segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Marcha Mundial do Clima e Conferência vão aquecer o ativismo ambiental nos próximos dias


Marcha Mundial do Clima e Conferência vão aquecer o ativismo ambiental nos próximos dias
07/09/2018 18h12  Atualizado há 3 dias

O ativismo ambiental terá um fim de semana rico, e a semana seguinte seguirá dando oportunidade para que se expanda um pouco mais a briga por mais respeito aos bens que a natureza nos dá de graça. É uma briga, sim, sem violência nem partidarismos, e que precisa, acima de tudo, de informações verdadeiras, sem fake news, para ser travada como se deve travar uma briga consciente, em que todos os envolvidos, no fim e ao cabo, serão beneficiados. Uma briga que poderia servir para desconstruir polarizações em nome de um bem comum, a melhor qualidade de vida para todos.

Centenas de manifestações deverão ocorrer em cidades e vilas ao redor do mundo, segundo o site do evento. Não há menção ao Brasil, no site da organização, na lista dos que estarão enfrentando os desmandos cometidos contra a natureza. Nosso país está, infelizmente, de tal forma mergulhado numa crise política, institucional, econômica, agravada pelo atentado contra um dos candidatos à presidência que poderá parecer até impertinente, de minha parte, lembrar que haverá pessoas reunidas em mais de 90 países para protestar contra o fracasso dos políticos em lidar com a crise ambiental global, como lembra a reportagem de hoje do jornal britânico “The Guardian”.

De qualquer maneira, nada haverá para se comemorar entre os manifestantes. Pelo contrário. Há uma crescente frustração. Nick Bryer, do grupo de campanha 350.org, que está organizando o evento, disse ao repórter do Guardian:

“Os políticos estão falindo. Eles ainda estão protegendo os interesses das empresas de combustíveis fósseis sobre os interesses das pessoas, apesar das crescentes evidências da devastação dessas empresas e este sistema está causando o aquecimento do planeta. ”
Bryer se refere, certamente, à retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, iniciativa infeliz do presidente Donald Trump, que carreou com ele o empobrecimento da militância sobre a causa ambiental.

Em alguns países, a Marcha está já se encaminhando. Portugal, por exemplo, terá cerca de 40 organizações que vão sair, amanhã (8) às ruas de várias cidades para protestar contra a indústria do petróleo. As palavras de ordem exigirão uma “transição justa e rápida para as energias renováveis". Ao lado dos ambientalistas, como um forte apelo para reunir um público consistente, está o fato de o país europeu ter sido consumido por um verão escaldante, com seca e vários incêndios que trouxeram muitos problemas aos cidadãos.

Mas a mobilização de cidadãos para a causa está longe de querer dizer que há uma hegemonia de opiniões em Portugal com relação aos motivos que levam às mudanças climáticas. Talvez para pegar carona nos holofotes sobre o tema que vão trazer o assunto ao centro das atenções nos próximos dias, começou hoje, na Universidade do Porto, uma conferência de negacionistas do clima que desagradou bastante à maioria que acredita nos resultados das pesquisas científicas que vêm comprovando os efeitos do CO2 no aquecimento do planeta.

Ocorre que a professora de geografia da UP Maria Assunção Araújo, conivente com aqueles que não acreditam, fez um apelo para a reitoria da universidade ceder espaço para uma conferência sobre o clima, sem especificar, exatamente, o conteúdo da reunião. Foi atendida. O título da conferência – “Basic Science of a Changing Climate” (Ciência Básica sobre Mudança do Clima em tradução literal) não convidava a se descobrir que ali seriam debatidas questões que divergem das constatações científicas sobre o tema.

“Nós não negamos as alterações climáticas. Lutamos é contra a falta de seriedade científica. Achamos que não há uma explicação simples nem linear para as variações", defende a professora numa entrevista ao jornal “O Público”.

Seja como for, até agora parece que só umas setenta pessoas compareceram ao evento.

Já no resto do mundo, aqueles que acreditam que uma mudança radical nos métodos de produção e consumo pode melhorar a qualidade de vida estão se preparando para um barulhaço no fim de semana. Segundo o site dos que estão organizando o evento, haverá manifestações na Alemanha por mais desinvestimento; grandes palestras e comícios em outras cidades europeias e mulheres que vão marchar, na Ásia, pedindo uma política pública que elimine o carvão usado como energia. E mais protestos poderão ser vistos e ouvidos nas ilhas do Pacífico, na África, na Tailândia.

Abre-se, desta forma, uma série de eventos em prol do meio ambiente que já vão deixando caminho preparado para a reunião de Ação Climática Global que vai acontecer de 12 a 14 de setembro em São Francisco, na Califórnia. Para esta reunião estão sendo esperados políticos e pensadores influentes. 

Num artigo escrito para o site da Conferência, a Secretária Executiva das Nações Unidas, Christiana Figueres, diz que esta reunião vai mostrar a vanguarda da ação climática local e regional e “uma plataforma para novos compromissos que acelerem a transformação de baixo carbono que está em andamento”. Figueres tem um discurso otimista, diz que a previsão é de que a produção de energia renovável esteja mais barata do que os combustíveis fósseis até 2020.

“Tempo é essencial. Como temos sido rudemente lembrados neste verão, não há mais espaço na atmosfera para nossa poluição por carbono. A partir de 2020, as emissões globais anuais de gases de efeito estufa precisam ser metade do que eram na década anterior. A boa notícia é que países e líderes que entendem a necessidade de velocidade estão acelerando sua ação climática e também acelerando seu crescimento. Uma nova revolução industrial está sobre nós, uma que coloca o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental em condições equitativas. Aquele que entende que a saúde e o equilíbrio ecológicos são intrínsecos ao bem-estar e prosperidade a longo prazo. Aqueles que abraçam essa mudança acabarão ganhando a corrida”, escreveu ela.

Na época da Guerra Fria, uma frase soava sempre que se queria dizer que um plano daria certo se a outra parte envolvida , muitas vezes adversária, aceitasse embarcar na ideia. Lembrei-me dela e acho que pode ser uma boa conclusão para a minha reflexão num feriado tão conturbado: “Agora, só falta combinar com os russos”.

Amélia Gonzalez  (Foto: Arte/G1)

Nenhum comentário: