A vida de um leitor sem carro
DANILO VENTICINQUE
14/01/2014 07h48
- Atualizado em
14/01/2014 14h21
Kindle
Tenho visto mais leitores em minhas andanças de trem, ônibus e metrô.
Por enquanto, é só uma impressão. Não encontrei nenhuma pesquisa recente
sobre o aumento no índice de leitura entre usuários de transporte
público em São Paulo. Talvez os números desmintam meu palpite. Mas que
há leitores, há. Antes era comum entrar num vagão e não ver um livro
sequer. Os leitores continuam sendo uma minoria, mas hoje em dia é comum
deparar com passageiros carregando livros. Quando conseguem sentar, a
leitura é mais fácil. Mas há quem leia até de pé, sacolejando entre uma
página e outra. Já vi de tudo: de Dostoiévski a Dan Brown, de textos
acadêmicos a manuais de autoajuda.
Para garantir que eu não estava delirando, conversei sobre o assunto com alguns amigos e colegas que também usam transporte público. Aparentemente estou são: eles concordam. Um deles me apresentou à hashtag #temmaisgentelendo, usada no Twitter e no Instagram para divulgar fotos de pessoas lendo livros no ônibus, no metrô, no trem ou em outros espaços públicos. Vi mais de cem fotos. Não chegamos nem perto de outras grandes capitais do mundo, onde os leitores às vezes são maioria. Mas estamos melhorando. Talvez o sucesso das máquinas que vendem livros a preços populares nas estações ajudaram os passageiros a despertar para a leitura, e descobrir nela o jeito mais agradável de aproveitar o tempo que gastamos no deslocamento entre casa e trabalho.
Desisti de ter carro em São Paulo há seis meses, antes que o trânsito me enlouquecesse. Demoro meia hora a mais para chegar no trabalho e, como todo usuário de transporte público, passo alguns apertos quando preciso andar em horários de pico. Mas troquei o estresse de dirigir um carro na cidade pelo prazer de ler um pouco todas as manhãs e noites. Para leitores sem tempo, é uma maneira de garantir ao menos alguns minutos de leitura mesmo nos dias mais corridos. Quem já experimentou sabe que os minutos, somados, se transformam em livros inteiros.
Para garantir que eu não estava delirando, conversei sobre o assunto com alguns amigos e colegas que também usam transporte público. Aparentemente estou são: eles concordam. Um deles me apresentou à hashtag #temmaisgentelendo, usada no Twitter e no Instagram para divulgar fotos de pessoas lendo livros no ônibus, no metrô, no trem ou em outros espaços públicos. Vi mais de cem fotos. Não chegamos nem perto de outras grandes capitais do mundo, onde os leitores às vezes são maioria. Mas estamos melhorando. Talvez o sucesso das máquinas que vendem livros a preços populares nas estações ajudaram os passageiros a despertar para a leitura, e descobrir nela o jeito mais agradável de aproveitar o tempo que gastamos no deslocamento entre casa e trabalho.
Desisti de ter carro em São Paulo há seis meses, antes que o trânsito me enlouquecesse. Demoro meia hora a mais para chegar no trabalho e, como todo usuário de transporte público, passo alguns apertos quando preciso andar em horários de pico. Mas troquei o estresse de dirigir um carro na cidade pelo prazer de ler um pouco todas as manhãs e noites. Para leitores sem tempo, é uma maneira de garantir ao menos alguns minutos de leitura mesmo nos dias mais corridos. Quem já experimentou sabe que os minutos, somados, se transformam em livros inteiros.
Ontem vi uma tirinha sobre o assunto no jornal. Um personagem tentava abrir um livro no meio de um ônibus lotado, ouvindo o barulho de um vendedor ambulante. Abaixo dele, a legenda: “Quem não entende por que se lê menos no transporte público brasileiro nunca usou o transporte público brasileiro.” Ri menos pela piada e mais por discordar completamente dela: perdi a conta de quantas vezes aproveitei meu tempo no transporte público para ler o jornal. Naquele dia, por coincidência, preferi ler um livro. Mas poderia muito bem ter lido, num trem lotado e em meio aos gritos de vendedores ambulantes, aquela tirinha que dizia que a leitura era impossível nessas circunstâncias. Bobagem. Nunca vi alguém que tenha levado um livro para ler no ônibus mas, diante da bagunça, tenha decidido deixá-lo na guardado e passar o tempo jogando Candy Crush ou mandando mensagens no WhatsApp. Quem tem o hábito de ler é capaz de ler em qualquer lugar – até no ônibus lotado.
Ler sentado, como já sabemos, não exige nenhum esforço. Com um pouco de prática, não é difícil conseguir ler de pé. Alguns leitores se apoiam nas paredes, perto da porta do metrô. Outros se apoiam nas barras com uma mão e seguram o livro com a outra. Virar as páginas pode ser difícil, mas é um obstáculo superável. Repito o que já disse em outra coluna: se é para cair no chão, caia como um leitor. Os e-readers são uma boa alternativa para quem acha desconfortável segurar um livro no ônibus. Até quem prefere ficar no celular tem opções: tanto o Kindle quanto o Kobo têm ótimos aplicativos para iPhone e Android. São opções confortáveis e discretas para colocar a leitura em dia.
As reclamações sobre o transporte público no país existem há décadas. São quase tão antigas quanto os baixos índices de leitura. Esperar o transporte público melhorar para começar a ler nele seria uma forma desastrosa de lidar com os dois problemas. Por que não começar agora? Mesmo que falte conforto, ler é uma ótima maneira de aproveitar o tempo, e uma distração nos momentos de aperto.
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