quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A hora da xepa’ e outras sete notas de Carlos Brickmann




Não importa o que os políticos, empresários e gente importante em geral nos digam: o que importa é a atitude que tomam. Podem dizer que a administração é excelenta, que a presidente é competenta, valenta, resistenta. Mas como agem?


1 – Por enquanto, 20% dos prefeitos do PT no Estado de São Paulo mudaram de partido. É a lei da vida: para sobreviver, acharam melhor sair do partido dela.


2 – Tente lembrar-se de algum governo, nos últimos 50 anos, que não tenha tido o apoio de Delfim Netto. Nesta era petista, ele esteve bem próximo de Lula, tanto que muitos o consideravam seu conselheiro. 


Delfim disse agora que Dilma, em 2014, destruiu deliberadamente a economia para conseguir a reeleição. É injusto: Dilma nem sabe o que faz na economia. Mas Delfim se afastou dela─- e bem quando Dilma busca o apoio empresarial, área em que Delfim é influente.



3 - O Banco Central divulgou nesta semana a taxa de juros do cartão de crédito: 395,3% ao ano. A taxa alta indica falta de confiança na economia. E os banqueiros são o único grupo de empresários que manifesta seu apoio a Dilma.


4- Dilma iria presidir no seu palácio um evento de atletas para-olímpicos. O chefe do cerimonial simplesmente barrou, com os braços estendidos, a entrada da presidente, para que ela desse passagem a atletas cadeirantes. Dilma esbravejou, mas não adiantou. Quando um chefe de governo bate boca em público com um subordinado, quando um subordinado não hesita em barrar a presidente, o poder acabou.

O próximo passo é servir-lhe cafezinho frio com biscoitos murchos.


Batendo o pé
Quando Dilma soube que o vice Michel Temer teria um encontro com empresários, antecipou-se e, na véspera, reuniu alguns dos empresários que iriam conversar com ele.
Quando a presidente de um país precisa disputar prestígio com o vice, vai ter de tomar cafezinho velho e frio guardado há dias na garrafa térmica.


A volta do que não saiu
Para tentar salvar o PT, Lula disse que pode ser candidato em 2018. Ele queria, claro; mas jamais tinha dito isso. Aliás, queria ter sido candidato em 2014, mas Dilma fez questão de segurar a bomba.
O fato é que, ao recorrer a seu maior símbolo, o PT mostra que, no pós-Dilma, não tem mais ninguém para competir

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Pior do que está, fica
Que Tiririca, que nada! Com ele, pior do que está não fica. Com Dilma, pode ficar: é de seu governo a ideia de jerica de recriar a CPMF, com o nome-fantasia de CIS, Contribuição Interfederativa da Saúde, e a mesma alíquota de quando foi extinta sob aplausos gerais: 0,38%.


A tal CIS é tão ruim que conseguiu o apoio do governador paulista Geraldo “Chuchu” Alckmin, tucano de bico fininho e comprido que só desce do muro para ficar do lado errado. Alckmin acha que parte da arrecadação será repassada aos Estados. O ministro Adib Jatene achava que o imposto iria para a Saúde. Mas Jatene não sabia como as coisas funcionavam.


O humor, enfim!
O governo explica que, sem a CPMF (desculpe, CIS), não será possível fechar as contas do governo. O site O Sensacionalista, especializado em notícias falsas mas verossímeis, daquelas que só não são verdadeiras porque ainda não aconteceram, diz que o governo, se não conseguir atochar a CPMF, aplicará seu Plano B: vai contratar batedores de carteira cubanos. E pagar-lhe só comissão.


No olho do furacão

Dilma está presa por três fenômenos que convergem para enfraquecê-la: a crise econômica, a Operação Lava-Jato e o esfarelamento de sua base no Congresso. Dilma tem grande participação nos três fenômenos: ampliou as despesas do governo federal como se a arrecadação fosse inesgotável, não viu o que ocorria debaixo de seus olhos na Petrobras ─ cujo Conselho de Administração presidiu ─, hostilizou o maior partido aliado, o PMDB, estimulando o ministro Gilberto Kassab a esvaziá-lo com uma nova legenda, o PL (e espalhou o segredo, impedindo a articulação). Jamais honrou compromissos com os parlamentares e jogou-se numa batalha perdida pela presidência da Câmara. Tem Aloízio Mercadante e José Eduardo Cardozo como núcleo duro político.


É de espantar que Tiririca não esteja no time. E que a aprovação do governo ainda seja superior a 5%.
Virou piada
Quando se envolveu na disputa pela Prefeitura de Curitiba, em 2012, a então ministra Gleisi Hoffmann, do PT, debochou de Ratinho Jr., o principal adversário de seu aliado. Dizia que seu candidato “tinha nome e sobrenome”.


Agora, com assessor preso por pedofilia, envolvida nas investigações da Operação Pixuleco 2 (o que se apura é o desvio de recursos do Ministério do Planejamento para uma empresa que os repassaria a ela ─ sendo que o ministro do Planejamento era seu marido, Paulo Bernardo), Ratinho Jr. devolve o deboche:  “Corrupção agora tem nome e sobrenome. Tem até marido.”
Um tuiteiro cruel completou: tem nome, sobrenome e vai ganhar um número.



O repórter certeiro
O blogueiro Ucho Haddad ucho.info foi o primeiro a apontar os problemas de Gleisi. Houve quem achasse que estava maluco.

Mas acertou na mosca.


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