7/06/15 - Pelo fim dos privilégios
EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE - 07/06/15
Chamou
a atenção a notícia da troca de carros do Superior Tribunal Militar. A
modernização da frota, que implica a compra de 17 sedãs ao custo
unitário de R$ 116 mil, passaria despercebida em outras épocas. Senão
despercebida, pelo menos rotineira, nada digno de registro além do
burocrático.
Em tempos de crise, porém, o fato traz à tona velha questão
que precisa ser enfrentada com determinação.
Trata-se
de privilégios que fincam raízes no setor público. Carro com motorista
talvez seja o mais simbólico. Mas não é o único. A ele se somam cartões
corporativos, residências oficiais, combustível, garçons, elevadores
privativos, verbas de representação. Difícil encontrar justificativa
para a manutenção de mordomias ultrapassadas que, além de onerar o
erário, servem de mau exemplo para as três esferas do poder.
Estados e municípios reproduzem as benesses com a naturalidade de
quem dá bom dia ao entrar no elevador ou diz até logo ao se despedir.
Prefeituras que sobrevivem à custa do Fundo de Participação dos
Municípios não abrem mão de benefícios anacrônicos usufruídos em âmbito
estadual e federal. ONGs que recebem dinheiro proveniente de impostos
cobrados dos contribuintes também sofrem o contágio do mau exemplo.
Instituições que embolsam contribuições parafiscais não ficam atrás.
A Constituição diz que todos são iguais perante a lei. A prática do
setor público, porém, teima em provar que se trata de princípio que não
pega. No século 21, nada mais retrógrado do que sustentar o modelo de
casa grande e senzala.
Quem ostenta o cartão de autoridade se vacina
contra o povo. Isola-se. Não usa transporte público, não se trata em
hospital público, não se satisfaz com a segurança pública, não matricula
os filhos em escola pública. Até o tratamento muda. O democrático
senhor cede lugar ao aristocrático excelência.
Crise, dizem os chineses, é oportunidade. As agruras por que passa a
economia obrigam o governo a cortar gastos. Educação, saúde, saneamento,
mobilidade sofrem na carne e nos nervos a redução no orçamento. As
vítimas são estudantes, enfermos, trabalhadores - pessoas que constroem o
futuro da nação.
Dilma Rousseff, primeira mulher a presidir o país,
pode deixar marca capaz de diferenciá-la dos antecedentes. Acabar com os
privilégios é passo importante para sintonizar o país com a
contemporaneidade.
O tempo se encarregou de relegar ao passado práticas que fizeram
sentido em determinado contexto, mas se tornaram inaceitáveis com as
mudanças da sociedade.
É o caso da escravidão, da
corrupção, da discriminação da mulher, da intolerância étnica, cultural e
religiosa.
É o caso, também, dos privilégios no serviço público. Como o
Estado não planta dinheiro, sustenta mordomias com o meu, o teu, o
nosso trabalho. Passou da hora de dar o salto para o século 21.
Com a
palavra, a presidente Dilma Rousseff.
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