Marcha
Mundial do Clima e Conferência vão aquecer o ativismo ambiental nos próximos
dias
07/09/2018
18h12 Atualizado há 3 dias
O ativismo
ambiental terá um fim de semana rico, e a semana seguinte seguirá dando
oportunidade para que se expanda um pouco mais a briga por mais respeito aos
bens que a natureza nos dá de graça. É uma briga, sim, sem violência nem
partidarismos, e que precisa, acima de tudo, de informações verdadeiras, sem
fake news, para ser travada como se deve travar uma briga consciente, em que
todos os envolvidos, no fim e ao cabo, serão beneficiados. Uma briga que
poderia servir para desconstruir polarizações em nome de um bem comum, a melhor
qualidade de vida para todos.
Centenas de
manifestações deverão ocorrer em cidades e vilas ao redor do mundo, segundo
o site do evento. Não há menção ao Brasil, no site
da organização, na lista dos que estarão enfrentando os desmandos cometidos
contra a natureza. Nosso país está, infelizmente, de tal forma mergulhado numa
crise política, institucional, econômica, agravada pelo atentado contra um dos candidatos à
presidência que
poderá parecer até impertinente, de minha parte, lembrar que haverá pessoas
reunidas em mais de 90 países para protestar contra o fracasso dos políticos em
lidar com a crise ambiental global, como lembra a reportagem
de hoje do jornal britânico “The Guardian”.
De qualquer
maneira, nada haverá para se comemorar entre os manifestantes. Pelo contrário.
Há uma crescente frustração. Nick Bryer, do grupo de campanha 350.org, que está organizando o evento,
disse ao repórter do Guardian:
“Os
políticos estão falindo. Eles ainda estão protegendo os interesses das empresas
de combustíveis fósseis sobre os interesses das pessoas, apesar das crescentes
evidências da devastação dessas empresas e este sistema está causando o
aquecimento do planeta. ”
Bryer se
refere, certamente, à retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris,
iniciativa infeliz do presidente Donald Trump, que carreou com ele o
empobrecimento da militância sobre a causa ambiental.
Em alguns
países, a Marcha está já se encaminhando. Portugal,
por exemplo,
terá cerca de 40 organizações que vão sair, amanhã (8) às ruas de várias
cidades para protestar contra a indústria do petróleo. As palavras de ordem
exigirão uma “transição justa e rápida para as energias renováveis". Ao
lado dos ambientalistas, como um forte apelo para reunir um público
consistente, está o fato de o país europeu ter sido consumido por um verão
escaldante, com seca e vários incêndios que trouxeram muitos problemas aos
cidadãos.
Mas a
mobilização de cidadãos para a causa está longe de querer dizer que há uma
hegemonia de opiniões em Portugal com relação aos motivos que levam às mudanças
climáticas. Talvez para pegar carona nos holofotes sobre o tema que vão trazer
o assunto ao centro das atenções nos próximos dias, começou hoje, na
Universidade do Porto, uma conferência de negacionistas do clima que desagradou
bastante à maioria que acredita nos resultados das pesquisas
científicas que vêm comprovando os efeitos do CO2 no aquecimento do planeta.
Ocorre que
a professora de geografia da UP Maria Assunção Araújo, conivente com aqueles
que não acreditam, fez um apelo para a reitoria da universidade ceder espaço
para uma conferência sobre o clima, sem especificar, exatamente, o conteúdo da
reunião. Foi atendida. O título da conferência – “Basic Science of a Changing
Climate” (Ciência Básica sobre Mudança do Clima em tradução literal) não
convidava a se descobrir que ali seriam debatidas questões que divergem das
constatações científicas sobre o tema.
“Nós não
negamos as alterações climáticas. Lutamos é contra a falta de seriedade
científica. Achamos que não há uma explicação simples nem linear para as
variações", defende a professora numa entrevista
ao jornal “O Público”.
Seja como
for, até agora parece que só umas setenta pessoas compareceram ao evento.
Já no resto
do mundo, aqueles que acreditam que uma mudança radical nos métodos de produção
e consumo pode melhorar a qualidade de vida estão se preparando para um
barulhaço no fim de semana. Segundo o site dos que estão organizando o evento,
haverá manifestações na Alemanha por mais desinvestimento; grandes palestras e
comícios em outras cidades europeias e mulheres que vão marchar, na Ásia,
pedindo uma política pública que elimine o carvão usado como energia. E mais
protestos poderão ser vistos e ouvidos nas ilhas do Pacífico, na África, na
Tailândia.
Abre-se,
desta forma, uma série de eventos em prol do meio ambiente que já vão deixando
caminho preparado para a reunião de Ação Climática Global que vai acontecer de
12 a 14 de setembro em São Francisco, na Califórnia. Para esta reunião estão
sendo esperados políticos e pensadores influentes.
Num artigo escrito para o site da
Conferência, a
Secretária Executiva das Nações Unidas, Christiana Figueres, diz que esta
reunião vai mostrar a vanguarda da ação climática local e regional e “uma
plataforma para novos compromissos que acelerem a transformação de baixo
carbono que está em andamento”. Figueres tem um discurso otimista, diz que a
previsão é de que a produção de energia renovável esteja mais barata do que os
combustíveis fósseis até 2020.
“Tempo é
essencial. Como temos sido rudemente lembrados neste verão, não há mais espaço
na atmosfera para nossa poluição por carbono. A partir de 2020, as emissões
globais anuais de gases de efeito estufa precisam ser metade do que eram na
década anterior. A boa notícia é que países e líderes que entendem a
necessidade de velocidade estão acelerando sua ação climática e também
acelerando seu crescimento. Uma nova revolução industrial está sobre nós, uma
que coloca o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental em condições
equitativas. Aquele que entende que a saúde e o equilíbrio ecológicos são
intrínsecos ao bem-estar e prosperidade a longo prazo. Aqueles que abraçam essa
mudança acabarão ganhando a corrida”, escreveu ela.
Na época da
Guerra Fria, uma frase soava sempre que se queria dizer que um plano daria
certo se a outra parte envolvida , muitas vezes adversária, aceitasse embarcar
na ideia. Lembrei-me dela e acho que pode ser uma boa conclusão para a minha
reflexão num feriado tão conturbado: “Agora, só falta combinar com os russos”.
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