(Folha) Documentos anexados em disputas judiciais sugerem que a construtora OAS,
investigada na Operação Lava Jato, favoreceu a cunhada do ex-diretor de
finanças do PT João Vaccari Neto em uma transação imobiliária. O caso
envolve um apartamento comprado e vendido por Marice Correa de Lima no
edifício Solaris, no Guarujá (SP).
O prédio --onde o ex-presidente Lula é dono de uma cobertura-- foi
lançado pela Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários) em 2003.
Mas a obra parou com o colapso da cooperativa, que foi presidida por
Vaccari entre 2004 e 2010.
Em 2009, quando incorporou o Solaris, a OAS ofereceu aos mutuários as
seguintes opções: pagamento de valor extra para receber as chaves quando
a obra fosse concluída ou ressarcimento dos valores pagos à Bancoop em
36 prestações. A primeira parcela da devolução só seria paga 12 meses
após o distrato.
Registros oficiais mostram que Marice pagou, entre 2011 e 2012, R$ 200
mil pelo imóvel em construção. Em 2013, ela fez o distrato e recebeu R$
432 mil da OAS, à vista, um ganho de 116% em um ano. Meses depois, a OAS
revendeu o imóvel por R$ 337 mil. O tratamento destoa do oferecido a outros compradores no mesmo prédio.
Na disputa que trava com a OAS na Justiça, Eliana Vaz de Lima, outra
mutuária, diz que em 2009 já havia pago R$ 213 mil por um imóvel no
Solaris. Ela possui e-mails de 2013 em que a OAS oferece a ela a
possibilidade de devolução de R$ 234 mil. Ou seja, uma correção de 9,9%
em quatro anos. O valor seria devolvido em 36 parcelas, começando um ano após a assinatura do acordo para encerrar a disputa.
METADE DO VALOR
Outra comparação que sugere favorecimento da OAS para a cunhada de
Vaccari é com a compradora do apartamento 64-A do Solaris, a bancária
Luciane Giogo Galvão. Luciane diz ter pago todas as parcelas do contrato com a Bancoop. Ela
buscava financiamento para pagar o extra pedido pela OAS para entrega
das chaves quando a construtora realizou o distrato unilateral e, em
janeiro, vendeu o imóvel a outra pessoa.
Na ação de recuperação judicial da empreiteira na 1ª Vara de Falências
de São Paulo, a OAS reconhece que deve a Luciane R$ 194 mil. Ou seja:
menos da metade do que pagou, dois anos antes, a Marice por um imóvel
idêntico. Vaccari e Marice foram citados pelo doleiro Alberto Youssef,
delator da
Lava Jato, como intermediários de suborno pago pela OAS ao PT. As
transações no edifício Solaris levantaram suspeitas de que serviam, na
verdade, para camuflar propina.
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