- São Paulo
Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil
“Não dá para fugir de dizer que a política de álcool e drogas no município é para redução de danos. Não significa que o município não precise de internação. Precisa, sim, mas deve ser curta”, avaliou a médica Myres Maria Cavalcante, coordenadora da área de Saúde Mental, Álcool e Drogas da Secretaria de Saúde do município. Ela destaca que os protocolos médicos orientam que, quanto menos tempo o paciente ficar em hospital, melhor. “Isso vale para qualquer área, doenças físicas, como câncer, e para a mente”, reforçou.
A coordenadora da área na secretaria de Saúde do estado, Rosangela Elias, concorda que o trabalho conjunto é conflituoso. “A diferença conceitual está vinculada à forma do atendimento, à metodologia da atenção, mas o foco da gente é o cuidado com o indivíduo. Temos que nos preocupar em criar consensos”, apontou.
O Programa Recomeço, do governo do estado, dispõe de 2,3 mil vagas em leitos hospitalares e comunidades terapêuticas. De acordo com a secretaria, no ano passado, 84% das internações foram voluntárias, apenas uma foi compulsória e o restante involuntária, com a aprovação da família.
O programa da prefeitura acolhe dependentes químicos em hotéis da região central e oferece uma bolsa para que eles trabalhem no serviço de limpeza de ruas, calçadas e praças no centro da cidade. Cada usuário recebe um salário mínimo e meio, que inclui os gastos com alimentação, hospedagem, além de R$ 15 por dia de trabalho. Os dependentes foram retirados da favela instalada na Alameda Dino Bueno, na região da Cracolândia.
O psicanalista Antônio Lancetti, que presta consultoria ao programa municipal, discorda do sistema de internação. “Ela vem sendo tentada há muito tempo e não funciona. O que foi feito aqui [pela prefeitura] é outra coisa, foi uma intervenção no território. A via pública foi liberada com inclusão e não exclusão. Isso faz parte do tratamento”, disse.
Ele destacou que, na ação da Alameda Dino Bueno, os próprios dependentes desmontaram as barracas e aderiram ao programa.
O coordenador do Programa Recomeço, psiquiatra Ronaldo Laranjeira, que é pesquisador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Droga, da Universidade Federal de São Paulo, avalia que os pacientes apresentam necessidade diferentes e, por isso, a internação é necessária. “Não tenho vergonha de falar que este não é um programa de redução de danos. São formas distintas de intervenção que precisam entender e usar da melhor forma possível para cuidar das pessoas”, declarou.
Entre os agentes de saúde presentes, um questionamento recorrente foi a utilização dos programas como estratégia eleitoral e a possibilidade de que eles sejam interrompidos. Foi questionado também se as ações são feitas com vistas à Copa do Mundo, que ocorre em junho deste ano, com a abertura dos jogos em São Paulo.
“Não tem nada a ver com o calendário da Copa. Ela vai passar longe daqui. O trabalho vai além dos jogos. Vocês vão acompanhar”, prometeu Edson Ortega, assessor do governador Geraldo Alckmin. O secretário adjunto da secretaria de Saúde, Paulo de Tarso Puccini, garantiu que a ação municipal não será temporária.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que participou da abertura do encontro, destacou que o problema da dependência química não pode ser enfrentado de forma isolada. “Ninguém vai conseguir combater a realidade com tentativas solitárias. Os três níveis de governo devem atuar juntos”, disse.
Ele destacou que neste ano a capital paulista vai receber R$ 256 milhões a mais de recursos para “abrir mais Centros de Atenção Psicossocial, apoiar as iniciativas de internação do governo do estado e consultórios de rua”.
Policiais civis de SP são suspeitos de comandar tráfico na cracolândia
Ontem, em busca de informações sobre esses policiais, agentes em um carro da Corregedoria da Polícia Civil acompanharam à distância a operação na região.
A Folha apurou que a prisão desses policiais deve ser acelerada porque a presença desse veículo foi notada, o que pode provocar a fuga dos dois suspeitos.
A Polícia Civil confirmou que um carro da Corregedoria esteve no local. Disse, porém, que o órgão foi acionado pelos usuários da cracolândia, durante a ação policial, por causa de supostos excessos.
A operação na cracolândia visava prender traficantes, segundo o Denarc.
A reportagem apurou que, para a cúpula da polícia, a prisão desses suspeitos não tem ligação com os policiais corruptos e, por isso, foi apoiada pela diretoria do departamento e pela Secretaria da Segurança Pública.
A pasta divulgou nota atestando que a ação "legítima".
No texto, o governo também reforçou a versão da polícia de que não foram usadas balas de borracha contra os usuários de crack. Vítimas dizem que houve disparos desse tipo de munição.
'DESASTROSA'
"Dez carros da Polícia Civil fecharam a via e fizeram um incursão desastrosa com bala de borracha e bomba", disse o secretário municipal da Segurança Urbana, Roberto Porto, que presenciou a ação da polícia.
A diretora do Denarc, Elaine Biasoli, nega que ação tenha sido desastrada ou que seus policiais tenham utilizado munição de borracha.
Admite o uso apenas de bomba de efeito moral.
"Teve esse confronto por quê? Porque eles vieram para cima. Temos viaturas danificadas, policiais feridos."
Segundo a delegada, as espingardas calibre 12, usadas para disparar balas de borracha, vistas no local estavam descarregadas: "Nós estamos sem bala de borracha. Nós fizemos o pedido, mas elas ainda não chegaram. [A espingarda] Era só para intimidar".
A delegada rebateu as críticas feitas pelo prefeito Fernando Haddad (PT) e negou que operação tenha sido "surpresa".
"Não é operação surpresa. Nós temos ação diária, costumeira, rotineira, na cracolândia. Desde dezembro, prendemos 65 traficantes só na cracolândia."
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