisadores da BirdLife International, aponta que oito aves foram realmente extintas neste século. Quatro delas são brasileiras: a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), o limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi), o trepador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti) e o caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum). Este último é uma coruja.
Segundo os pesquisadores, a extinção de aves na América do Sul, e neste caso específico, no Brasil, se deve ao desmatamento. O limpa-folha-do-nordeste, por exemplo, se tornou extinto em 2011, provavelmente devido à intensa atividade de extração da madeira em seu habitat. Já o trepador-do-nordeste foi observado pela primeira vez em 2002, na região de Murici, em Alagoas, mas desde 2007, nunca mais foi avistado. As florestas nativas onde vivia foram substituídas por plantações de cana-de-açúcar e pasto.
O estudo realizado pelos cientistas reuniu dados e evidências de diversas publicações, entre elas, a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), para confirmar a real extinção das espécies, já que é algo difícil de ser feito. O levantamento analisou 51 espécies consideradas, até então, criticamente ameaçadas.
Acontece que, no passado, o desaparecimento de aves ocorria mais com pequenas populações, em ilhas distantes. Atualmente, a extinção se dá em grandes quantidades, com aves que até então, eram avistadas comumente no dia a dia de moradores locais.
Segundo o relatório State of the World’s Bird 2018, produzido pela BirdLife International, 40% das espécies de aves do mundo apresenta redução de suas populações. Desde o ano 1500, 161 espécies foram extintas. É o que os cientistas já chamam de “a sexta grande era de extinção em massa do planeta”.
As entidades de proteção animal são sempre muito cautelosas em declarar uma espécie extinta porque, quando o fazem, é possível que trabalhos de conservação sejam interrompidos.
Esperança para a ararinha-azul
A Cyanopsitta spixii é uma espécie nativa da região de Caatinga, na Bahia. Descrita pela primeira vez em 1832, a ave tem aproximadamente 57 cm, quase a metade do tamanho da arara-azul-grande, daí o seu nome “ararinha-azul”. Sua plumagem azul e seu canto estão entre suas mais marcantes características.Infelizmente, sua beleza a fez se tornar vítima do tráfico ilegal de aves silvestres. Além disso, a destruição de seu habitat também provocou o desaparecimento da ararinha-azul. No mundo inteiro, ela se tornou conhecida através do desenho animado infantil Rio.
O último indivíduo da espécie foi visto perto do município baiano de Curaça, no ano 2000. Por isso, ela foi considerada extinta na natureza. Hoje a ararinha-azul só sobrevive em cativeiros. São 158 indivíduos e a maioria deles agora está na Alemanha.
Mas um acordo assinado em junho, na Bélgica, entre o Ministério do Meio Ambiente e organizações de conservação europeias – Pairi Daiza Foundation e Association for the Conservation of Threatened Parrots -, estabeleceu a “repatriação” de 50 ararinhas-azuis de volta ao Brasil.
A previsão é que as aves só cheguem no país no primeiro trimestre de 2019. Antes disso, elas precisarão passar por um processo de treinamento para, sobretudo, se adaptar ao clima da Caatinga. O primeiro passo será a transferência para um Centro de Preparação para Reprodução e Reintrodução da Ararinha-Azul, em Berlim, criado especialmente para esta finalidade.
Quando chegarem ao Brasil, as ararinhas-azuis serão levadas para outro centro de reintrodução da espécie, que será inaugurado em Curaça, dentro da Unidade de Conservação criada recentemente pelo governo federal (leia mais sobre o assunto aqui ).
“Até 2022 esperamos ter a ararinha-azul reintroduzida com sucesso na natureza”, diz Camile Lugarini, veterinária e pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Icmbio) e responsável pelo Plano de Ação Nacional para Conservação da Ararinha-Azul.
“Como as aves da vindas da Europa foram criadas em cativeiro, não é viável a soltura delas na natureza. Elas serão as genitoras de filhotes que serão cuidados no centro num primeiro momento e só então, depois, estes filhotes serão soltos na vida selvagem”, explicou Camile ao Conexão Planeta.
Ela revela ainda que as primeiras solturas serão feitas em conjunto com maracanãs (Primolius maracana), uma outra espécie, com hábitos semelhantes aos da ararinha – ambas, por exemplo, utilizam ocos de caraibeira (ipê-amarelo) para fazer seus ninhos. Antes de desaparecer, o último macho de ararinha-azul chegou a formar par com uma fêmea de maracanã.
“Acredito que muito do que estamos aprendendo com as maracanãs servirá para a ararinha-azul”, aposta Camile. “A criação das áreas protegidas era essencial, mas ainda é necessário arrumar a casa para receber as araras, ressalta. A paisagem é muito impactada pela criação de cabras, que interferem com a cobertura vegetal da qual as aves dependem para fazer seus ninhos e se alimentar”.
*Com informações do jornal The Guardian
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Foto: divulgação ICMBio
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