Por Francisco Leali, Eduardo Bresciani e Vinicius
Sassine, no Globo:
As anotações manuscritas apreendidas pela Polícia Federal na
sede da construtora Engevix mostram como as empreiteiras tentaram combinar uma
linha de defesa na tentativa de se livrar das acusações de corrupção na
Petrobras. A direção da Engevix estava convencida de que nem o procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, nem o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal
Federal (STF), teriam coragem de partir para cima das empreiteiras por conta
dos reflexos na condução das principais obras do governo federal. “Janot e
Teori sabem que não podem tomar a decisão. Pode parar o país”, diz a anotação.A Empresa ENGEFIX é quem ganhou a concessão do aeroporto de Brasilia, consorciada com a INFRAMERICA.
Os papéis contêm comentários feitos em reuniões que
começaram em abril, depois da deflagração da operação Lava-Jato. A mais recente
anotação é de 6 de novembro, 8 dias antes de a PF prender os dirigentes das
empreiteiras, entre eles um dos donos da Engevix, Gerson de Mello Almada. O
documento é o que fala de Janot e Teori.
A mesma anotação esboça o que as empreiteiras estavam
dispostas a entregar: pagamento de R$ 1 bilhão e acordo para reconhecer prática
de cartel. E também o que elas não poderiam fazer. Abaixo da palavra “proibido”
está anotado: “delação, depoimento, mérito”. No pé da página está escrito:
Cade, numa referência ao órgão do governo que trata de assuntos comerciais e
atualmente apura justamente a prática de cartel.
As primeiras anotações são de abril deste ano e ainda
mostram um cenário de “certa tranquilidade”. “Talvez na Lava-Jato saímos fora
provavelmente, mas teremos um outro inquérito específico. Tomar uma ação
pró-atividade, se apresentar ou aguardar a chamada no inquérito”, diz o
documento. Já há referência ao “risco alto” envolvendo o lobista Fernando
Baiano, ligado ao PMDB.
No mesmo documento, há registro de que oficialmente a Engevix
deveria atestar que os serviços foram prestados, numa referência aos recursos
que a empreiteira repassou a empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef.
Naquele momento, a empresa acredita também que não estava sendo alvo de grampo
telefônico. Sete dias depois, em 30 de abril, no entanto, uma anotação sugere
que a empresa tinha informação sobre grampos feitos pela Polícia Federal. O
autor da anotação recomenda cuidado. “Escuta telefônica continua, e conversas
mínimas”.
O registro de uma nova reunião no final de maio fala da
abertura de vários inquéritos, diz que o despacho do ministro Teori sobre o
caso (provavelmente solicitando remessa de tudo ao STF) era “ruim” e que a
contestação do juiz Sergio Moro “confusa”. A Engevix ainda comenta a troca de
advogados de Paulo Roberto Costa, que na época ainda não tinha feito a delação
premiada. As anotações registram ainda que uma conversa com procuradores não
rendeu nada e que eles só se ofereceram para tratar de eventual delação.
Ao final atestam o acordo entre as defesas: “montaram o
quadro de todos advogados para ´interfacearem´”. E que ficou sob a
responsabilidade da OAS coordenar “uma arrecadação” e ouvir a opinião “do
Márcio”, provavelmente o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, falecido recentemente
e que de fato coordenou a linha de defesa das empreiteiras.
Em outubro, o registro de uma nova reunião fala que
advogados da empresa foram a Curitiba e que um dos delegados da PF teria
comentado que a Engevix não estava entre as “prioridades” dos investigadores. O
documento encerra com a falta de notícias sobre reuniões com Rogrigo Janot:
“nenhuma noticia sobre as conversas com a PGR”.
No dia 22 de outubro, os manuscritos da Engevix registram
que o procurador-geral deveria cuidar dos “grandes” e que o acordo de leniência
na verdade “não existe”. Seria só para fazer “uma confusão”. Procurada, a
Engevix informou por meio de nota que “prestará os esclarecimentos necessários
à Justiça”. E não deu mais informações.
Por Reinaldo Azevedo
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