
Os
espaços culturais Teatro Galpão e Galpãozinho, hoje Espaço cultural
Renato Russo, foram criados na década de 1970 e foram o palco para o
movimento teatral de Brasília

O jovem locutor entrou para o teatro nos idos de 1979. Com colegas do Ceub ensaiou exaustivamente o roteiro da peça Cicatrizes, que havia conquistado o Prêmio Molère, em 1977. Parecia-lhe coisa importante. Falava de política, loucura, hospício, cárcere, vozes de dentro e de fora. E, com certeza, os ensaios e a apresentação em si somariam para a sua formação profissional, dando-lhe interpretações outras e mais cancha.
Embora o seu personagem não atuasse de fato, apenas a voz se faria sentir na alma de um dos atores, o locutor levou a sério a empreitada. E a peça rendeu ótimos comentários de público e crítica tanto na apresentação no Teatro Galpão, à 508 Sul, hoje Espaço Renato Russo da extinta Fundação Cultural do Distrito Federal, como na Sala Martins Penna, do Teatro Nacional de Brasília, em única apresentação.


Dois homens de terno preto que pareciam estar à serviço do SNI, Serviço Nacional de Informações, ameaçavam levar preso, de forma truculenta, um jovem da plateia.


Naquele tempo, Brasília contava com 29, 30 anos. E a cidade parecia que ia durar uma vida inteira daquele jeito.
Brasília era limpa, organizada, respeitava os espaços públicos e nada, nem em pensamento, faria supor que 10 anos depois tudo

Primeiro veio o Sr. Joaquim Roriz, distribuindo lotes, terrenos – envolvido em falcatruas e grilagens – para transformar a cidade de uma vez por todas em um centro de imigrantes sem precedentes. Daí o entorno cresceu muito acima do esperado para sufocar o trânsito, deteriorar hospitais públicos, calçamentos segurança e aquilo que mais nos conquistava, a tranquilidade das noites frias durante todo o ano.

E como numa lata velha colorida de verde cinzento com o azul do céu que, graças a Deus, ainda não ocuparam, Brasília vai se esquecendo até da única obra boa do famigerado político, os jardins do Roriz.

Ah, uma ideia me ocorreu agora!

E que se levantem vozes e pessoas para a truculência do descaso público e privado. Que Brasília não se torne um retratinho desbotado, cheio de cicatrizes, de um Brasil que vem aqui para fazer da capital a casa da mãe Joana, um hospício, uma jaula em si mesma. Vamos nós censurar os maus políticos e até sermos autoritários com eles.
Essa cidade de traçados tão futuros não pode se deixar levar por feridas e porões ainda tão mofados.
Ah, e fodam-se os homens de preto…
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