ASCOM
Você deve saber
Do Estadão
Segundo
estudo americano, áreas plantadas reciclam menos água que vegetação
natural do bioma: avanço rápido da agricultura sobre o cerrado pode
reduzir precipitação também na Amazônia
O
rápido avanço da expansão agrícola sobre o cerrado na última década
pode estar alterando o ciclo de águas e reduzindo as chuvas não só no
bioma, mas na Amazônia, de acordo com um novo estudo realizado por
cientistas americanos.
A
pesquisa, liderada por especialistas da Universidade de Vermont, nos
Estados Unidos, mostra que a expansão da fronteira agrícola, que
anteriormente se concentrava na Amazônia, passou a predominar no cerrado
na última década, quando as plantações rapidamente substituíram a
vegetação nativa.
Os
autores da pesquisa, publicada na revista Global Change Biology, usaram
dados de satélites dos últimos dez anos para estudar as mudanças no uso
do solo em uma região de cerrado que se estende por 45 milhões de
hectares, no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia - onde predominam
plantações de soja, milho e algodão.
Com
base nesses dados, os pesquisadores usaram modelos matemáticos para
estimar a quantidade de água que é reciclada do solo e das plantas para a
atmosfera, em um processo conhecido como evapotranspiração. Eles
concluíram que as grandes plantações reciclam menos água que as áreas
cobertas por vegetação nativa, segundo a autora principal do estudo,
Stephanie Spera, da Universidade Brown, nos Estados Unidos.
"A
medida que a agricultura se expande, a mudança de uso do solo pode
afetar o regime de chuvas que mantém tanto a vegetação natural como a
própria produção agrícola, não apenas no cerrado, mas também na
Amazônia", disse Stephanie ao Estado.
Segundo
ela, os ventos que prevalecem nessas regiões de cerrado levam as massas
de ar para o oeste, na direção da Floresta Amazônica. Essa umidade
proveniente do cerrado contribui então para as chuvas na Amazônia.
"Metade das chuvas da Amazônia é água reciclada por evapotranspiração.
Por isso, uma redução da umidade dessas massas de ar pode causar uma
queda das chuvas por lá também", afirmou Stephanie.
Desequilíbrio:
De
acordo com a pesquisadora, o avanço contínuo da fronteira agrícola no
cerrado, promovido por políticas do governo brasileiro, desequilibra o
ciclo de águas, especialmente durante a estação seca. A consequência é a
redução das precipitações ou o retardamento das estações chuvosas nos
dois biomas.
"Na
estação das chuvas, as plantações reciclam a mesma quantidade de água
que a vegetação nativa. No entanto, durante a estação seca, as áreas
agrícolas reciclam 60% menos água do que as plantas originais do
cerrado", afirmou.
Na
área estudada nos quatro estados, a quantidade de terra dedicada a
plantações praticamente dobrou, segundo Stephanie, passando de 1, 3
milhões de hectares em 2003 para 2, 5 milhões de hectares em 2013.
"Cerca de três quartos dessa expansão ocorreram sobre a vegetação do
cerrado", disse.
Cultivo duplo:
Embora
a expansão agrícola no cerrado possa ameaçar as chuvas na região,
segundo o estudo, o problema pode ser amenizado, de acordo com os
cientistas, com o uso da técnica de cultivo duplo - quando duas culturas
diferentes são plantadas na mesma área na mesma estação.
"Em
termos de evapotranspiração, a água que é reciclada pelo solo e pelas
plantas, voltando à atmosfera, as áreas com cultivo duplo se comportam
de uma maneira mais parecida com a da vegetação nativa", disse um dos
autores do estudo, Gillian Galford, da Universidade de Vermont, nos
Estados Unidos. "O cultivo duplo amplia o período em que a
evapotranspiração das plantações é equivalente a da vegetação nativa",
afirmou o pesquisador.
Segundo
ele, o uso de cultivo duplo na região estudada do cerrado aumentou de
2% das áreas agrícolas em 2003 para mais de 26% em 2013. "Sem esse
crescimento do cultivo duplo, a redução da reciclagem de água nas
plantações teria sido 25% pior naquela década, afirmou Galford.
"Políticas que estimulem o cultivo duplo podem ser uma saída para
mitigar o efeito nocivo da expansão agrícola sobre o ciclo de água do
cerrado, disse.
Foto: Estadão
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