quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Fórum de Davos pessimista com Quarta Revolução Industrial


A quarta revolução industrial implicará na perda de 5 milhões de empregos nos próximos cinco anos nas principais economias mundiais, segundo avaliação dos organizadores do Fórum Econômico Mundial, que está ocorrendo em Davos, na Suíça.

Além da perda de empregos, a quarta revolução industrial provocará "grandes perturbações não só no modelo dos negócios, mas também no mercado de trabalho nos próximos cinco anos", indica um estudo da entidade que organiza o Fórum de Davos.

Desafios e oportunidades do "ecossistema inteligente"


Caminhamos em direção a um mundo em que não apenas telefones, tablets e televisores, mas toda a casa, os veículos, as indústrias, as fazendas, os dispositivos médicos e tudo aquilo que nos cerca serão um pouco mais "espertos" - com alguma inteligência embutida.


Esse esperado "ecossistema inteligente" já está começando a tomar forma dentro das fábricas, mas, com a Internet das Coisas ampliando seu alcance, os aparelhos de consumo também estarão integrados, equipados com sensores para coleta de dados em tempo real e conectados à internet.

Pesquisadores do Brasil e da Alemanha reuniram-se em São Paulo na última semana de setembro para discutir os impactos das novas tecnologias na forma como vivemos e trabalhamos, bem como os riscos e as implicações do compartilhamento de dados pessoais no ciberespaço.


Quarta Revolução Industrial
Segundo Reiner Anderl, professor da Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha, estamos vivendo atualmente o período da quarta revolução industrial. "É o surgimento da indústria 4.0 e, com ela, de novas cadeias de valor e novos modelos de negócio", afirmou.

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Depois da computação pessoal, agora chegou a vez da "produção pessoal", viabilizando a criação de fábricas domésticas. [Imagem: Cortesia Justin Plichta/Universidade Tecnológica de Michigan]
De acordo com Anderl, a primeira revolução industrial do século 19 baseou-se na invenção do tear mecânico e no uso da energia a vapor. No início do século 20 veio a segunda onda, com a introdução da linha de montagem e da produção em massa. A terceira teve início na década de 1970 com a automação da produção e a tecnologia da informação (TI).


A quarta revolução industrial, algumas vezes chamada também de Segunda Revolução Digital, está baseada no chamado sistema ciberfísico.


"Ele pode ser definido por dois principais aspectos. Um é tornar os sistemas físicos mais inteligentes, equipando-os com sensores e acesso à internet, permitindo conectividade e comunicação. Outro é tornar as simulações das funcionalidades, ou seja, o virtual, muito mais realista," explicou Anderl.
Na indústria 4.0, o grande volume de dados coletados o tempo todo pelas máquinas é enviado para a nuvem, onde é monitorado e avaliado por programas especialistas. Nas fábricas, os sensores dizem para as máquinas como elas devem operar, em um sistema descentralizado no qual os diversos setores se comunicam.


"Isso permite identificar, por exemplo, um aumento de temperatura em um determinado equipamento, bem como prever que isso poderá causar um defeito dentro de alguns dias e interromper a produção. Podemos então realizar uma manutenção preventiva", disse Anderl.


As novas tecnologias levam ao surgimento de novos modelos de negócio. Sensores instalados nos produtos poderão avisar quando uma manutenção é necessária. As peças de reposição, hoje fabricadas na matriz e exportadas para os mercados consumidores em todo o mundo, podem agora ser produzidas por impressoras 3D localmente, reduzindo os custos.


"Uma fabricante de turbinas de aviação, por exemplo, em vez de ganhar apenas com a venda do produto, pode lucrar com um contrato de manutenção. Também é vantajoso para a companhia aérea, pois o produto sai a um preço mais baixo," avaliou Anderl.

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Em tempos de crise econômica, são várias as tecnologias que se espera poderem ajudar a salvar a economia mundial. [Imagem: WEF]
Interconectividade e flexibilidade
É claro que os impactos no mercado de trabalho são grandes. Segundo Arnold Picot, da Universidade Ludwig Maximilian, as relações de trabalho da era digital são marcadas pela interconectividade e pela flexibilidade.


"Os processos de trabalho e de produção podem ser controlados de qualquer lugar e a qualquer momento. A tendência é a dissolução das estruturas industriais estabelecidas e uma menor separação entre vida pessoal e profissional," disse Picot.


O trabalho nessa nova "economia sob demanda" tende a se orientar em torno de projetos, que integram de maneira flexível diferentes modelos: equipes locais, terceirizados, trabalho coletivo, freelancers e outros. "Cria-se o modelo 'trabalhadores na torneira', ou seja, a torneira dos trabalhadores é aberta e fechada na medida do necessário", disse Picot.


Ainda segundo o professor Picot, a tendência é de crescimento de postos de trabalho que exigem baixa capacitação e pagam pouco, bem como os de alta capacitação e altos salários. Aqueles de nível intermediário tendem a diminuir, o que pode levar a uma sociedade mais desigual.

"Não devemos nunca esquecer nessas discussões que o trem está se movendo, quer a gente queira ou não. Isso está acontecendo. Creio que a questão é: queremos ou não fazer parte do processo e nos beneficiar com a mudança? É preciso agir para não perder empregos e nos valermos dos novos postos que estão surgindo", afirmou Dieter Rombach, da Instituto Fraunhofer.


Por outro lado, há um sem-número de oportunidades de novos pequenos negócios, verdadeiras fábricas domésticas viabilizadas pelas impressoras 3D e sistemas de controle numérico de baixo custo.
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Assim como o Linux impulsionou a informática, espera-se que as impressoras 3D de código aberto viabilizem uma "Era das Máquinas Livres". [Imagem: Pearce/Science]


Privacidade e ética
Segundo Rombach, todos os objetos ganham uma vida digital no ecossistema inteligente, produzem dados por meio de observação com sensores, guardam uma história que possibilita fazer previsões, são influenciados pelos dados e se adaptam - esta é a Internet das Coisas.


Isto traz mudanças em todos os aspectos sociais. As oportunidades incluem os novos postos de trabalho que surgem com base em novos modelos de negócios; a superação de desafios demográficos relacionados a serviços de saúde, ensino e outros aspectos da vida; e a otimização de recursos naturais por meio de economias compartilhadas. Já os riscos estão principalmente associados a aspectos de segurança e privacidade dos dados.


Como lembrou Dennys Antonialli, especialista em direito constitucional pela Universidade de São Paulo, a maior parte dos megadados (big data) gerados pela Internet das Coisas é composta de dados pessoais, que podem ser organizados, analisados e usados, com ajuda de algoritmos, para influenciar de forma invisível processos decisórios, como o aluguel de um imóvel ou a contratação de um funcionário ou de um serviço.


"São dados sobre você que podem ajudar empresas ou indivíduos a prever coisas sobre você e essas previsões podem ser imprevisíveis. Podem até mesmo gerar uma discriminação que é invisível. Como controlar o que não vemos e não entendemos?", disse Antonialli


Segundo Antonialli, enquanto a União Europeia adotou uma legislação rígida para proteger a privacidade de dados pessoais, os Estados Unidos acreditam que a liberdade no compartilhamento de dados favorece a inovação e o lucro das empresas. No Brasil, há projetos de lei sobre o tema em discussão no Congresso Nacional, tendendo mais para o modelo europeu.


"Um melhor entendimento das regras, leis e princípios que caracterizariam um estado de comportamento responsável no ciberespaço aumentaria a transparência internacional, a previsibilidade e contribuiria para reduzir a instabilidade," afirmou o embaixador da Alemanha no Brasil, Dirk Brengelmann.
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