terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Os "atrasos" da TERRACAP.


Noroeste sem rumo-


Leonardo Mundim-Jornal de Brasilia
Em junho/2011 o jornalista Jim Yardley, especialista em Ásia, escreveu um artigo para o The New York Times concluindo que “o crescimento na Índia ocorre apesar do governo, e não por causa dele.”.
O texto mencionava o esforço da sociedade indiana para evoluir, a disposição de seus cidadãos para investir e acreditar, e o enfrentamento diário da falta de empenho governamental na solução de problemas que obstaculizavam o desenvolvimento. 
É esse o cenário que, lamentavelmente, parece vigorar atualmente no Setor Noroeste de Brasília. Propalado e festejado outrora como um bairro organizado e ambientalmente equilibrado, a realidade atual é bem diferente. No memorial de loteamento da 1a etapa do Setor Noroeste, registrado em cartório em 16/09/2008 (nos R.12/56465 e R.1/105263 a 105544, do 2o Ofício de Registro de Imóveis do DF), a Terracap apresentou um “cronograma de obras” e assumiu o compromisso por escrito de promover a urbanização a tempo, dando como garantia disso o próprio Orçamento Anual da empresa pública. 
Segundo o cronograma – repita-se: feito pela própria Terracap –, toda a drenagem pluvial da 1a etapa deveria estar pronta até fevereiro/2010; o abastecimento de água potável até março/2010; o esgotamento sanitário até setembro/2010; e o sistema de distribuição de energia elétrica, bem como a pavimentação integral das vias internas, até maio/2011. 
Mas um simples passeio pelo bairro evidencia a ausência de boa parte da iluminação pública, estradas de chão batido, falta de placas de trânsito e de endereço, e até moradores pagando caminhões-pipa para conseguirem água, dentre outros problemas. 
O parque ecológico também está atrasado, além de vários itens descumpridos que constam da Licença de Instalação do bairro, expedida pelo IBAMA. Vale lembrar que a Lei nº 6.766/1979, que rege os loteamentos, diz que a infraestrutura deve ser executada rigorosamente no prazo do cronograma registrado em cartório, e que o tempo para conclusão total não pode ultrapassar quatro anos – no caso da 1a etapa do Setor Noroeste, já transcorreram cinco anos e meio, e existe apenas uma perspectiva meramente documental de que seja finalizada até dezembro/2014. O custo médio do metro quadrado na região, que em 2011 chegou a R$10.500,00, hoje está em torno de R$8.500,00 – o que tem provocado um recorde de distratos imobiliários, com prejuízo para os dois lados: o consumidor, que pode perder, segundo o Superior Tribunal de Justiça, até 25% do valor das prestações pagas; e a incorporadora, que é obrigada a devolver o saldo remanescente de uma só vez, afetando o planejamento financeiro empresarial. 
Não se pode taxar o Setor Noroeste de fiasco: esta seria uma avaliação precipitada e pessimista. Mas a Terracap, que acaba de vender os terrenos da 2a etapa, precisa retomar imediatamente a priorização de recursos para a infraestrutura local, evitando prejuízo para milhares de consumidores que têm investido suas economias, embalados pelo sonho de um bairro que continua, até agora, uma promessa descumprida.

Leonardo Mundim- Presidente da Comissão de Direito Imobliario da OAB/DF 


Nenhum comentário: