22/11/2015
O mar agitado em Regência, distrito de Linhares, no Espírito Santo, tornou-se uma barreira natural e deixou estancada na foz do rio Doce a lama vinda do rompimento de uma barragem em Mariana (MG), a aproximadamente 700 km de distância dali. Perto do limite do rio com o mar, peixes cobertos de barro agonizam, boiando na água barrenta misturada à limpa e salgada.
Máquinas
escavadeiras tentaram abrir duas valas no banco de areia que divide o
rio e o mar, para liberar a lama. A primeira passagem foi feita na noite
de sábado (21), em momento de maré baixa, com a esperança de que o rio
tivesse forças de empurrar seu leito barrento em direção ao mar, mas o
nível do mar logo subiu e barrou a água enlameada.
Na manhã deste domingo (22), nova
tentativa também fracassou. As máquinas foram, então, colocadas em outro
trecho estreito que liga a foz ao mar, para que a passagem seja
alargada.
O material com rejeitos de minério
chegou ao mar na tarde deste sábado. Boias de contenção foram
instaladas, por determinação judicial, pela Samarco, mineradora
controlada pela Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, responsável
pela barragem rompida em Minas. Oito pessoas morreram, 11 estão
desaparecidas e ainda há quatro corpos que aguardam identificação.
São duas camadas de contenção instaladas
por pescadores contratados pela Samarco, ao longo de 9 km da foz do
Doce. Elas estão encostadas na área de alagação, uma vegetação
semelhante ao mangue, que margeia o rio.
A primeira camada é de boias vermelhas,
emendadas entre si, seguida de um plástico amarelo, este mais profundo.
As duas não impediram a lama mais fina de chegar ao mar e se espalhar.
Segundo os pescadores, a informação repassada por funcionários da
Samarco é que esse material de contenção deve ser eficaz para camadas
mais espessas de lama que ainda vão chegar à foz, com iodo e pó de
minério na água.
A Samarco foi procurada pela reportagem na tarde deste domingo, mas não houve resposta.
PEIXES AGONIZANTES
A reportagem percorreu de barco na manhã
deste domingo o trecho em que a água marrom se encontra com o mar.
“Enquanto estiver este vento sul, empurrando o mar contra o rio, as
ondas ficam altas, chegando a 2 ou 2,5 metros de altura, então a pressão
do mar é grande e não tem jeito de a lama escoar”, disse o mestre de
embarcação Helio Alcântara, que conduz o barco.
Uma linha bem nítida marca a divisão da
água doce barrenta com a salgada, ainda limpa, e uma espuma fina se
forma no encontro delas. Boiam na união destas águas restos de vegetação
e peixes quase mortos.
Pescador há 28 anos, Arnoilton Alves
Pereira, 53, que está ao fundo do barco, estica as mãos para segurar um
dos peixes que agonizam. Ele se espanta ao ver o tipo que segura: um
bagre-mandi. Segundo ele, esta espécie dificilmente pode ser vista na
foz do rio, porque vive a quilômetros mais acima do leito.
Ele passa os dedos pelo corpo do peixe, e
encontra uma camada de lama. O palpite de Arnoilton é que os
bagre-mandis nadaram rio abaixo, em direção à foz, fugindo da lama, mas
ficaram encurralados ao chegar perto do mar. Foram não só asfixiados,
sem oxigênio com a água doce barrenta, mas também não resistiram ao
contato com a água salgada e morreram.
“Eu não gosto de olhar para isso, não. É muito ruim ver a gente ver o bicho agonizando assim, na sua mão”, lamenta o pescador.
(Via folha e agências)
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