Em campanha no Nordeste, Marina Silva concedeu neste sábado (13) uma entrevista em João Pessoa, na Paraíba . A primeira pergunta foi sobre Lula, que ironizara o fato de a ex-correligionária ter vertido lágrimas ao comentar os ataques avalizados por ele. “Eu decidi que prefiro sofrer uma injustiça do que praticar uma injustiça. Nós queremos fazer a nossa campanha oferecendo a outra face”, declarou Marina.
Mais cedo, Lula dissera, num ato político em São Paulo: “Dona Marina não precisa contar inverdades a meu respeito para chorar. Pode chorar por outros motivos.'' Acrescentara: “Ela é que precisa explicar o motivo de ter nascido e crescido no PT, ter ganhado cargos do PT, e agora fala mal do PT.''
Após reproduzir as aspas de Lula, uma repórter perguntou: esse tipo de colocação lhe choca muito? E Marina: “As críticas que eu fiz foi em relação à propaganda da candidata que hoje está no governo, que usa os 11 minutos de televisão para injustamente me atacar.” Evocando a morte de Eduardo Campos, ela espetou:
“Só depois de morto é que reconheceram o seu valor, suas qualidades e competências. [...] Quando a gente está viva, não são capazes de reconhecer os valores e as qualidades daqueles que porventura até possam estar em campos diferentes, com ideologias e pensamentos diferentes.”
Marina explicou em que consiste a sua decisão de oferecer a outra face: “Para a face da agressão, o respeito. Para a face da mentira, a verdade. Para a face da falta de um programa para debater, o programa que discute saúde, educação, segurança pública, infreaestrutura, apoio à tenologia e inovação. Eu quero oferecer a outra face.”
Prosseguiu: “Ninguem vai me levar para o embate, porque eu, desde sempre, estou dizendo que quero o debate. Eu não vou concorrer utilizando as mesmas armas, os mesmos métodos. Vamos continuar dialogando, queremos unir o Brasil. Estou em paz com a minha consciência, muito tranquila, eu e Beto [Albuquerque, candidato a vice]…”
Marina disse enxergar desespero em seus antagonistas: “Nós estamos felizes, muito felizes com a possibilidade de ganhar. Mas o que eu vejo no programa [eleitoral] da candidatura do PT e do PSDB é o desespero com a possibilidade de perder. É diferente. Quando você luta com o desespero, usa dos meios que às vezes são inaceitáveis. Quando você usa a esperança, o compromisso e a coragem, os meios são totalmente diferentes.”
Arrancou aplausos da claque presente à entrevista ao concluir a resposta à primeira pergunta: “A melhor ferramenta que temos é a mobilização espontânea, amorosa, generosa da sociedade brasileira, que assumiu que quem vai ganhar essa eleição não são as estruturas, é uma nova postura. Vamos continuar com a nova postura, oferecendo a outra face.”
Outra repórter leu para Marina declarações que Dilma Rousseff fizera horas antes. A candidato do PT acusara Marina de vitimizar-se para esquivar-se das críticas. Afirmara também que, para ser presidente, é preciso suportar as pressões. Em sua reposta, Marina enumerou cinco pré-condições que julga necessárias para ser presidente da República:
1. “Para ser presidente é preciso apresentar um programa.”
2. “É preciso ter disposição para o diálogo político.”
3. “É preciso trabalhar com respeito, com a verdade, não com o boato.”
4. “É preciso que se busque a legitimidade necessária, e que não terceirize essa legitimidade (referência à lulodependência de Dilma)”
5. “É necessário que a gente tenha uma visão generosa do mundo, respeitosa, mesmo com os adversários.”
Marina afirmou que sua rival merece dela todo o respeito. “Isso a presidente Dilma tem da nossa parte, e de mim em particular. Ela é a primeira mulher eleita presidente do Brasil. E ela pode ter certeza: eu não vou fazer com ela o que ela está fazendo comigo. Ela vai ter sempre o meu respeito.”
Criticou Dilma e o tucano Aécio Neves por se ocuparem da desqualificação do seu programa sem apresentar suas próprias plataformas de governo. “Infelizmente, até agora, ainda não foi apresentado por parte dos nossos adversários. Nem a presidente Dilma nem o governador Aécio apresentaram um programa. Estão debatendo o nosso programa, dizendo que as nossas propostas precisam ser explicadas. E nós estamos, sim, debatendo, dialogando com as pessoas, explicando cada dúvida e cada mentira que às vezes é contada.”
Concentrado-se em Dilma, Marina lamentou não poder analisar suas propostas. Recordou que sua antagonista já afirmou que não precisa apresentar um programa de governo. “Disse que não vai apresentar e que vai continuar fazendo do mesmo jeito que está fazendo. Significa que, no caso da inflação, é a mesma política. Baixo crescimento, a mesma política. Juros altos, a mesma política…”
Em relação à filosofia que norteia o preenchimento de cargos nas estatais, Marina acusou Dilma de desejar “manter os mesmos critérios que levaram o senhor Paulo Roberto [Costa, preso na Operação Lava Jato] a fazer o que fez com a Petrobras. Isso é o que precisa ser explicado.” Absteve-se de comentar o fato de Eduardo Campos ter sido mencionado pelo delator como suposto beneficiário de propinas provenientes da corrupção na petroleira.
Enganchando versos em sua retórica, Marina comparou-se ao curso de um rio caudaloso: “Do rio que tudo arrasta, se diz que é violento. Porém, não se diz que são violentas as margens que o oprimem. Nesse momento, nós somos um rio que vai em direção ao Brasil melhor que os brasileiros sonham. Quem está cavando o seu leito não somos nós, é a sociedade brasileira. E esta não vai ser freada.”
Na Paraíba, o governador Ricardo Coutinho, candidato à reeleição pelo PSB, coligou-se com o PT. Perguntou-se a Marina se ela não vê contradição entre a aliança paraibana com o petismo e sua pregação em favor da renovação da política. A candidata repisou o discurso de que, se eleita, governará com “os melhores” quadros de cada partido.
“Desde 2010 eu venho dizendo que vamos governar com os melhores do PT, do PSDB, do PMDB, enfim, de todos os partidos. Desconheço políticos que tenham esse pensamento. Nós queremos fazer um realinhamento político. Se nós ganharmos, vamos pegar os melhores, sim, dos partidos, mesmo que insistam que isso não se deve dizer.”
Marina considera paradoxais as críticas dos adversários: “Quando se diz que vai governar com os melhores dos partidos, as pessoas te recriminam como se quisessem que dissesse que vai continuar governando com os piores. Nós queremos os melhores. Eles estão em todos os lugares, pessoas eficientes, competentes, dispostas a trabalhar para melhorar o Brasil, para melhorar o Estado.”
Hospedada no PSB desde que o TSE indeferiu o pedido de registro de sua Rede Sustentabilidade, Marina refutou a acusação de que menospreza as organizações partidárias. “Não temos preconceito contra partido”, afirmou. “Nós não queremos é permitir que eles sejam destruídos por aqueles que, por seus malfeitos, fazem com que a sociedade comece achar que as lideranças políticas, que as instituições políticas não as representam.”
“Ser representado pelo Pedro Simon, com certeza cria uma outra perspectiva para o PMDB”, exemplificou Marina, antes de mencionar um apoiador tóxico . “Ser representado pelo Collor é uma outra coisa. Eu prefiro o PMDB de Simon. Ser representado pelo Cristovam [Buarque] no PDT é uma outra coisa diferente do PDT de [Carlos] Lupi. Eu prefiro o PDT de Cristovam. É diferente.”
Marina disse considerar “engraçado” que sua disposição de aproveitar “os melhores” deixe as pessoas “aborrecidas”. “Eu faço um esforço enorme, ao contrário dos outros políticos, que só vêem defeito nos partidos dos outros, que pegam os piores exemplos para desqualificar os partidos dos outros, eu olho para os partidos e pego os melhores, para que estes sejam o cartão de visitas dos partidos. E me dizem: você está querendo destruir os partidos. Desde quando? Eu quero é que eles se reencontrem com seus princípios, com seus programas, com suas raízes.”
Marina arrematou: “É um discurso perverso, que transforma as coisas grandiosas, as coisas generosas em coisas ruins, em coisas más. Quando a gente chega a esse ponto, alguma coisa deve estar errada. Mas eu vou continuar, simbolicamente, dizendo que eu gostaria muito que o PT de [Eduardo] Suplicy seja reavivado, que tenha uma renda mínima de cidadania, para voltar às suas raízes.”
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