A Rede Globo anda espalhando por aí que "a derrubada de Mata AtIântica caiu 24% em 2014". Bom, televisão a gente sabe como é. Essa "informação" era, na imediata sequência, diluída em imagens de uma anta albina "tida como assombração", e por aí afora...
Mas a Rede Globo
sabe fazer bom jornalismo quando quer e, assim, deveria ter mais
cuidado com esses números sempre rescendendo a absurdo que passa adiante
sem investir uma grama de raciocínio para checar a sua credibilidade
quando o assunto é sério como este é e os possíveis prejuízos
potencialmente irreversíveis como estes podem ser nos limites a que já
chegamos.
Da até "gastura" falar dessas coisas com o país arrebentado como o PT o deixou, mas não dá pra ficar quieto. Vamos lá...
Eu
frequento regularissimamente o maior pedaço de Mata Atlântica que
sobrou neste planeta, no Vale do Ribeira, há mais de 40 anos. Vejo com
meus olhos o que está acontecendo por lá quase metro por metro. A
situação em São Paulo esteve mais ou menos estabilizada durante uns bons
anos enquanto em Santa Catarina o pau comia solto.
Até a predação "a tesourinha"
dos palmiteiros, que mina na sua base a capacidade daquela floresta de
produzir a fauna que trabalha para semea-la e mantê-la e que, toda ela,
tem na semente da palmeira jussara uma fonte essencial de alimentação,
tinha diminuído no Vale. Não em função da repressão da atividade mas,
como sempre, do esgotamento que eles próprios conseguiram produzir no
objeto da sua cobiça graças à falta dessa repressão.
O de sempre: somos
um país sem lei onde não ha crimes, só "atos infracionais" ou
menos que isso, e ninguém vai preso por nada, de modo que correr atrás
de palmiteiro é só se arriscar a ter de se enfrentar com ele porque,
ainda que preso, será solto em poucas horas...
As
tentativas de adaptar o açaí da Amazônia á região não funcionaram.
Surgiu naturalmente, por polinização, um híbrido dessa palmeira com a
jussara nativa (Euterpes edulcis) que é estéril e ainda pode
virar um problema enorme se não houver um esforço rápido para
eliminá-las da região. E por tudo isso a febre palmiteira foi baixando.
O
Vale vivia da banana, os ladrões de palmito ficaram do tamanho do que
restou para roubar, os processadores do produto do roubo, que tooodo
mundo conhece, seguiram impunes como sempre, e por aí foi-se ficando.
De
uns cinco a sete anos para cá, algo começou a mudar, e em velocidade
crescente. A pupunha é uma palmeira amazônica que nasce em touceiras de
quatro, cinco troncos por planta, e produz um palmito de boa aceitação
no mercado. E esta se adaptou ao Vale às mil maravilhas.
Cresce mais
rápido lá, onde chove mais que na Amazônia na média anual; não requer
tanto trato assim depois de plantada e dá vários cortes em ciclos mais
curtos que os anuais se bem manejada.
É,
em resumo, um sucesso econômico, o que a arma da força que o dinheiro
tem. E as derrubadas recomeçaram. Cada vez que vou lá vejo mais e mais
encostas peladas encrespando de pupunha; a grilagem de áreas de parques e
reservas ganhou novo impulso; não há diferença nenhuma na velocidade e
na explicitude desse processo mais perto ou mais longe das sedes locais
dos guarda-parques e reservas florestais. Há dinheiro para fechar olhos
ao que quer que seja...
O pau está comendo, ao contrário do que diz a Globo.
A crise da Dilma reduziu, sim, um pouco desse ímpeto, porque o povo
está comendo menos pizza e pastel de palmito que é a porcaria em que se
transforma a força da Mata Atlântica neste país sem pulso, mas isso é
questão de tempo.
O fato é que existe agora uma nova e poderosa força
econômica empurrando a devastação da Mata Atlântica e se o ambientalismo
brasileiro continuar insistindo em fechar os olhos -- a
pupunha vai comer, já, mais um pedaço considerável do futuro dos nossos
filhos e netos.
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