quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Levy no limite de resistência


Carlos Chagas

O PT do Lula continua sua campanha contra Joaquim Levy. As críticas vem em ondas, como o mar, ainda que esta semana tenha tomado volume desmedido. Não chega a ser um tsunami, mas daria para promover um campeonato de surf. 


Como o PT do Lula é majoritário no partido, recrudesceram os boatos sobre a substituição do atual ministro da Fazenda por Henrique Meirelles. A presidente Dilma não gosta dele, mas a influência do ex-presidente continua ampla. Pode ser que Madame não resista, dada a permanência da crise econômica e a quase paralisação dos projetos do ajuste fiscal.


No meio do bate cabeça começa a germinar uma hipótese nova: o próprio Joaquim Levy chegar ao limite da tolerância e pedir para sair. Melhor dizendo, sair por conta própria. Deixar de resistir numa função que apenas o desgasta.


No fundo da tertúlia entre Madame e o antecessor está o impasse nas bases partidárias do governo. Além da maioria do PT, colocam-se contra Levy consideráveis setores do PMDB e penduricalhos. No caso, suas motivações transcendem a crise econômica.


Referem-se às barreiras que o ainda ministro da Fazenda levanta contra as indicações acertadas antes pelo vice-presidente Michel Temer, o ex-chefe da Casa Civil, Aloysio Mercadante, e agora seu substituto, Jacques Wagner, que n ão progridem. O palácio do Planalto promete, a presidente Dilma concorda ou fecha os olhos, mas Joaquim Levy faz ouvidos de mercador e não nomeia, pelo menos em sua área de influência. A base oficial estrila, reage e faz coro com o Lula.


Na hipótese do ingresso de Meirelles no governo não seria diferente, pois o ex-presidente do Banco Central pensa do mesmo jeito. Não vê como se possa superar a crise sem medidas de contenção, a começar pelo fim da prevalência da fisiologia sobre a luta contra a inflação. Não haveria grande diferença entre ele e o atual ministro, até iria mais além do que Levy nas sugestões de cortes e contenções.


Com o agravante de sua personalidade, que Dilma detesta: infenso ao diálogo e às concessões aos políticos, se chegasse ao comando da política econômica logo enfrentaria resistências iguais ou maiores nos círculos partidários.


Em suma, o impasse continua, com a evidência de que a chefe do governo sofreria mais uma diminuição de autoridade caso atendesse a nova imposição de seu mestre, nomeando Meirelles. A verdade é que Joaquim Levy chegou ao limite de resistência.


ALTERNATIVA IMPROVÁVEL
Entre os tucanos, movimenta-se um grupo minoritário mas singular, daqueles que pregam uma aproximação com o governo. Diante de uma situação intolerável na economia, por que não colaborar para uma espécie de união nacional, acima e além das considerações sucessórias?


Uma trégua no confronto entre oposição e situação para encontrar a agenda nacional capaz de debelar a crise. Essa remota possibilidade passaria por nova estratégia comum de recuperação nacional. Nada de novo loteamento do ministério, mas apenas uma alteração: Tasso Jereissati no comando da política econômica.


Dias atrás o senador pronunciou um dos mais importantes discursos da atual sessão legislativa, mais do que de críticas à equipe econômica, de sugestões sobre como sair do fundo do poço.


Na hipótese improvável dessa tentativa, por que não se dividirem responsabilidades?
Na primeira grande crise do governo José Sarney, face à necessidade de um novo comandante da economia, o então presidente chegou a convidar o governador do Ceará, Tasso Jereissati, para ministro da Fazenda.


Ele chegou a embarcar num jatinho em Fortaleza, rumo a Brasília. Fez meia volta em pleno vôo depois que o todo-poderoso Ulysses Guimarães vetou seu nome e impôs Bresser Pereira. Que tal a presidente Dilma recrutar Tasso Jereissati, dentro da união nacional?


Apareceria um novo candidato presidencial no ninho tucano, mas essa seria preocupação para Aécio Neves, em 2018...

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