quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Empresa da Vale extermina rio: até cascudo está morrendo na bacia do Doce; “leito cimentado”, diz ambientalista

FORUM das ONGS Ambientalistas

publicado em 11 de novembro de 2015 às 00:04

Vídeo do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) enviado por Lydiane Ponciano; arte na capa do Geo Político

https://vimeo.com/145344364


RIO DOCE FOI ‘CIMENTADO’

Danos ambientais são irreversíveis, avalia ambientalista

Rejeito de mineração funciona como ‘cimento’, e vai acabar com a pesca em grande parte da calha do rio, segundo Marcus Vinícius Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão
Augusto Franco, em O Tempo, 09/11/2015


Os danos ambientais em consequência do rompimento da barragens de rejeitos na localidade de Bento Rodrigues, em Mariana, serão permanentes e vão acabar com a pesca em parte dos rios Guaxalo do Norte e Rio do Carmo, que desaguam no Rio Doce.
O próprio Rio Doce, por sua vez, também pode ser afetado pelo grande volume de lama de rejeito da mineração, e terá a vida aquática comprometida.


A avaliação é do coordenador do Projeto Manuelzão, Marcus Vinicius Polignano. O projeto ambiental, ligado à Universidade Federal de Minas Gerais, monitora a atividade econômica e seus impactos ambientais nas bacias hidrográficas dos principais rios mineiros.
Segundo Polignano, o rompimento das barragens da Samarco no distrito de Bento Rodrigues é, sem dúvidas, a maior tragédia ambiental da história de Minas Gerais. Isso porque, além de destruir totalmente o povoado, a lama que estava represada pode inviabilizar a pesca em uma área enorme.

O ambientalista explica que a lama de rejeito de mineração não é tóxica, mas isso não significa que seus efeitos não sejam danosos. Segundo ele, a natureza do material, a sílica (tipo de areia) misturada à lama rica em ferro funciona, na prática, como uma espécie de ‘cimento’.

“Esse material é inerte, e nele não nasce praticamente nada. Ele recobre o leito e as reentrâncias e pedras do fundo do rio, mudando radicalmente todo o ecossistema”, destaca.
O resultado da camada de ‘cimento’ sobre o rio é que, além de matar peixes, algas, invertebrados, répteis e tudo o que recobriu, a lama acaba com os locais onde estas espécies se abrigavam e reproduziam. Buracos em pedras, altos e baixos do rio são aplainados e recobertos com o material viscoso.

O leito do rio se torna praticamente estéril.

“Sabemos que muitas espécies de peixes sobem para as nascentes para se multiplicar. Agora essas nascentes estão recobertas de lama”, diz.

Outro problema grave é que a lama chegou até a foz do rio, no Espírito Santo. Isso significa que o Rio Doce pode ter consequências em toda a sua extensão. “Essa tragédia chegou a 400 quilômetros do ponto de origem. Levaremos anos para compreender  melhor efeito devastador desse acidente, mas seguramente eles serão muito graves”, diz Polignano.

Pequenos agricultores também serão afetados

Além do leito do rio, nos locais onde a margem foi recoberta com lama, é muito difícil que as roças de pequenos agricultores sejam retomadas.

Tradicionalmente, as áreas de várzea são onde o solo é mais rico para a agricultura, por ter mais matéria orgânica. Essas áreas, recobertas, perdem seu potencial de produção. Em muitos casos, retirar a lama com enxada ou mesmo maquinário pesado pode ser inviável.


“É importante ressaltar que, quanto mais próximo do acidente, maior o impacto da lama. Mas é inegável que haverão consequências para os moradores de toda a extensão do rio”, afirma o ambientalista.

*****
por André Ruschi, no Facebook


Esta sopa de lama tóxica que desce no rio Doce descerá por alguns anos toda vez que houver chuvas fortes e irá para a região litorânea do ES, espalhando-se por uns 3.000 km2 no litoral norte e uns 7000 km2 no litoral ao sul, atingindo três UCs marinhas – Comboios, APA Costa das Algas e RVS de Santa Cruz, que juntos somam uns 200.000 ha no mar.


Os minerais mais tóxicos e que estão em pequenas quantidades na massa total da lama, aparecerão concentrados na cadeia alimentar por muitos anos, talvez uns 100 anos.


RVS de Santa Cruz é um dos mais importantes criadouros marinhos do Oceano Atlântico.
1 hectare de criadouro marinho equivale a 100 ha de floresta tropical primária.


Isto significa que o impacto no mar equivale a uma descarga tóxica que contaminaria uma área terrestre de de 20.000.000 de hectares ou 200.000 km2 de floresta tropical primária.
E a mata ciliar também tem valor em dobro. 
Considerando as duas margens são 1.500 km lineares x 2 = 3.000 km2 ou 300.000 ha de floresta tropical primária.


Voces não fazem ideia.


O fluxo de nutrientes de toda a cadeia alimentar de 1/3 da região sudeste e o eixo de ½ do Oceano Atlântico Sul está comprometido e pouco funcional por no mínimo 100 anos!
Conclusão: esta empresa tem que fechar. Além de pagar pelo assassinato da 5ª maior bacia hidrográfica brasileira.

Eles debocharam da prevenção e são reincidentes em diversos casos.

Demonstram incapacidade de operação crassa e com consequências trágicas e incomensuráveis.

Como não fechar? 
Representam perigo para a segurança da nação!
O que restava de biodiversidade castigada pela seca agora terminou de ir.

Quem sobreviverá?

Quais espécies de peixes, anfíbios, moluscos, anelídeos, insetos aquáticos jamais serão vistas novamente?

A lista de espécies desaparecidas… foram quantas?

Se alguém tiver informações, ajudaria a pensar.

Barragens e lagoas de contenção de dejetos necessitam ter barragens de emergência e plano de contingência.

Como licenciar o projeto sem estes quesitos cumpridos?

Qual a legalidade da licença para operação sem a garantia de segurança para a sociedade e o meio ambiente?

Sendo Rio Federal, a jurisdição é do governo federal; portanto, os encaminhamentos devem serem feitos ao MPF.

André Ruschi


Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi


Aracruz, Santa Cruz, ES

PS do Viomundo: O maior desastre ambiental da história do Brasil — a segunda P52 do FHC, desta vez em terra — não merece uma mísera análise de água e da lama que não seja feita pela própria empresa causadora da destruição.


Veja também:
Um vôo de drone sobre o rio do Carmo, a 50 km de onde as barragens romperam

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