ESTADÃO - 02/02
Se em relação a Luiz Inácio Lula da Silva a Operação Lava Jato e afins não conseguirem revelar nada mais do que até agora veio a público, já estará mais do que demonstrado um traço importante do comportamento do ex-presidente que o desqualifica como homem público incorruptível ou, como ele próprio se definiu, a “alma mais honesta” do País: a promiscuidade com empresários corruptos como o ex-presidente da construtora OAS, condenado a 16 anos de reclusão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no escândalo da Petrobrás.
Se em relação a Luiz Inácio Lula da Silva a Operação Lava Jato e afins não conseguirem revelar nada mais do que até agora veio a público, já estará mais do que demonstrado um traço importante do comportamento do ex-presidente que o desqualifica como homem público incorruptível ou, como ele próprio se definiu, a “alma mais honesta” do País: a promiscuidade com empresários corruptos como o ex-presidente da construtora OAS, condenado a 16 anos de reclusão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no escândalo da Petrobrás.
Pressionado,
Lula confessou, em nota divulgada por seu instituto, o que já se
tornara indesmentível: fez uma visita, em 2014, a “uma unidade
disponível para venda no condomínio”, o famoso tríplex do Edifício
Solaris, no Guarujá, acompanhado de Marisa Letícia e de Léo Pinheiro,
então firme no comando de sua empreiteira, que havia assumido a
construção do prédio.
Após a visita – segundo a nota, sob o título Os
documentos do Guarujá: desmontando a farsa –, o casal concluiu que o
apartamento “não se adequava às necessidades e características da
família, nas condições em que se encontrava”. Aparentemente, para
satisfazer o casal, Léo Pinheiro mandou fazer novas reformas, que foram
fiscalizadas, ainda segundo a nota, em outra visita de Marisa Letícia,
desta vez acompanhada do filho Fábio Luís.
Não é necessário
especular sobre os motivos que teriam levado a OAS a assumir a
construção do Solaris após a quebra da Bancoop nem as razões que teriam
convencido a família Lula da Silva a desistir da ideia de ter um luxuoso
apartamento naquele prédio.
A pergunta para a qual Lula não tem
resposta é a seguinte: por que, afinal, Léo Pinheiro se dispôs a
apresentar pessoalmente ao ilustre casal a reforma que sua construtora
havia realizado no tríplex e, quando foi informado de que o imóvel “não
se adequava às necessidades” de uma família exigente, ordenou nova
reforma, que a própria ex-primeira-dama viria a conferir pessoalmente
pelo menos uma vez?
As razões de Léo Pinheiro são fáceis de
imaginar. Lula, na condição de ex-presidente da República e maior líder
do partido que continuava no poder, já havia desembolsado boa soma para a
aquisição do imóvel e, mais que isso, merecia a deferência especial da
presença do dono da construtora na singela apresentação da unidade
reformada.
E Pinheiro acertou, pois os Lula da Silva efetivamente se
interessaram pelo negócio, já que o generoso anfitrião do encontro
garantiu que o deixaria nos trinques. Só desistiram dele, meses mais
tarde, no segundo semestre do ano passado, depois que a imprensa passou a
publicar, segundo a nota, “notícias infundadas, boatos e ilações que
romperam a privacidade necessária ao uso familiar do apartamento”, seja
lá o que isso queira dizer.
As razões de Lula, homem público com
ambições que não esconde, é que interessam aos brasileiros. Não se trata
de questionar a lisura do negócio em que a família se envolveu.
Trata-se de constatar que Lula, que sempre demonstrou desprezo pelos
rigores éticos da “moral burguesa”, se permitiu expor publicamente uma
relação promíscua com um empresário desonesto – relação que, a bem da
verdade, precede de muito o caso do tal tríplex – interessado em
transformar “laços de amizade” em ativos financeiros.
A relação espúria Lula-Léo Pinheiro se reproduz em muitas outras do gênero que povoam o ambiente de promiscuidade entre política e negócios, com uma infinidade de “amigos do peito do presidente”.
A relação espúria Lula-Léo Pinheiro se reproduz em muitas outras do gênero que povoam o ambiente de promiscuidade entre política e negócios, com uma infinidade de “amigos do peito do presidente”.
Ela é a própria essência
do secular e corrupto sistema patrimonialista que trava o
desenvolvimento do País. Um sistema que, pelas injustiças que tende a
provocar – o caso Bancoop é um magnífico exemplo –, sempre esteve na
mira do PT enquanto era oposição. Um sistema ao qual Lula e seus
seguidores se renderam sem o menor constrangimento há 13 anos, sob o
argumento falacioso de que, para fazer bem ao povo, é preciso garantir a
“governabilidade” a qualquer custo. Essa é a verdadeira farsa que a
Lava Jato está desmontando.
Lula e seus fiéis escudeiros, tendo à frente
o notório José Dirceu, sempre se apresentaram como heróis ao povo
brasileiro. Nunca passaram de homens comuns, daqueles que se deixam
corromper pelas circunstâncias. Ao contrário deles, heróis mudam as
circunstâncias e conservam suas virtudes. Lula e a tigrada nunca foram
nem serão heróis – não passam de homens ordinários. Ordinaríssimos.
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