A
força-tarefa da operação Lava Jato já tem fortes indícios de que o
esquema vigente no petrolão foi reproduzido também no mercado do
pré-sal. Afinal, onde tem petista, tem maracutaia:
Um
ano e dois meses depois de deflagrada a Operação Lava Jato, a
força-tarefa responsável pela investigação da corrupção na Petrobrás
acredita já ter reunido indícios para tentar comprovar que o esquema de
desvios nos contratos de construção de refinarias da estatal foi também
reproduzido no mercado do pré-sal.
São obras de plataformas, construção e locação de navios e sondas de
perfuração para exploração de petróleo - a maior parte deles vigente -
que envolvem volume de investimentos público e privado superior aos
projetos até agora sob escopo da operação.
No foco atual dos procuradores e delegados da Polícia Federal estão
contratos da Sete Brasil - empresa criada pela Petrobrás em parceria com
fundos de pensão públicos e privados e com três bancos - com cinco
estaleiros para a construção, no País, de 29 sondas de exploração no
fundo do mar. Esses contratos somam US$ 25,5 bilhões.
As empresas que compõem esses estaleiros são, em boa parte, as mesmas
já suspeitas de formar um cartel e pagar propinas nos contratos das
refinarias.
O estaleiro Atlântico Sul, controlado pela Camargo Corrêa, pela
Queiroz Galvão e por investidores japoneses, é responsável pela
construção de 7 sondas. O estaleiro Brasfels, do grupo estrangeiro
Kepell Fels, de Cingapura, é responsável por 6 sondas. O estaleiro
Jurong, controlado pelo grupo estrangeiro SembCorp Marine, também de
Cingapura, é responsável por outras 7 sondas. O estaleiro Enseada do
Paraguaçu, controlado por Odebrecht, OAS, UTC e o grupo japonês
Kawasaki, é responsável por mais 6 sondas. Por fim, o estaleiro Rio
Grande, controlado pela Engevix, é responsável pela construção de 3
sondas.
O empresário Milton Pascowitch, preso na semana passada sob suspeita
de operar propinas para o PT - ele fez pagamentos à consultoria do
ex-ministro da Casa Civil condenado no mensalão, José Dirceu -, atuava
para o estaleiro Rio Grande, da Engevix. Sua prisão já é resultado do
aprofundamento das investigações em relação aos contratos do pré-sal.
Espelho. As
ações penais referentes às obras de construção de refinarias já
apresentadas pela força-tarefa da Lava Jato trazem o seguinte roteiro:
as empreiteiras se reuniam num cartel para dividir os contratos; pagavam
propina que variava de 1% a 3% a operadores por meio de contratos
fictícios de consultoria; esses operadores distribuíam o dinheiro entre
ex-diretores da Petrobrás - três deles já presos, Renato Duque, Nestor
Cerveró e Paulo Roberto Costa - e partidos políticos - em especial PT,
PMDB e PP.
Esse esquema de desvios se concentrou, segundo as investigações,
entre os anos de 2004 e 2012. A Petrobrás admite - e já registrou em
balanço - prejuízo de R$ 6 bilhões com propinas nas obras de refinarias,
entre elas a Abreu e Lima, em Pernambuco, e a Getúlio Vargas, no
Paraná.
Nos contratos do pré-sal, os procuradores e delegados da Polícia
Federal esbarraram num modelo bem parecido: a suspeita é de que as
empresas que compõem os estaleiros se acertaram em cartel, pagaram
propina de 0,9% a 1% do valor dos contratos por meio de operadores que
detêm consultorias de fachada e, no fim, o dinheiro foi parar nas mãos
de políticos. Em razão de o setor do pré-sal estar ligado às Diretorias
de Internacional, Serviços e de Exploração e Produção, as suspeitas
recaem novamente sobre PT e PMDB, que apadrinhavam os diretores dessas
três áreas.
O esquema de propina nos contratos de construção de sondas teria durado de 2011 a 2014.
“Sobre o valor de cada contrato firmado entre a Sete Brasil e os
estaleiros, deveria ser distribuído o porcentual de 1%, posteriormente
reduzido para 0,9%”, revelou o ex-diretor de Operações da Sete Brasil e
ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco, em sua delação premiada assinada
com a Operação Lava Jato.
“Até o fim de 2014 temos elementos para apontar que o esquema de
corrupção na Petrobrás e de cartel continuou existindo”, afirma o
procurador da República Deltan Dallagnol, um dos coordenadores da
força-tarefa.
Ex-diretores. A
partir das investigações do pré-sal, aparecem três novos nomes de
ex-diretores da Petrobrás contra os quais ainda não há acusação formal:
Jorge Zelada (ex-diretor de Internacional), Roberto Gonçalves (que foi
das áreas de Serviços e também de Internacional) e Guilherme Estrella,
ex-diretor de Exploração e Produção.
Os dois primeiros foram apontados como recebedores de propina por
Barusco. Contra Zelada, pesa ainda a descoberta de 11 milhões que foram
bloqueados em um banco em Mônaco. Quanto a Estrella, houve pagamentos
de propina em sua área - Exploração e Produção -, mas não há qualquer
apontamento de que ele teria recebido dinheiro desviado. (Estadã0).
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