(Estadão) A prisão dos empresários das empreiteiras Odebrecht e Andrade
Gutierrez trouxe preocupação ao Palácio do Planalto. Apesar da intenção
dos assessores palacianos em manter a presidente Dilma Rousseff
totalmente afastada das polêmicas provocadas pela Operação Lava Jato e
das consequências dela, o sentimento é que todo este processo acaba por
desestabilizar o governo, que já se encontra sob ataques de vários
setores e sofrendo com baixa popularidade.
A preocupação não é só pelo governo Dilma, mas também pelo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que consideram ser o alvo atual
da Lava Jato. Só que, mirando em Lula, não há como não respingar em
Dilma. O presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, foi visto muitas
vezes no Planalto, durante o governo Lula e em inúmeras viagens do
ex-presidente a África. Também acompanhou o presidente a Cuba, onde a
empresa está à frente da construção do Porto de Mariel.
Desde 2011, Dilma se reuniu pelo menos cinco vezes oficialmente, com
Marcelo Odebrecht. O último encontro foi há menos de um mês, no 26 de
maio, no hotel Intercontinental, na Cidade do México.Marcelo Odebrecht, que era a figura central do evento, teve deferência
especial por estar coordenando o encontro empresarial que Dilma
prestigiou. Ontem, antes de embarcar para cumprir agenda em Camaçari, na
Bahia, a presidente Dilma recebeu o ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, no Palácio da Alvorada. Cardozo foi informar à presidente sobre
a nova etapa da operação. Na volta da Bahia, nova reunião de avaliação
da operação com Cardozo.
Proximidade. Marcelo Odebrecht sempre foi próximo dos
petistas. Nos bastidores, auxiliares de Dilma e dirigentes do PT dizem
que Cardozo perdeu o controle sobre as investigações da Lava Jato, da
Polícia Federal. Em conversas reservadas, até mesmo petistas afirmam que
a oposição fará de tudo para "pegar" o ex-presidente Lula.
A avaliação no PT é a de que o cerco está se fechando e que a crise
política vai piorar. Mas, mesmo sabendo dos incômodos que a prisão dos
empreiteiros pode trazer para o governo, assessores da presidente
afirmam que não haverá problema em relação às doações de campanha.
Justificam que os responsáveis das duas empresas declaram voto explicito
aos adversários da petista no ano passado. Marcelo Odebrecht teria
anunciado voto ao tucano Aécio Neves, e Otávio Azevedo, da Andrade
Gutierrez, a Marina Silva, do PSB.
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