quinta-feira, 7 de abril de 2016

Desmatamento do Cerrado para expansão do agronegócio afeta chuvas



 

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Do
Estadão

Segundo estudo americano, áreas plantadas reciclam menos água que vegetação natural do bioma: avanço rápido da agricultura sobre o cerrado pode reduzir precipitação também na Amazônia

O rápido avanço da expansão agrícola sobre o cerrado na última década pode estar alterando o ciclo de águas e reduzindo as chuvas não só no bioma, mas na Amazônia, de acordo com um novo estudo realizado por cientistas americanos.

A pesquisa, liderada por especialistas da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, mostra que a expansão da fronteira agrícola, que anteriormente se concentrava na Amazônia, passou a predominar no cerrado na última década, quando as plantações rapidamente substituíram a vegetação nativa.

Os autores da pesquisa, publicada na revista Global Change Biology, usaram dados de satélites dos últimos dez anos para estudar as mudanças no uso do solo em uma região de cerrado que se estende por 45 milhões de hectares, no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia - onde predominam plantações de soja, milho e algodão. 


Com base nesses dados, os pesquisadores usaram modelos matemáticos para estimar a quantidade de água que é reciclada do solo e das plantas para a atmosfera, em um processo conhecido como evapotranspiração. Eles concluíram que as grandes plantações reciclam menos água que as áreas cobertas por vegetação nativa, segundo a autora principal do estudo, Stephanie Spera, da Universidade Brown, nos Estados Unidos.


"A medida que a agricultura se expande, a mudança de uso do solo pode afetar o regime de chuvas que mantém tanto a vegetação natural como a própria produção agrícola, não apenas no cerrado, mas também na Amazônia", disse Stephanie ao Estado.


Segundo ela, os ventos que prevalecem nessas regiões de cerrado levam as massas de ar para o oeste, na direção da Floresta Amazônica. Essa umidade proveniente do cerrado contribui então para as chuvas na Amazônia. "Metade das chuvas da Amazônia é água reciclada por evapotranspiração. Por isso, uma redução da umidade dessas massas de ar pode causar uma queda das chuvas por lá também", afirmou Stephanie.


Desequilíbrio:
De acordo com a pesquisadora, o avanço contínuo da fronteira agrícola no cerrado, promovido por políticas do governo brasileiro, desequilibra o ciclo de águas, especialmente durante a estação seca. A consequência é a redução das precipitações ou o retardamento das estações chuvosas nos dois biomas.


"Na estação das chuvas, as plantações reciclam a mesma quantidade de água que a vegetação nativa. No entanto, durante a estação seca, as áreas agrícolas reciclam 60% menos água do que as plantas originais do cerrado", afirmou.


Na área estudada nos quatro estados, a quantidade de terra dedicada a plantações praticamente dobrou, segundo Stephanie, passando de 1, 3 milhões de hectares em 2003 para 2, 5 milhões de hectares em 2013. "Cerca de três quartos dessa expansão ocorreram sobre a vegetação do cerrado", disse.


Cultivo duplo:
Embora a expansão agrícola no cerrado possa ameaçar as chuvas na região, segundo o estudo, o problema pode ser amenizado, de acordo com os cientistas, com o uso da técnica de cultivo duplo - quando duas culturas diferentes são plantadas na mesma área na mesma estação.


"Em termos de evapotranspiração, a água que é reciclada pelo solo e pelas plantas, voltando à atmosfera, as áreas com cultivo duplo se comportam de uma maneira mais parecida com a da vegetação nativa", disse um dos autores do estudo, Gillian Galford, da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos. "O cultivo duplo amplia o período em que a evapotranspiração das plantações é equivalente a da vegetação nativa", afirmou o pesquisador.


Segundo ele, o uso de cultivo duplo na região estudada do cerrado aumentou de 2% das áreas agrícolas em 2003 para mais de 26% em 2013. "Sem esse crescimento do cultivo duplo, a redução da reciclagem de água nas plantações teria sido 25% pior naquela década, afirmou Galford. "Políticas que estimulem o cultivo duplo podem ser uma saída para mitigar o efeito nocivo da expansão agrícola sobre o ciclo de água do cerrado, disse.

Foto: Estadão


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