publicado em 08 de novembro de 2015 às 00:02
Estação de Tratamento de Água (ETA) Rio Grande. Foto: Banco de Imagens da Sabesp
06/10/2015 17:22
Alckmin entrega água contaminada com metais pesados e agrotóxicos ao ABCD
Dados de captação da Sabesp na Billings foram expostos em audiência pública em Santo André
A
presença de metais pesados e agrotóxicos foi encontrada na água já
tratada da ETA (Estação de Tratamento de Água) Rio Grande, ou seja, na
água que chega nas torneiras da população de São Bernardo, Diadema e 50%
de Santo André. Os dados são de laudos da própria Sabesp (Companhia de
Saneamento Básico do Estado de São Paulo) ao qual a Defensoria Pública
do Estado de São Paulo teve acesso, de acordo com o defensor público
Marcelo Novaes, via Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de
Santo André). As informações foram apresentadas em audiência pública
sobre contaminação de agrotóxicos em alimentos e água realizada nesta
terça-feira (06/10), em Santo André.
Audiência pública discutiu contaminação de alimentos e água por agrotóxico. Foto: Andris Bovo
“Estamos
chegando a um ponto de quase não retorno com a água. E vale ressaltar
que a Vigilância Sanitária não fiscaliza, ou seja, a Sabesp é quem
fiscaliza a água que ela mesma entrega”, observou Marcelo Novaes,
responsável pela investigação e divulgação dos dados da audiência
pública.
“Jogamos
todo tipo de imundície na nossa água, porque criou-se um mito de que lá
na estação de tratamento toda a sujeira sai, que o cloro tira tudo. Mas
isso não é verdade, os contaminantes químicos deixam resíduos”, revelou
a engenheira química Sônia Corina Hess, professora e doutora da
Universidade Federal de Santa Catarina, que analisou os laudos da Sabesp
a pedido da Defensoria Pública de Santo André.
Nas
amostras analisadas entre 2012 e 2015 na ETA Rio Grande, foram
encontrados cádmio, chumbo, fluoreto, níquel, urânio, glifosato
(agrotóxico), trihalometanos, alumínio dissolvido e surfactantes. A
maioria está dentro dos níveis permitidos pela portaria 2.914, do
Ministério da Saúde, que trata da potabilidade da água, apesar de prever
o monitoramento de apenas 27 dos 467 agrotóxicos registrados no Brasil.
Mas o chumbo apresentou níveis 40% acima do limite imposto pela
portaria. “Esse mínimo de segurança não é segurança. São produtos
químicos tóxicos e não sabemos o que essa mistura, em longo prazo, causa
no nosso organismo, mesmo em pequenas quantidades”, argumentou Sônia.
SAÚDE
Apesar
de o glifosato ser considerado um agrotóxico de baixa toxidade, se
comparado com outros no mercado, pesquisas internacionais mostram que é
potencialmente cancerígeno, além de causar diabetes, doenças cardíacas,
depressão, infertilidade, mal de Alzheimer e mal de Parkinson.
“Hoje
43,8% do mercado brasileiro usam o glifosato, porque pouquíssimas
pessoas sabem o quanto é perigoso”, revelou a professora da Universidade
Federal de Santa Catarina.
O
defensor público explicou ainda que esse tipo de agrotóxico vai parar
na água porque quando pulverizado para agricultura se infiltra do solo e
atinge as águas subterrâneas, lençóis freáticos e mananciais. “Deveria
ser proibido o uso de agrotóxicos próximo aos mananciais”, destacou
Novaes.
Além
do agrotóxico, os metais pesados como níquel, cádmio e trihalometanos
(subproduto criado da mistura do cloro e esgoto) também causam câncer.
“O câncer é a segunda causa de morte no Brasil e, diante desses números,
tende a aumentar”, comentou Sônia.
Outro
dado que preocupou a engenheira química foi a presença de urânio na ETA
Rio Grande. “É preciso investigar de onde está vindo isso. Até
recomendo que sejam feitos os testes novamente, porque é muito grave”,
afirmou. Já o chumbo causa danos aos rins, fígado, sistema nervoso,
cérebro, órgãos reprodutores e na região gastrintestinal.
SABESP
Em
nota, a Sabesp garante que a qualidade da água fornecida aos clientes
mantém os altos padrões exigidos pela portaria 2.914/2011 do Ministério
da Saúde. Considerando todos os municípios atendidos pela companhia, o
percentual de conformidade da água tratada, seguindo cinco parâmetros
básicos (turbidez, cor, cloro, coliformes fecais e escherichia coli)
teve média de 99,13% em 2013; 99,13%, em 2014; e 98,94%, em 2015
(janeiro a junho).
A
empresa ainda informou que tem, no total, 17 laboratórios de controle
sanitário. Nesses laboratórios especializados são realizadas, em média,
mais de 62 mil análises mensais. Todos os resultados são encaminhados
mensalmente para as Vigilâncias Sanitárias locais, conforme prevê a lei.
A empresa ressaltou também que as informações sobre as análises de
qualidade da água são impressas nas contas encaminhadas todos os meses
às residências dos clientes – conforme determinações do decreto
presidencial 5.440/05.
SEMASA
Em
nota, o Semasa esclareceu que a informação de que entregou laudos
elaborados pela Sabesp à Defensoria Pública não procede. “A autarquia
municipal informa que não produz análise da qualidade da água tratada no
Sistema Rio Grande. Seguindo os parâmetros determinados pelo Ministério
da Saúde, o Semasa atesta diariamente a qualidade da água entregue em
Santo André pela companhia estadual, que é distribuída em 95% da cidade.
Os relatórios elaborados mensalmente pelo Semasa, que demonstram a
qualidade da água que chega aos moradores de Santo André, podem ser
conferidos no site da autarquia. Os parâmetros adotados também estão
impressos na conta de consumo do usuário”, informa a nota
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