Notícias
sobre a relação às vezes muito perigosa entre homem e natureza
10/09/2018
10h10 Atualizado há 35 minutos
Seria um
exagero dizer que o mundo todo se levantou ontem (9) para marchar contra os
abusos cometidos contra a natureza. Estava programado, sim, um barulhaço, a
Marcha Mundial do Clima. No site da organização que pensou o evento, há fotos
de pessoas em várias capitais europeias, nas Filipinas, em Nova York. Foram 95
países em sete continentes, com 900 ações para chamar atenção.
A mensagem
dos organizadores é otimista:
“Juntos,
eles (os manifestantes) mostraram ao mundo como é a verdadeira liderança
climática. As pessoas em todos os lugares estão se afastando da era dos
combustíveis fósseis e é hora de os políticos seguirem. Não há tempo a perder”.
Corri os
sites de notícias sobre o meio ambiente e, em vez de boas, trago motivos para
reflexão sobre o velho imbróglio entre métodos de produção e a natureza, onde o
meio ambiente continua sendo agredido. Como uma espécie de resposta, estão
chegando ao Oceano Altântico mais dois furacões, Florence e
Helene, que
certamente causarão destruição.
Vejam
alguns exemplos do “business as usual” que precisa entrar na agenda de
políticos para ser modificado, repensado. Foram citados no site de notícias
sobre meio ambiente Mongabay.
- No Sul do
Chile, mais de 600 mil salmões estão agora soltos, no mar aberto, depois que
uma tempestade atingiu as gaiolas onde os peixes são criados, alimentados, para
depois servirem de alimento aos humanos. O problema disso é que o salmão é um
peixe carnívoro e não faz parte daquele ecossistema. Uma vez no mar, ele vai
tentar se alimentar e isto vai causar um impacto tremendo nos peixes nativos e
nos ecossistemas da Patagônia, que são particularmente vulneráveis, com muitas
espécies endêmicas frágeis. Grande parte da indústria do salmão do país está
localizada nesta região sul.
- Em
dezembro de 2016, China e Hong Kong, dois dos principais mercados de marfim do
mundo, anunciaram seu compromisso de fechar todo o comércio doméstico de
marfim. A China implementou uma proibição total no final de 2017, tornando
ilegal vender ou processar marfim no país. Hong Kong anunciou que eliminaria
completamente o comércio doméstico de marfim até 2021, dando aos comerciantes
um período de carência de cinco anos para vender o restante do marfim. O que
está acontecendo é que, em vez de livrar os elefantes da barbárie cometida
contra eles – morrem para ceder uma parte pequena do corpo para enfeitar os
humanos – todos estão comprando em Hong Kong.
- Dados
recentes mostram que os países tropicais perderam 158 mil quilômetros quadrados
(39 milhões de acres) de cobertura florestal em 2017. Este número é o segundo
maior desde que este conjunto dedados começou a ser apurado, em 2001. E
significa uma área do tamanho de Bangladesh.
- O Brasil
foi o país que mais perdeu cobertura florestal entre todos os países tropicais,
uma reversão das reduções de desmatamento que vinham ocorrendo nos últimos 14
anos.
A perda de cobertura florestal também aumentou dramaticamente na
República Democrática do Congo e na Colômbia. O desmatamento na Amazônia
brasileira continua a se elevar, relata o Imazon, ONG que acompanha de maneira independente os
desdobramentos na maior floresta tropical da Terra. Segundo os dados
recentemente publicados, 778 quilômetros quadrados de floresta foram desmatados
em julho, um aumento de 43% em relação ao ano anterior. Mas as descobertas do
Imazon contrastam com dados oficiais da agência nacional de pesquisa espacial
do Brasil, o INPE, que mostra uma linha de tendência comparativamente plana.
Por outro
lado, algumas lutas que a sociedade civil vem travando contra as barbaridades
cometidas por grandes corporações contra o meio ambiente estão progredindo. A
empresa de mineração Banks Group, por exemplo, está enfrentando resistência de
respeito com seu projeto em
Pont Valley, no Reino Unido. Os moradores do local afirmam que a vida selvagem estará letalmente
comprometida caso comecem a perfurar a região. Um juiz já decidiu a favor de
transformar a região numa espécie de Unidade de Conservação.
“É uma
oportunidade única para estabelecer um precedente legal e fazer com que o nosso
governo aja de forma responsável quando há tanto em jogo pela vida selvagem e
pelo clima”, diz June Davison, moradora e ativista, no site que criou para atualizar as
pessoas sobre os passos da campanha.
Do poder
público também não se consegue muitos avanços no sentido de preservar o
ambiente em que se vive. Enquanto a Califórnia queima num incêndio florestal –
mais um – de imensas proporções, o que faz o secretário do Interior dos Estados
Unidos? Culpa os
ambientalistas!Sim,
disse que ficam exagerando nessa convocação para fazer manejo florestal, o que
acaba juntando madeira demais, algo assim.
"A
América é melhor do que permitir que esses grupos radicais controlem o diálogo
sobre a mudança climática", disse Zinke à KCRA, uma estação de TV no norte
da Califórnia, no domingo.
“Ambientalistas extremos fecharam o acesso público.
Eles falam sobre o habitat e, no entanto, estão dispostos a queimá-lo ”.
Zinke não
falou sozinho, é claro. Há um mês, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump
revelou, num tweet, os incêndios foram “agravados pelas más leis ambientais que
não permitem que quantidades massivas de água prontamente disponível sejam
adequadamente utilizadas”. A alegação, referindo-se a disputas de décadas sobre
os direitos à água na Califórnia, foi mal recebida pela população, até porque
os bombeiros não estão lutando contra a escassez de água. A Casa Branca ainda
tem que oferecer uma resposta ou explicação.
De fato,
fica mais difícil empreender ações em respeito ao meio ambiente quando o país
mais rico do mundo se nega a acreditar que as mudanças do clima poderiam ser
revertidas, pelo menos amenizadas, com um consumo mais consciente. Por isso
mesmo. é cada vez mais necessário. Daqui a dois meses, no início de dezembro,
vai acontecer a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC), informalmente chamada de COP24. Será
na Polônia.
É uma mega
reunião, anual, com todos os países membros, prática adotada na Rio92, com o
objetivo de: “evitar a interferência humana perigosa no sistema climático”.
Quando foi pensada, lá atrás, os congressistas no Rio podem ter achado que este
objetivo seria alcançado sem problemas. Não foi assim, não está sendo assim.
Mas muita coisa já foi alcançada, e é importante que se continue a batalha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário