quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Carlos Chagas--- O risco da derrota ou saltar de banda




O crime não é (apenas)comprar um apartamento, mesmo de luxo, a preço incompatível com a renda do comprador. Crime  é permitir que uma empreiteira envolvida em corrupção com dinheiro da Petrobras se encarregue das obras de reforma e complementação do  imóvel, sem ônus para o proprietário. 


Fica evidente a relação entre a empresa e o beneficiário, em especial se ele foi presidente da República e favoreceu a outra parte  flagrada pela Justiça praticando  negócios ilícitos como  superfaturamento de contratos, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, entre outros. Sobre o Lula pesa a acusação  de ocultação de patrimônio.  


É  o  que  deve enfrentar, prestes a ser denunciado pelo Ministério Público de São Paulo. A empreiteira OAS assumiu a construção do empreendimento e  entregou as chaves do imóvel ao ex-presidente da República sem que até agora ele tenha provado que pagou pelo serviço.


Cabe ao PT defender seu criador? Por questão de lealdade, não. Afinal, o partido nada tem a ver com as atividades privadas do Lula. As conferências que pronunciou, as viagens que fez ao exterior, financiadas por empresas cujos interesses defendeu junto a governos estrangeiros, incluem-se no rol das práticas contrárias à imagem que deveria preservar. A cada dia, como agora no caso do apartamento triplex  no  Guarujá, surgem novas denúncias de malfeitos debitados à ação irresponsável do Lula.


A pergunta que se faz é se, condenado ou não em longos e  arrastados processos na Justiça, ele terá o respaldo dos companheiros para candidatar-se à sucessão de Dilma Rousseff, em 2018. Tudo indica que se tiver vontade, será lançado, mas enfrentará profunda reação de seus adversários. Precisará defender-se em cada palanque ou debate a que compareça.  Correrá o risco de rejeição em suas próprias bases.


Será diante dessas dúvidas que o Lula decidirá. Claro que voltar a ser presidente constitui seu principal objetivo, mas disputar sem a certeza da vitória constituirá um risco.  Ainda mais frente a uma performance mais do que  sofrível da sucessora, que precisará contestar caso eleito. Há quem recomende que salte de banda, mesmo sem perspectiva de ser substituído por outro companheiro.


Em suma, o ex-presidente não está premido pelos  fatos. Há tempo para decidir-se. Mas entre correr  o risco da derrota ou saltar de banda,  sempre haverá o sonho de reviver tempos que possivelmente não voltam mais.

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