(Estadão) A Petrobrás reconheceu que as dificuldades financeiras atuais
podem atrapalhar a continuidade do trabalho de exploração e produção no
pré-sal. Em relatório enviado à agência reguladora do mercado
financeiro dos Estados Unidos, a SEC, a petroleira listou os obstáculos
que terá de enfrentar para cumprir as obrigações com as reservas que já
tem no pré-sal e ainda com as que deverá adquirir no futuro.
A
afirmação faz parte do trecho no qual a estatal elenca os riscos do seu
negócio. Atualmente, a Petrobrás possui reservas de pré-sal em áreas de
concessão - adquiridas em leilões da Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP) -, em cessões do governo e também
participações em área dentro do modelo de partilha, que prevê
investimento mínimo de 30% da estatal.
O formulário 20-F é
obrigatório para todas as empresas de fora dos Estados Unidos que têm
ações negociadas nas bolsas de valores de lá e deve ser entregue
anualmente. As ações da Petrobrás são negociadas por meio de ADRs -
título que representa as ações de empresas de fora dos EUA. A SEC criou o
documento para padronizar as informações sobre as companhias
estrangeiras.
Uma das determinações do documento é elencar
"fatores de risco" para investidores. Nesse trecho, a petroleira admite
que poderá ter dificuldade de assumir o compromisso de investir no
pré-sal. Para vencer os desafios, segundo a estatal, será preciso
levantar um volume significativo de capital, de diversas fontes de
financiamento.
A empresa declarou também que a limitação
financeira pode prejudicar sua capacidade de pagamento aos credores no
prazo, já que o fluxo de caixa das operações é atualmente insuficiente
para financiar o aumento de gastos de capital planejado e as obrigações
da dívida. Além disso, afirma que qualquer novo
rebaixamento da classificação de crédito pode ter consequências
negativas sobre a capacidade de obter financiamentos ou refletir nos
seus custos. "Um novo rebaixamento do rating de crédito da companhia
pode resultar em um mercado menos líquido", diz um trecho.
No
documento enviado à SEC, a empresa ainda enumera outras dificuldades
que poderão atrapalhar o andamento da atividade exploratória. Segundo a
empresa, alguns custos são incertos e fogem ao controle por uma série de
fatores, como a demanda internacional por equipamentos de perfuração,
que elevam os preços de afretamento das sondas.
Além disso,
diz a Petrobrás, a expectativa é de aumento dos lances que deverão ser
feitos por companhias petroleiras nos leilões da ANP. Para aumentar as
suas reservas e manter o patamar de produção, a companhia é obrigada a
obter novas áreas exploratórias nas licitações da agência.
Daqui
para frente, prevê, a expectativa é de um ambiente mais competitivo,
que deve repercutir em lances mais elevados nos leilões.
A
situação financeira, que já era uma preocupação de analistas e
investidores antes mesmo de a Petrobrás ser envolvida em casos de
corrupção pela operação da Lava Jato, deixa a companhia numa
encruzilhada. Com dívida líquida de R$ 332,457 bilhões, a estatal é a
mais endividada das grandes petroleiras.
Medidas. Sem
poder tomar muito mais empréstimos para levantar recursos e diante da
necessidade de arcar com pesados investimentos - sobretudo os
obrigatórios do pré-sal -, a nova diretoria tem como objetivo fazer uma
"limpeza financeira".
Foram anunciados um corte nos
investimentos, que cairão para US$ 29 bilhões neste ano e US$ 25 bilhões
em 2016, uma meta de vender US$ 13,7 bilhões em ativos nos dois anos e
empréstimos pontuais - primeiro, US$ 3,5 bilhões com o Banco de
Desenvolvimento da China, depois R$ 18,7 bilhões com Caixa, Banco do
Brasil, Bradesco e o britânico Standard Chartered.
Sobre a
política de preços dos combustíveis, a Petrobrás informou no documento
que deve ter dificuldade de compensar as perdas registradas de 2010 a
2014, período em que praticou preços de gasolina e óleo diesel mais
baixos do que os pagos na importação desses produtos. Em parte, a
estatal foi obrigada a se endividar porque deixou de gerar caixa com a
venda de combustíveis.
Desde o ano passado, a situação se
inverteu e os preços internos estão superiores à cotação internacional.
Esse cenário deve se estender por mais tempo para que a empresa consiga
reverter a perda anterior. "Baseado nas decisões do governo
federal e acionistas, nós devemos continuar a ter períodos em que os
preços dos nossos produtos não estarão em linha com os preços dos
produtos internacionais", diz o relatório.
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