"Céu sem
brigadeiro", artigo de Sandro Vaia no jornal O Globo, com fina ironia
sobre a ridícula mudança ministerial que enfiou um dono de restaurante
no ministério da Ciência e Tecnologia. Na Era da Canalhice, pouco
importam os interesses do país:
Põe o
Janine, tira o Janine. Tira o Mercadante daqui, coloca ali. Põe o dono
do restaurante de Duque de Caxias na Ciência e Tecnologia e desloca o
Rebelo para a Defesa - pode não entender nada do assunto, mas torce para
o Victor Hugo, belíssimo zagueiro central, que não deixa passar uma.
Ali,
dirigindo a orquestra, da coxia, o grão vizir Lula, aquele que é a favor
e contra o governo, aquele que planta cargos para colher
governabilidade. Para que? Para não largar jamais a planta suculenta do
poder.
Na dança
das cadeiras promovida pela presidente Dilma com a finalidade de abrir
mais espaço em seu governo para abrigar um aliado faminto que tem o
poder de retirar-lhe o mandato, faltavam cadeiras e havia dançarinos
sobrando.
O grão
vizir interveio e colocou um dos seus, Jacques Wagner, na Casa Civil-
por onde já andaram José Dirceu e a própria Dilma - e deixou que Dilma
deslocasse seu xodó Mercadante para a Educação, completando a quinta
troca de comando naquele que deveria ser o ministério mais importante da
República - o da Educação (afinal, não somos uma pátria educadora?).
Afinal, é
pela Casa Civil que passam de verdade os destinos da República. A
Educação é apenas uma vitrine de um projeto inócuo, sem começo, nem meio
e nem fim, onde moram os mais impressionantes slogans de João Santana.
Andou por
ali ultimamente um cavalheiro bem apessoado, bem educado, um
prestigioso professor de Ética, não inscrito no partido, a quem coube,
em seus parcos seis meses de gestão, administrar uma greve de
universidades federais e vir a público dizer que “o dinheiro acabou”,
quando os estudantes não conseguiam mais inscrever-se no FIES. Esse é o
resumo de sua obra.
Um homem
de fino trato, tanto que ao ser despedido pela presidente, topou posar
para uma foto apertando a sua mão e dar declarações à imprensa dizendo
que ela foi muito cordial ao comunicar-lhe o bilhete azul.
O outro
trambolho que o grão vizir resolveu entregar de mão beijada à voracidade
do PMDB foi o ministério da Saúde, que estava nas mãos do companheiro
Arthur Chioro, delicadamente avisado que estava fora pela presidente
Dilma, num telefonema de dois minutos. Ao que se informa, ela não teve
tempo nem de dizer-lhe “obrigado”.
Uns dois
dias antes de ser despachado em função do toma lá dá cá, Chioro deu uma
entrevista ao Estadão anunciando que o SUS - Sistema Único de Saúde -
entrará em colapso em setembro de 2016 por falta de dinheiro.
Para
completar o cenário dantesco, anunciou-se que um dos dois candidatos
cogitados pelo PMDB para preencher o cargo, o deputado Manoel Júnior, da
Paraíba, foi citado numa CPI como suspeito de ter participado de um
assassinato. (O escolhido acabou sendo Marcelo Castro, do Piauí,
apadrinhado de Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara).
O
deputado paraibano é da tropa de choque do presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, acusado de ter 5 milhões de dólares oriundos de propina
depositados em conta secreta na Suíça. Mas Cunha ainda tem o poder de
apertar o botão dos projetos bomba e da máquina de disparar o processo
de impeachment contra Dilma.
Sob esse
virtuoso cenário, o grão vizir ainda disse a seus amigos que está
pensando em lançar já a sua candidatura para 2018, com a finalidade de
“ocupar espaços”, enquanto mostra à sua criatura onde fica o caminho
mais curto para que a sua insignificância não atrapalhe o seu projeto de
poder.
Enquanto
os ilusionistas embaralhavam as suas cartas, os jornais anunciavam mais
mar revolto à frente: a denúncia da venda de MPs favorecendo a indústria
automobilística, durante o governo Lula, e doações da UTC tiradas de
propinas da Petrobras para financiar a campanha da reeleição de Dilma.
Um céu sem brigadeiro.
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