terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Valor Econômico – Resistência de insetos desafia a indústria de biotecnologia


Por Fernando Lopes | De São Paulo
Claudio Belli/ValorAdriana Brondani, diretora-executiva do CIB: é preciso preservar a tecnologia

A redução do ritmo de lançamentos de eventos tecnologicamente inovadores e o relaxamento dos agricultores com práticas de manejo ainda importantes para minimizar os danos causados por insetos às lavouras estão prejudicando a produtividade proporcionada pelas sementes transgênicas de milho, no Brasil e em outros países produtores do grão.

O alerta vem do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), que acaba de concluir um amplo trabalho sobre o avanço dos organismos geneticamente modificados (OGMs) em lavouras de soja, milho e algodão do país entre 2005 e 2018. Segundo a entidade, a discussão se torna especialmente relevante diante dos relatos de crescimento da população de insetos resistentes às proteínas Bt, o que põe em risco a eficiência da tecnologia.

Adriana Brondani, diretora-executiva do CIB lembra que, atualmente, no caso do milho, os eventos em desenvolvimento são combinações das mesmas proteínas. E ela não acredita que haverá "novidades de peso" no mercado nos próximos dez anos. "Os produtos disponíveis têm mais de uma década. A eficácia acaba caindo", afirmou. "Nesse contexto, os produtores têm que entender que a tecnologia deve ser preservada e respeitar questões relacionadas ao manejo, principalmente no estabelecimento de áreas de refúgio".

Nas áreas de refúgio, não é permitido o plantio de sementes Bt, justamente para não facilitar que os insetos se tornem resistentes. Segundo Adriana, o refúgio tem que ser encarado pelo agricultores como uma medida fitossanitária capaz de proteger sua própria área e de seus vizinhos. "Muitas vezes, contudo, essa área de refúgio não é feita, por questões de praticidade".

Segundo o International Service for the Acquisition of Agri-biotech applications (ISAAA), há no mundo 289 eventos resistentes a insetos aprovados em mais de 20 países, que ocupam 101 milhões de hectares. Soja, milho e algodão representam 100 milhões de hectares. São 251 eventos dessas três culturas, a maior parte de milho. No Brasil, a aprovação para o plantio de sementes contendo genes que conferem resistência a insetos foi em 2005. A estreia foi com algodão, e as primeiras liberações para milho foram em 2007 e para a soja, em 2010.

De acordo com dados da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), existem no Brasil, hoje, 48 eventos aprovados que conferem às plantas a característica de resistência a insetos, isoladamente ou combinada com outras tecnologias, como tolerância a herbicidas. Segundo Adriana, os eventos de algodão não enfrentam os mesmos problemas de resistência do milho, em parte porque as áreas de produção da cultura são bem menores que as do milho.

Segundo o estudo "Impactos econômicos e socioambientais da tecnologia de plantas resistentes a insetos no Brasil: análise histórica, perspectivas e desafios futuros", realizado pelo CIB em parceria com a Agroconsult, a adoção de tais eventos permitiram que fossem produzidas 55,4 milhões de toneladas a mais de soja, milho e algodão no Brasil entre 2005 e 2018. Nos próximos dez anos, a expectativa é que esse volume adicional supere 100 milhões de toneladas.

Pelo aumento da produção e economias em tratos culturais e mesmo com defensivos, o estudo aponta que os produtores tiveram lucro adicional de R$ 21,5 bilhões entre 2005 e 2008. Na safra passada (2017/18), a taxa de adoção de plantas resistentes a insetos no Brasil chega a 62% para no caso da soja, 79% para o milho e 83% para o algodão. A área cultivada total chegou a 36 milhões de hectares na temporada.

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