domingo, 5 de junho de 2016

Gêmos indígenas escapam da morte no Pará


Tendo como base a crença de que partos múltiplos são sinal de mal agouro, caciques arawete proíbem as crianças de viver com os país na aldeia. Os bebês só não foram mortos porque nasceram em um hospital

Por: Leonardo Coutinho - Atualizado em
Gêmeos que nasceram na aldeia Arawete, no Pará, que estão ameaçados de infanticídio
Gêmeos que nasceram na aldeia Arawete, no Pará, que estão ameaçados de infanticídio(VEJA.com/Divulgação)
O nascimento de gêmeos na aldeia dos índios arawete, no Pará, causou preocupação no início da semana. O caso chamou a atenção dos funcionários do hospital local diante do risco de as crianças serem assassinadas quando retornassem com os país para aldeia. O infanticídio indígena é um problema ainda persistente no Brasil.


Segundo profissionais de saúde envolvidos no caso, as crianças somente foram salvas porque a mãe apresentou complicações durante o parto e ela foi removida para o Altamira, onde os gêmeos nasceram e estão internados. Segundo eles, se as crianças tivessem nascido na aldeia, são altas as chances de que eles tivessem sido mortas.

Segundo o coordenador do Conselho Distrital de Saúde Indígena, Uwira Xakriaba, "o sistema de crenças (do povo arawete) traz sérias consequências para a continuidade de sua existência, isto está embasado por sua mitologia tupi, onde os gêmeos mitológicos foram responsáveis por uma série de ações envolvendo possibilidades de fim do mundo como o conhecem.

Na mitologia, um dos gêmeos foi responsável pelo cataclismo universal que alagou o mundo, não podemos esquecer que no quintal da casa desse povo foi construída a UHE Belo Monte."

Em nota, Uwira Xakriaba negou que o casal tenha rejeitado os filhos. "O que aconteceu foi a determinação por parte dos pajés, que os gêmeos não podem viver na aldeia, pois isso teria consequências para todo o povo."

A representação da Funai no Pará nega a possibilidade de infanticídio e diz que está conduzindo o caso para preservar as crianças e a etnia. Procurada, a Funai em Brasília, não se manifestou sobre a condução do caso.

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