quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Melhor se os dois renunciassem

Carlos Chagas

Pequenos detalhes costumam encobrir grandes entreveros. Quem divulgou os termos da carta de Michel  a Dilma? A própria, num repente de indignação? Ou o vice, demonstrando mágoa e ressentimento? 
O lobisomem não foi, ou seja, um dos dois traiu   os mais elementares postulados de educação cívica. Tanto faz se as cartas pessoais pertencem a quem enviou ou  a quem recebe. Só falta mesmo culparem  a imprensa  pela divulgação.

Até agora Madame não respondeu aos lamentos de seu substituto, certamente para não vestir a carapuça expressa na evidência de que realmente, nos últimos cinco anos,  tratou o  vice como peça decorativa.


Não é a primeira vez que um presidente despreza seu vice. Getúlio mal cumprimentava Café Filho. Jânio Quadros devolveu a única  carta que João Goulart mandou.  Mesmo entre os generais-presidentes, Castello Branco não permitiu que  José Maria Alckmin dispusesse de um carro oficial.


Ernesto Geisel jamais consultou Adalberto Pereira dos Santos e João Figueiredo deu as costas a Aureliano Chaves. Mesmo Fernando Collor ignorou Itamar Franco.


Teria Dilma Rousseff a obrigação de dividir  seu governo  em condomínio com Michel Temer? No reverso da medalha, o vice teria muitos  motivos para agastar-se diante da autoria  de conceitos e opiniões  que  jamais exarou.


Em suma, uma briga de comadres. Importa menos saber se foi dona Mariquinhas ou dona Maricota quem começou com a disputa.  Ambas dão vexame na calçada do subúrbio onde farpas correm de um lado para outro. Merecem-se,  as duas.  Enquanto isso, o país segue em frangalhos, vivendo um de seus piores momentos. Para o cidadão que paga impostos, melhor se Dilma e Temer renunciassem.


Dessa luta plena de golpes dados abaixo da  linha da cintura, a pergunta que  fica refere-se ao dia seguinte.  Escapando do impeachment, Dilma precisará encontrar-se muitas vezes com Temer. Solenidades existem onde a presença dos dois é imprescindível.


Cumprimentos,  sorrisos, beijinhos? Mas se a presidente vier a ser afastada, deverão despedir-se? Naquele monte de decisões a tomar, pelo jeito sem ter tido informações dos temas de governo, ousará o sucessor informar-se com a antecessora?

O Brasil oferece ao mundo um espetáculo digno das maiores reprimendas. Qualquer que seja o desenlace fornecido pelo Congresso, sua consequência colocará frente a frente PMDB e PT.


Lutarão com paus e pedras, conforme antiga previsão de Albert Einstein  a respeito de como seria a Quarta  guerra mundial, depois de terminada a Terceira...

Nenhum comentário: