Reinaldo Azevedo
24/01/2014
A Haddadolândia e o Bolsa Crack — São Paulo, a cidade que está sendo fumada
O que
aconteceu nesta quinta-feira no Centro de São Paulo, na Haddadolândia,
ex-Cracolândia, é muito grave. E não me refiro, é evidente, à ação do
Denarc, que prendeu um traficante.
Refiro-me é à rapidez com que os
petistas, setores da imprensa, ONGs e a Al Qaeda eletrônica petralha nas
redes sociais se uniram para criar uma farsa, para inventar uma
história que não existiu, a exemplo do que fizeram há dias com o jovem
Kaíque, que, infelizmente, suicidou-se pulando de um viaduto. Tentaram
criar uma vítima da homofobia. A ministra Maria do Rosário, com
irresponsabilidade peculiar, emitiu uma nota acusando o crime que não
aconteceu. E não se desculpou depois.
No caso da
Haddadolândia, como se sabe, os policiais foram atacados por
dependentes — três se feriram.
Veículos da polícia foram depredados. Foi
chamado o reforço — e é o que tem de ser feito —, e houve confronto. Em
nenhum momento, Fernando Haddad ou seu secretário de Segurança, um
queridinho de setores da imprensa chamado Roberto Porto, lamentaram o
ataque aos policiais.
Ao contrário: a Polícia Civil foi tratada como uma
força invasora; como se tivesse pisado território sagrado; como se
tivesse cruzado a linha que separa o resto da cidade de uma zona livre
para o consumo e o tráfico de drogas.
De maneira
ridícula, patética, assombrosa, Haddad reclamou que a Prefeitura não
fora previamente avisada da operação, reclamação que Roberto Porto
repetiu em entrevista ao Jornal da Globo.
E por que ele deveria?
Que se
saiba, a repressão ao tráfico não é tarefa do município. Na prática, a
atual gestão faz exatamente o contrário: põe mais dinheiro nas mãos de
dependentes.
Em vez de a petezada se mobilizar para vir aqui me ofender,
deveria tentar provar que falo mentira; deveria tentar demonstrar que
distorço os fatos quando digo que Haddad está dando aos consumidores —
que são os clientes dos traficantes — mais dinheiro do que tinham antes.
O Denarc, já deixei claro, não tem de avisar a Prefeitura de coisa
nenhuma. A ex-Cracolândia, atual Haddadolândia, não é um país
independente; não é uma região autônoma, embora Haddad queira fazer
parecer que sim.
A versão
só prosperou porque, quando o assunto é descriminação das drogas e
congêneres — e a Haddadolância é hoje uma cidade em que as drogas foram
descriminadas, e os viciados, estatizados — não há objetividade possível
em amplos setores da imprensa. Aí vários comandos de redação —
incluindo TVs — permitem a mais desabrida militância.
Já está
evidente, leiam os posts abaixo, que o Denarc nada mais fez do que
cumprir a sua função. Reportagem da Folha de hoje informa que há a
suspeita de que policiais do órgão estariam ligados ao tráfico na
região. É? Que a polícia se mobilize para prendê-los. Não há evidência
de que a operação desta quinta tenha relação com isso.
As visitas
Já vivi o bastante para desconfiar de algumas coincidências. Como deixou claro a delegada Elaine Biasoli, a prisão de traficantes na região é frequente — e nem poderia ser diferente: ali estão os consumidores e o dinheiro.
Segundo ela, houve 65 detenções por ali de novembro até 20 de
janeiro. Nesta quinta, no entanto, haviam passado por lá três
capas-pretas do PT: o ministro Alexandre Padilha e os secretários
municipais José de Fillipi Jr. (Saúde) e o já citado Roberto Porto.
Não pensem
que os dependentes estão desconectados do mundo a ponto de não saber o
que se passa. É claro que eles já perceberam que podem contar, sim, com a
Prefeitura — e da pior maneira possível. Haddad resolveu lhes conceder
aquele pedaço da cidade.
Ele está pouco se lixando para quem mora ou
trabalha por ali. Nesta sexta, a Juventude do PT (petista e jovem ao
mesmo tempo??? Que coisa velha!!!) decidiu fazer uma manifestação na
Haddadolândia contra a ação da polícia.
Ora, vocês
já sabem qual é o desdobramento prático disso: os traficantes, que são,
de fato, os que mandam no pedaço vão se sentir ainda mais livres para
enfrentar a polícia. Haddad, ele sim, está criando um gueto; Haddad, ele
sim, está criando uma política de apartheid.
Braços Abertos?
Ridiculamente, setores da imprensa (ver post) endossam a conversa mole de que a ação do Denarc atrapalha o programa De Braços Abertos (o tal que dá salário, comida e casa). Atrapalha em quê?
Os traficantes, então, devem ficar soltos? Haddad, já
firmei aqui, está querendo encontrar uma desculpa para o que é um
fracasso por definição.
Estamos
diante de um caso escancarado de degradação do estado de direito. É
claro que se decidiu, ainda que informalmente, que a Haddadolândica fica
num outro país — num outro mundo, quem sabe… Fico cá a imaginar o que
sentirão os proprietários de imóveis da região quando receberem o carnê
de IPTU, por exemplo. Estarão pagando um imposto à Prefeitura para viver
em meio ao lixo, enquanto o seu patrimônio vai sendo fumado pelos
intocáveis de Fernando Haddad.
Não é só isso: o prefeito está destruindo
um patrimônio material e cultural que é de todos os paulistanos. Na
região e seu entorno — que também vai se degradando —, está a melhor
infraestrutura da cidade. Também ela está virando fumaça, junto com um
pedaço da história da cidade.
É preciso
que se tenha muito claro que, enquanto durar essa política, não há
recuperação possível para aquela área da cidade. Ainda que Haddad perca a
eleição em 2016 — como está longe! —, seu sucessor ou sucessora terá
dificuldades imensas para pôr fim a esse programa irresponsável, pautado
pela má consciência dos oportunistas e pela boa consciência dos
ingênuos.
Por que
Haddad não se muda para a Cracolândia? Se acha que pais e mães, que
moram no Centro da cidade, devem submeter seus filhos àquela rotina, por
que não dá ele próprio o exemplo e leva pra lá a sua família?
Demagogia? Ora, ele já não andou até de ônibus? Mas atenção! Tem de
ficar lá sem escolta armada, como acontece com os demais moradores.
Não deixa
de ser eloquente que, nesta quinta-feira, o primeiro figurão petista a
visitar a Haddadolândia tenha sido justamente Alexandre Padilha, que é o
novo Haddad que Lula tirou do bolso do colete, agora para concorrer ao
governo de São Paulo. Quem sabe venha por aí uma Haddadolândia de
dimensões estaduais, não é?
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