segunda-feira, 1 de junho de 2015

Não adianta lamentar que deu em nada a fantástica reforma política, panacéia nacional cantada em prosa e verso pelos políticos e pela mídia. Era tudo jogo de cena, pois deputados e senadores preferiram apostar nos mecanismos para a reeleição. Manter as regras do jogo, com raríssimas exceções.

O país é esse mesmo

Reprodução/TV Record
Dilma preferiu a bicicleta, ao invés de pedalar contas públicas


Carlos Chagas
A grande maioria parlamentar optou apenas pelo fim da reeleição e talvez, esta semana, por marcar para 10 de janeiro, nos anos eleitorais, as posses dos presidentes da República, governadores e prefeitos eleitos no ano anterior. O restante do sistema político-eleitoral continuará na mesma, ou quase. Não adianta lamentar que deu em nada a fantástica reforma política, panacéia nacional cantada em prosa e verso pelos políticos e pela mídia. Era tudo jogo de cena, pois deputados e senadores preferiram apostar nos mecanismos para a reeleição. Manter as regras do jogo, com raríssimas exceções.


Para os que pensam em deixar acesa a chama da esperança de as reformas virem a ser aprovadas em novas votações ainda este ano, e nos próximos, vai um alerta. A menos que sobrevenham inusitadas crises, como a falência do Brasil ou a rebelião dos oprimidos e desassistidos, nada feito. Reforma política, adeus. Nem parlamentarismo, nem voto distrital. Muito menos financiamento apenas público das campanhas eleitorais, com o fim das doações empresariais.


Diminuição do número de partidos, nem pensar. Redução ou ampliação dos mandatos de senador, nunca. Extinção dos suplentes de senador, também não. Proibição de coligações partidárias? Jamais. Unicameralismo, sem chances, assim como qualquer das outras propostas aventadas no reino da fantasia, do tipo constituinte exclusiva para as mudanças constitucionais. Mandatos fixos para ministros dos tribunais superiores, só se vaca tossir, da mesma forma como cotas para mulheres se candidatarem.


Saiu tudo pelo ralo, ou quase tudo. Prevaleceu o interesse imediato dos legisladores. O Brasil não vai mudar de nome, nem de práticas e de costumes adotados ao longo das décadas.


Quem mais percebeu esse resultado foi o Lula, apesar de seu relativo mutismo. Quer voltar em 2018, possibilidade que apenas nos Estados Unidos seria impedida pela lei. Nosso país é esse mesmo, mas ao menos uma   vantagem isolada decorre do imobilismo: estamos vacinados contra golpes e alterações violentas no regime. Não há lugar para aventuras extemporâneas, a menos, é claro, no caso das duas hipóteses acima referidas, da falência do Estado brasileiro ou da rebelião das massas. Dizer “melhor assim” parece uma temeridade, mas é verdadeiro.



PEDALADAS PERIGOSAS
Madame comprou uma bicicleta, desde que o dono da fábrica não se tenha decidido a doá-la, coisa que não costuma acontecer com outros objetos de cunho pessoal. A conclusão será de que, de preferência, vai pedalar nos jardins do palácio da Alvorada, ainda que possa, como no sábado, arriscar uma incursão além das grades. O episódio revela que mesmo aos trancos e barrancos, a presidente se dispõe a seguir adiante, sem renúncia nem impeachment. O diabo são os tombos e as escorregadelas.

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