|
ATEUS, MAS ADORAM O DEMÔNIO
Na transição do século XIX para XX, um conhecido escritor francês
estava curioso para ver uma cerimônia satânica de missa negra, e
conseguiu que um amigo o levasse ocultamente para presenciar o que se
passava em um desses antros secretos. Durante a cerimônia sacrílega,
chamou-lhe a atenção o empenho, a fúria, a obstinação dos participantes
competindo entre si para ofender e espezinhar a hóstia consagrada. O
raciocínio dele foi simples e perfeito:
— Não é racionalmente possível tanto ódio contra um pedacinho de pão.
Se eles fazem isso, é porque sabem e acreditam que ali está muito mais
do que pão. Eles o ofendem, desafiam, pois sabem que não reagirá.
Demonstram assim um poder ilusório, prometido por quem eles julgam
detentor de poder maior.
Em viagem
pouco depois disso, a graça divina conduziu o escritor a encontrar
Mugnier, sacerdote à moda antiga, zeloso pela salvação das almas. Ele
esclareceu pacientemente todas as dúvidas e lhe deu atenção diligente
durante o processo de conversão. Em 1907, pôde apresentar a Deus a alma
de Georges Charles Huysmans, que falecera com 59 anos como oblato de um
mosteiro. Todo o seu processo de conversão está relatado por ele mesmo
em suas últimas obras: Là-bas; Em route; La cathédrale; L’oblat; Les foules de Lourdes. Excelente leitura.
Outro fato
semelhante se deu com uma dama da corte, que não só assistiu mas também
participou ativamente de uma missa negra. Madame Montespan desejava
tornar-se a concubina favorita de Luís XIV, e para isso expôs o próprio
corpo no altar de uma missa negra. Conseguiu o que queria, mas depois se
arrependeu e passou os últimos anos de vida como penitente em um
convento.
Se lhe interessam exemplos de quem escolhe essa via para obter fama, dinheiro, leia sobre a vida de ídolos do rock,
onde missas negras e outros cultos satânicos comparecem aos montes.
Também não faltam entre as sumidades do Vale do Silício, entre os
magnatas endinheirados, entre políticos famosos ou famigerados. A
propósito destes, foi anunciado o lançamento de um livro de Rosane
Malta, ex-mulher de Collor, relatando rituais de magia negra na casa da
Dinda. Pesquise um pouco na vida dos engalanados colegas e parceiros
desses, e não lhe faltarão surpresas espantosas. Em nível mundial, está
em pleno curso uma propaganda de cultos satânicos como a missa negra, e
gente “esclarecida” dentro de universidades dedica-se a isso.
Para quem, como eu,
nasceu em família católica e passou toda a vida em meios católicos, é
difícil compreender que pessoas mentalmente sadias não acreditem na
existência de Deus. Mais ainda, que muitos desses disponham-se a
praticar cultos satânicos onde explicitamente se adora o demônio. São
ateus porque não querem prestar culto a Deus, mas aderem às piores
abominações para cultuar esse outro “deus”. É possível imaginar posição
mais contraditória?
Qual motivo os leva a isso? Melhor seria perguntar quais
motivos. São muitos e de características as mais diversas, movendo as
pessoas por meio de inúmeras atrações ou repulsas. Uns podem ter como
objetivo tornar-se ricos ou famosos, por exemplo; outros podem julgar
dura demais a sentença de ganhar o pão com o suor do próprio rosto. E assim por diante, quase ao infinito.
Variam os motivos, mas
os caminhos confluem para dois objetivos situados nos pontos extremos de
uma estrada: de um lado Deus, do outro o demônio; no ponto mais alto o
bem, no mais baixo o mal; o convite suave de Deus na extremidade sadia,
na outra a insistência agressiva do demônio. Nenhum dos dois se
manifesta diretamente, e sim por meio de pessoas, coisas, sensações,
atrações, punições e prazeres diversos.
O processo de descida
ao abismo satânico pode começar pelo consentimento a um desejo veemente
proibido por um Mandamento, portanto vedado aos amigos de Deus. A
tentação pode ser vencida, devolvendo a tranquilidade à alma, e
sucessivas vitórias consolidam a fidelidade a Deus e a felicidade de
situação. Uma transgressão ao Mandamento pode ser seguida de
arrependimento e retorno ao caminho do bem. Mas o mais provável é essa
transgressão tornar-se o primeiro passo para outras, reforçando a adesão
aos inimigos de Deus e tornando cada vez mais difícil o retorno. O
demônio exige cada vez mais, oferecendo cada vez menos.
De degrau em degrau até
o extremo do processo, qualquer tipo de culto satânico se torna
possível e até provável. Chega-se ao fundo do abismo, e là-bas
(lá longe, bem no fundo) completa-se o “caminho fácil” de adoração ao
demônio. Este nem se dá a conhecer, mas poucos resistem às suas ofertas.
Não voltam ao caminho de Deus na condição de penitentes, ao contrário
de Huysmans e Montespan. A grande maioria aceita parcial ou totalmente
as exigências do demônio, podendo incluir ou não os cultos satânicos.
Ele conhece o caminho mais adequado a cada vítima.
As primeiras derrapadas geralmente conduzem a pessoa a ficar descrente, porque Deus não ajuda, só proíbe.
Em seguida começa a procurar facilidades, com a ajuda de quem parece
amigo de outro “todo-poderoso”. Daí a fazer pacto com ele e ceder em
tudo o que ele quer, inclusive a adoração explícita, é só questão de
tempo. Muitos percorrem o caminho de volta, mas infelizmente a maioria
não retorna.
De pecador a
inimigo de Deus, depois amigo e adorador do demônio, o caminho do ateu
pode ser curto ou longo, rápido ou demorado, mas está aberto a qualquer
um que nele entre e aí permaneça voluntariamente.
(*) Jacinto Flecha é médico e colaborador da Abim
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário