quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Alertas de ativistas foram ignorados no licenciamento da barragem da Vale


crime ambiental

Alertas de ativistas foram ignorados no licenciamento da barragem da Vale

Representantes dos movimentos alegam que o desastre poderia ter sido evitado. Eles falaram sobre os riscos com o Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais e o Ministério Público
por Redação RBA publicado 29/01/2019 14h20, última modificação 29/01/2019 14h42
MÍDIA NINJA
 
Tragédia de Brumadinho
Ao menos 60 pessoas foram mortas soterradas, além de 290 pessoas desaparecidas no interior de Minas Gerais

São Paulo – Movimentos sociais e de ambientalistas pedem a responsabilização da Vale pelo rompimento da barragem de rejeitos na Mina Córrego do Feijão, operada pela empresa em Brumadinho, Minas Gerais. Os representantes dos movimentos alegam que o desastre poderia ter sido evitado, uma vez que fizeram alertas ao Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais e ao Ministério Público.

Ao menos 65 pessoas foram mortas e são mais de 290 pessoas desaparecidas. De acordo com Ricardo Oliveira, membro do Movimento Águas e Serras de Casa Branca, organização social que luta pela conservação ambiental na região, aponta que os alertas do movimento quanto à segurança da barragem nunca foram ouvidos. "Nós estávamos numa luta solitária, inglória. Íamos nas manifestações, fazíamos materiais, mas os funcionários da Vale riam da gente. Não éramos ouvidos, o próprio Judiciário é muito lento para criar esse diálogo", conta à repórter Beatriz Drague Ramos, na Rádio Brasil Atual.


Maria Dalce Ricas, superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente, acredita que as barragens devem ser imediatamente proibidas em todo país e estimulada uma nova tecnologia, com menor impacto ambiental. "O setor minerário está atrasado na forma de buscar soluções menos impactantes na extração do minério. É preciso avançar, é muito errado achar que vai se resolver só com multas e fiscalização", diz em entrevista à repórter Beatriz Drague Ramos.


O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) está prestando auxílio psicossocial e informando as pessoas atingidas pela tragédia sobre seus direitos. Gilberto Cervinski, membro do diretório nacional do MAB, afirma que as multas aplicadas em Mariana foram suspensas. "Assim que o período de divulgação da tragédia passa, a empresa faz uma desarticulação das famílias para não indenizar e ter o perdão das dívidas. Isso aconteceu em Mariana. As famílias que perderam as casas, até hoje estão morando de aluguel, sem que nenhuma casa fosse construída", critica.


Para Maria Dalce, a flexibilização das leis ambientais também representa uma ameaça ao meio ambiente e às populações locais, como o Projeto de Lei 3729/04, que tem o deputado Mauro Pereira (PMDB-RS) como relator. A proposta dispensa o licenciamento para atividades agropecuárias e cria a modalidade autodeclaratória. Ela também cita um projeto do ex-governador Fernando Pimentel (PT), de 2015, que retira a competência deliberativa do Conselho Estadual de Política Ambiental sobre processos de licenciamento considerados de grande e médio portes.


"Na nossa opinião, por pior que seja o colegiado, é melhor do que deixar a competência a cargo de uma pessoa só. A transparência do colegiado é maior também. O maior fantasma é o PL do deputado, que acaba com o licenciamento ambiental do país", acrescenta.

Por meio de nota, a Vale reiterou a intenção de permanecer contribuindo com as investigações e anunciou um plano para criar novo padrão de segurança nas barragens.

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