Noruega responsabiliza Petrobras por corrupção, ameaça retirar capital e vê chance de ‘sinal claro para o Brasil e o resto do mundo’ na punição de executivos, políticos e funcionários
Há um ano no
comando da Petrobras, o administrador Aldemir Bendine ainda não
conseguiu reverter o ceticismo de investidores sobre os rumos da “nova
companhia”, como costuma qualificar. Na quinta-feira passada, viu-se
confrontado pela desconfiança.
Enquanto Bendine divulgava no Rio o
seu “abrangente, estruturante, complexo e revolucionário” projeto de
mudanças administrativas na Petrobras, a 10,4 mil quilômetros de
distância, em Oslo, o Banco Central da Noruega anunciava a revisão dos
investimentos do país em ações da empresa brasileira “por causa do risco
de corrupção grave”.
O governo da Noruega é dono de uma fatia de
0,61% do capital da Petrobras. Comprou ações da estatal , no governo
Lula, com o dinheiro de um fundo formado com royalties do petróleo. O
aviso sobre a possível retirada de capital ainda neste ano é importante
porque esse fundo norueguês é o maior investidor global. Seus ativos
superam US$ 750 bilhões, soma do PIB da Argentina e do Chile, e incluem
1,3% das ações de nove mil empresas relevantes em 75 países.
A
reclassificação da Petrobras foi recomendada pelo Conselho de Ética do
fundo, depois de seis meses de análises e consultas à administração
Bendine. O órgão concluiu que “a Petrobras tem responsabilidade pela
corrupção grave”. Alertou sobre “o risco inaceitável” de a empresa ter
cometido crimes puníveis na Noruega. Também advertiu sobre o perigo de
“atos semelhantes no futuro”, por duvidar que o controle anticorrupção
da estatal seja “suficientemente eficaz”.
Cinco conselheiros
examinaram provas judiciais sobre subornos pagos a diretores e gerentes:
“O alcance da corrupção indica que o resto da direção da empresa deve
ter tido conhecimento do que acontecia”, escreveram.
[até na Noruega Dilma seria considerada culpada pela corrupção na
Petrobras, especialmente pela compra da enferrujada e obsoleta Refinaria
de Pasadena, Texas.]
A estatal
argumentou ser vítima de crimes cometidos por ex-empregados. Eles
refutaram: “À luz dos fatos, isso dá a impressão de que a empresa nega
qualquer responsabilidade.” A Petrobras vai enfrentar problemas
similares nos Estados Unidos, prevê Isabel Franco, especialista na
legislação americana anticorrupção. “A diplomacia pode até conseguir que
a promotoria peça uma punição mais leve. Mas na SEC (Comissão de
Valores Mobiliários), a Petrobras e seus diretores não têm como escapar.
Não haveria como explicar aos que já foram punidos.” Na lista de
sanções da SEC por corrupção destacam-se Siemens, Alstom, Halliburton,
BAE, Total e Alcoa, entre outras.
Em Oslo, quatro grupos (Sevan, Akastor, Uglands e Acergy) começaram 2016 sob investigação por suspeita de pagamento de US$ 43 milhões em propinas ao ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada e o gerente Eduardo Musa, condenados ontem em Curitiba.
A
procuradora norueguesa Marianne Djupesland rastreia pagamentos a Zelada
e Musa feitos pelos brasileiros, Raul Schmidt Felippe Jr. e João
Henriques, e pelo francês Miloud Alain Hassene Daouadji.
A
dimensão extraterritorial da corrupção na Petrobras fez o Conselho de
Ética do fundo sugerir às autoridades da Noruega que considerem o caso
como paradigma, um “sinal claro para o Brasil e o resto do mundo” de que
“ninguém vai ficar sozinho — nem os executivos seniores, nem os
melhores políticos, nem os funcionários públicos.”
Bendine precisa ser mais eficaz para erguer a “nova companhia”, como imagina.
Fonte: O Globo - José Casado
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