O Sínodo da família e as paixões de ignomínia
Publicado
em out 1, 2015 em Doutrina Católica, Fraternidade
São Pio X, Todos os artigos do site, Tradição
x Vaticano II
Todo católico deveria detestar abordar
questões que São Paulo não queria nem sequer que fossem mencionadas entre os
cristãos:
“Sede, pois, imitadores de Deus, como
filhos muito amados, e andai no amor, como também Cristo nos amou e se entregou
a si mesmo por nós a Deus, como oferenda e hóstia de suave odor. Nem sequer se
nomeie entre vós a fornicação ou qualquer impureza ou avareza, como convém a
santos…” (Efésios 5, 1-3).
Enquanto o grande Apóstolo formava em seus
discípulos a outros Cristos, não podia admitir que houvesse ainda entre eles
escravos das paixões carnais e do espírito de concupiscência:
“Com efeito, sabei-o bem, nenhum
fornicador ou impudico ou avaro, o qual é um idólatra, terá herança no reino de
Cristo e de Deus” (ibidem, 5, 5).
No entanto, o mundo contemporâneo há muito
retornou às perversões mais infamantes, esquecendo-se do destino reservado a
Sodoma e Gomorra (1). Assim como a pederastia, a
bestialidade e muitas outras perversões sexuais se alastram nas sociedades
modernas, ao mesmo tempo diminuem o pudor, a fidelidade, a abstinência e todas
as virtudes capazes de aplacar a concupiscência.
Contra a lei natural e divina
Frente aos ataques contra o casamento cristão, e
agora contra o casamento natural (a união estável de um homem e uma mulher em
uma casa, com o fim de gerar e criar filhos), a Igreja Católica recorda
incansavelmente a verdade da moral evangélica:
“Porventura não sabeis que os injustos não
possuirão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem os fornicadores, nem os
idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os
ladrões, nem os avarentos, nem os que se dão à embriaguez, nem os maldizentes,
nem os roubadores possuirão o reino de Deus” (I Coríntios 6, 9-10).
O pecado da homossexualidade é uma grave
desordem cujo ato
específico é colocado pela Sagrada Escritura entre os “pecados que clamam ao
céu”, como o homicídio ou a opressão à viúva e ao órfão. Os pecados que
clamam ao céu são aqueles cuja maldade, e particularmente a perturbação da
ordem social que provocam, pedem, desde a terra, uma justa vingança da parte de
Deus (2).
Isso mostra a gravidade do pecado da
homossexualidade, não
obstante, banalizado e até mesmo promovido por todos os tipos de organizações e
outros meios de propaganda. Pensemos nas associações “LGBT”, nos filmes,
moda, paradas e desfiles (“orgulho gay”) que inundam todos os anos as
ruas das metrópoles do mundo.
A Igreja Católica não escapa a esta pressão que vem
de um mundo depravado e de costumes corruptos. Até agora, ela tinha conseguido
lembrar às pessoas o caráter antinatural e a ignomínia ou infâmia desse tipo de
pecado. O novo Catecismo, em 1992, ainda podia escrever
no seu número 2357:
”Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os
apresenta como depravações graves (3) a Tradição sempre declarou que
‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’ (4).
São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem
duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser
aprovados”.
As profundas divisões entre os Padres
Sinodais
A preparação do sínodo sobre a família, paradoxalmente, deu uma tribuna para os promotores ou apoiadores da
banalização da homossexualidade. No dia 13 de outubro de 2014, o Relator
geral do Sínodo, o cardeal húngaro Péter Erdö, deixava-o evidente num documento
que se tornou público em presença de duzentos jornalistas. Titulado Relatio
post disceptationem, descrevia a estima pelos “dons e qualidades”
que os homossexuais tinham “para oferecer à comunidade cristã”
(Relatio, nº. 50).
Ao rejeitar qualquer equivalência
com o matrimônio entre um homem e uma mulher, e por causa da pressão
internacional em favor da ideologia de gênero (ibid. nº. 51), o Sínodo “leva
em consideração que há casos em que o apoio mútuo, até o sacrifício, é uma
ajuda valiosa para a vida dos casais!” (nº. 52). Durante a mesma
conferência de imprensa, o arcebispo Bruno Forte, secretário especial do Sínodo
e presumivelmente autor dos parágrafos
escandalosos, declarou:
“Acho que o documento procura aspectos positivos
onde se possam encontrar estes elementos dentro dessas uniões. É fácil rejeitar
uma coisa, mas reconhecer e valorizar tudo o que é positivo, mesmo dentro
destas experiências, é um exercício de honestidade intelectual e de caridade
espiritual”.
Então, pela primeira vez na sua história, através de canais oficiais, a Igreja prega acolher aos
homossexuais como tais. O desafio não é mais de aqui em diante a
conversão e o chamado à penitência, o combate contra as tendências desordenadas
e pecaminosas, mas à capacidade “de receber essas pessoas
garantindo-lhes um espaço de fraternidade em nossas comunidades”, enquanto
que, na prática e publicamente, vivem em tais vícios.
O escândalo foi imenso e as reações a este
relatório provisório não demoraram em sentir-se. Quando entrevistado pela Rádio
Vaticano no dia 13 de outubro, o bispo Stanislas Gadecki, arcebispo de
Poznan e Presidente da Conferência Episcopal da Polônia, não teve medo de
declarar: “Este documento é inaceitável”.
Os bispos africanos também expressaram seu profundo desacordo: no
Twitter, o cardeal William Fox Napier, arcebispo de Durban, se opôs fortemente aos artigos sobre a homossexualidade,
ao que o Cardeal Walter Kasper respondeu em uma entrevista aos repórteres, que
os bispos africanos “não deveriam nos dizer o que fazer”. – Alguns meses
mais tarde, o Cardeal Napier teve que falar do desprezo
condescendente do cardeal Kasper, que “acredita que os bispos
africanos são demasiado submissos a tabus e muito relutantes em abordar a
questão da poligamia e do casamento entre pessoas do mesmo sexo“.
Ainda assim, em 18 de Outubro, o relatório final
do Sínodo se empenhava em apagar o fogo usando uma manobra para chegar a um
acordo. Inteiramos-nos de que o parágrafo sobre os
homossexuais foi posto à votação, obtendo 118 votos a favor e 62 de
desaprovação. O padre Federico Lombardi, diretor da Imprensa da
Santa Sé, salientou que, embora os parágrafos “não tenham atingido a maioria
qualificada, foram esmagadoramente aprovados“. Por esta razão o próprio
Papa Francisco havia desejado que os parágrafos rejeitados fossem também
publicados, “a fim de ampliar o debate”.
Embora este texto, de acordo com o padre Lombardi, “não é um documento
do Magistério disciplinar”, o problema é complexo. Como um comportamento antinatural e
intrinsecamente desordenado pode ser apresentado tão positivamente? Como um pecado que clama
ao céu tornou-se uma “orientação sexual” capaz de proporcionar “dons
e graças” (quais?) para a comunidade cristã?
O que
significa em última análise este elogio, apenas dissimulado, do sentido do
sacrifício entre pessoas homossexuais? Querer-se-á comparar essa “ajuda
valiosa para a vida dos casais” à fidelidade e o apoio dos cônjuges no
casamento?
Esta seria uma daquelas “comparações
blasfemas” entre o Evangelho e a revolução que São Pio X denunciava
há mais de um século (5). Como é que homens da Igreja podem
encontrar valores positivos ou assuntos de edificação em tais vícios, que são
outras tantas situações de pecado?
Mons. Huonder é rejeitado por seus
colegas
No dia 31 de julho de 2015 um
bispo suíço valentemente lembrou o ensinamento moral da Igreja sobre estas questões
durante uma conferência intitulada “O casamento: dom, sacramento e
missão”. Mons. Vitus Huonder, bispo de Chur, se expressava na Alemanha,
Fulda, no Fórum Deutscher Katholiken. Como teve a
desgraça de citar a Sagrada Escritura (Levítico,
18, 22 e, especialmente, Levítico 20, 13:
“Aquele que pecar com um homem, como se ele fosse uma mulher, ambos cometeram uma coisa execranda, sejam punidos de morte; o seu sangue caia sobre eles”),
o bispo de Chur foi objeto de um “veredicto mediático”, ou seja, de uma campanha de pressão organizada por certos grupos de lobby homossexuais destacada pelos meios de comunicação e por várias figuras públicas. Por mais que Mons. Huonder tentasse acalmar os ânimos e esclarecesse que ele tinha citado uma dúzia de outras passagens das Escrituras tiradas do Antigo e Novo Testamento, que tinha tomado essencialmente o ensino do Catecismo e que, obviamente, não tinha a intenção de chamar ao assassinato dos homossexuais, nada conseguiu. O presidente do Partido Democrata Cristão, Christophe Darbellay, qualificou as palavras do bispo de Chur como “inaceitáveis”.
Pior ainda, a Conferência
dos Bispos Suíços rejeitou rapidamente o seu colega de episcopado, que é objeto
de uma denúncia junto aos tribunais e recebeu ameaças de morte. O Presidente
desta Conferência, Dom Markus Büchel, bispo de São Galo, declarou alegrar-se:
“de cada relacionamento em que os
parceiros da união se aceitam mutuamente como filhos amados de Deus” (sic).
E acrescentou:
“Nossos conhecimentos atuais sobre a
homossexualidade como um investimento afetivo e orientação sexual não escolhido
livremente não eram conhecidos nos tempos bíblicos”.
De modo que hoje a Igreja tem o dever de acompanhar
os homossexuais em seu modo de vida:
“Um caminho no qual possam integrar a
sua forma particular de relacionamento e sua sexualidade como um dom de Deus em
sua vida” (sic).
Não se poderia preparar melhor o reconhecimento e a
bênção deste tipo de união. Especialmente porque o Presidente da Conferência
Episcopal acrescenta que a Igreja deve “encontrar
uma nova linguagem, adequada às situações e às pessoas (6)’’.
Finalmente, Mons. Charles Morerod, Bispo de
Genebra, Lausanne e Friburgo, dizia ao jornal Le Temps, de 12 de Agosto de
2015, que “o fato de ser homossexual, especialmente sem escolha pessoal, não
é um crime, nem um pecado”. E explicava que a maioria dos homossexuais
descobriu-se como tais, sem vontade deliberada e, portanto, sem
responsabilidade moral!
Assim, a história recordará que foi necessário esperar
até o século XXI para que os homens da Igreja tratassem de justificar
teologicamente os comportamentos mais vergonhosos ou infames. Mons. Morerod
afirma que a moral cristã não é praticável integralmente a não ser para aqueles
que têm a fé, mas esquece de mencionar que, mesmo sem a fé todos os homens
podem julgar a retidão de suas inclinações. O que
aconteceu com a lei natural? A virtude da castidade, que é parte
da virtude cardeal da temperança, não obriga a todos os homens dotados de
razão?
O que vai acontecer no próximo Sínodo?
Por medo ou covardia, encorajados também – lamentavelmente – pelas palavras do Papa
Francisco, que convidam a dar provas de acolhida e de misericórdia para com os
homossexuais (“Se uma pessoa é gay (7) e busca ao
Senhor com boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” (8),
subjugados pelo “espírito do Concílio”, que quis proclamar um novo
humanismo centrado no culto ao homem e à pessoa (9),
os homens da Igreja desprezam de agora em diante os deveres do próprio cargo.
Parecem esquecer a existência da moral natural mais elementar, como se enquanto
nossos contemporâneos não aceitam a fé fosse inútil pregar-lhes os bons
costumes.
Além disso, como ensina São Paulo aos Romanos,
sem a fé em Jesus Cristo, todos os homens estão em pecado e sob a ameaça da ira
divina. O mundo atual, que rejeitou o seu Salvador, sua Lei de amor e os
seus mandamentos, voltou a cair no paganismo mais vergonhoso, do qual o
Apóstolo dos gentios não teme descrever como paixões de ignomínia:
“Por isso Deus entregou-os a paixões de
ignomínia. Efetivamente as suas próprias mulheres mudaram o uso natural em
outro uso, que é contra a natureza, e, deste modo, também os homens, deixando o
uso natural da mulher, arderam nos seus desejos mutuamente, cometendo homens
com homens a torpeza e recebendo em si mesmos a paga que era devida ao seu
desregramento” (Romanos 1, 26 – 27). (10)
Mas se são culpados aqueles que se entregam a isso,
são ainda mais culpados “os que aprovam aos
que fazem tais coisas” (ibídem, 1, 32). Pois “Ai de vós os que ao
mal chamais bem, e ao bem mal, que tomais as trevas por luz, e a luz por trevas” (Isaías, 5, 20). Possa o próximo Sínodo, sob a
autoridade do Sumo Pontífice, dissipar a fumaça de Satanás que obscurece a luz
da fé e da razão.
Cristo disse
em primeiro lugar aos pastores do rebanho:
“Vós sois a luz do mundo. Não pode
esconder-se uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lucerna, e se
põe debaixo do alqueire, mas sobre o candeeiro, a fim de que de luz a todos os
que estão em casa” (Mateus 5, 14-15).
Padre Christian Thouvenot, FSSPX
Fonte: DICI.org – DICI nº. 320 de 09.11.15
- A destruição de Sodoma e Gomorra se narra no Livro do Gênesis, capítulos 18 y 19.
- Padre Dominique Prümmer, O.P.: “Manual de teología moral”, Herder, 1961, tomo I, núm. 360.
- Cfr. Gênesis, 19, 1-29; Romanos, I, 24-27; I Coríntios, 6, 9-10; I Timóteo, 1,10.
- Congregação para a Doutrina da Fe, declaração “Pessoa humana”, 29 de dezembro de 1975, núm. 8.
- En “La Lettre sur le Sillon”, 25 de agosto de 1910.
- Cat.ch – APIC, 9 de agosto de 2015.
- Palavra inglesa com que se refere a um homossexual.
- Conferencia de prensa del 28 de julio de 2013.
- “Nós também, nós mais que ninguém, temos o culto do homem”.
- “É um pecado gravíssimo e abominável diante de Deus e dos homens; rebaixa ao homem à condição dos animais sem razão, o arrasta a muitos outros pecados e vícios y acarreta os mais terríveis castigos nesta vida e na outra” (“Grande Catecismo de São Pio X”, Os mandamentos de Deus, Dominique Martin Morin, 1967, p. 97.
Nota dos Editores do Blog Prontidão Total:
Este Blog não é um Blog religioso - nossos editores, muitos colaboradores e leitores são católicos ou mesmo de outros credos.
Só não consta que tenhamos ateus em nosso meio.
Mesmo sendo um Blog político tem momentos em que sentimos necessidade de assumir uma postura religiosa, o que neste POST fazemos, especialmente quando a FAMÍLIA, a MORAL e os BONS COSTUMES estão ameaçados.
Procuramos mostrar aos nossos leitores, com publicação fundamentada, que o tão louvado homossexualismo, a tão decantada (que continua inconstitucional) união entre pessoas do mesmo sexo, está entre as mais repugnantes ignomínias.
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