Senadores resistem a fazer Conselho de Ética funcionar
Isabela Bonfim e Daniel Carvalho - O Estado de S.Paulo
29 Novembro 2015 | 03h 00
Além de PT e PMDB evitarem ofensiva contra Delcídio, regras do colegiado estimulam arquivamento ou morosidade de processos
BRASÍLIA - O processo de cassação do líder do governo no
Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), no Conselho de Ética da Casa pode nem
começar por causa da burocracia prevista no Código de Ética do Senado e
da resistência nos partidos que controlam o órgão.
O código permite que o
presidente do colegiado, João Alberto Souza (PMDB-MA), engavete de
imediato possível representação contra o senador.
Delcídio foi preso preventivamente na semana passada
pela Polícia Federal acusado de tentar atrapalhar as investigações da
Operação Lava Jato. Quatro partidos de oposição – PSDB, DEM, PPS e Rede –
prometem representar contra ele na terça-feira.
Renan, que preside o Senado, e João Alberto, presidente do Conselho de ÉticaA tendência no PT e no PMDB, legendas com maior número de
representantes no conselho, porém, é evitar uma ofensiva contra
Delcídio. A maioria dos petistas, incluindo os três integrantes do
colegiado – José Pimentel (CE), Regina Souza (PI) e Paulo Rocha (PA) –
votou na quarta-feira da semana passada por revogar a prisão do líder de
governo, mas foi derrotada. A bancada do partido se opôs ao Diretório
Nacional, que divulgou nota negando solidariedade ao senador.
O PMDB também resiste a um processo de cassação, pois teme que
ele abra precedentes indesejáveis. Quatro peemedebistas são
investigados pela Lava Jato e, eventualmente, podem ser questionados no
colegiado. Trata-se de Renan Calheiros (AL), presidente do Senado,
Romero Jucá, Edison Lobão (MA) e Valdir Raupp (RO).
Renan, que deixou claro seu posicionamento favorável à
revogação da prisão de Delcídio, também não demonstrou interesse em
abrir o processo no Conselho de Ética contra o petista, ato que ele
poderia cumprir por meio de ofício da Mesa Diretora do Senado.
‘Engavetador’.Fora a
indisposição dos partidos aliados ao governo, há ainda obstáculos no
Código de Ética. Mudanças no texto foram feitas em 2008, poucos meses
após as sucessivas denúncias que levaram Renan a renunciar à presidência
da Casa.
Cabe ao presidente do Conselho de Ética decidir se aceita ou
arquiva o processo. À frente do colegiado pela quarta vez, o
peemedebista tem fama de “engavetador”. Ele arquivou, em 2010, por
exemplo, processo contra o ex-presidente da República e ex-senador José
Sarney (PMDB-AP), seu aliado.
Na votação que decidiria o destino de Delcídio, João Alberto,
próximo a Renan, foi favorável tanto à votação secreta quanto à
revogação da prisão do senador. Caso ele arquive a representação, pelo
menos cinco senadores precisam apoiar eventual recurso, que precisa ser
votado pelo plenário do conselho.
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