quarta-feira, 5 de agosto de 2015
São cinco fatores fundamentais que geram a atual crise hídrica brasileira.
O primeiro, alertado por vários cientistas, é a possível ruptura no ciclo de nossas águas. Em resumo, grande parte delas tem origem na evapotranspiração da floresta amazônica, sendo carreada para o sul, centro-oeste e sudeste pelos rios voadores. Com a derrubada da floresta amazônica os rios voadores estão perdendo força.
Completa essa ruptura o desmatamento do Cerrado, que tem como consequência sua impermeabilização. O Cerrado não está na origem do ciclo de nossas águas, mas tem o papel fundamental de armazená-las em tempos de chuva e depois liberá-las para nossas bacias hidrográficas em tempos de estiagem. É o que os técnicos chamam de vazão de base. Ela garantia a perenidade de nossos rios, a exemplo do São Francisco. Hoje porém, com menos absorção, não garante mais.
O segundo fator é a escassez
qualitativa. Destruídos, poluídos, muitas vezes os mananciais estão ao
lado de nossas casas, cortando nossas cidades, mas impróprios para o
consumo humano e doméstico. O exemplo mais clássico são as águas do
Tietê do Pinheiros em São Paulo. Mas podemos estender essa lógica a
todos os rios que atravessam centros urbanos, desde os pequenos até os
grandes.
O terceiro fator é a expansão do uso da água para fins
econômicos, particularmente a agricultura irrigada. Hoje temos 6 milhões
de hectares irrigados e eles são responsáveis por 72% da água doce
consumida no Brasil. Entretanto, estudiosos dizem que temos potencial
para mais 29 milhões de hectares – outros falam em 60 milhões -,
sobretudo no território do agronegócio chamado de MATOPIBA, iniciais de
Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
O quarto fator é o
hidronegócio. A mercantilização da água despertou cobiça no mundo
inteiro em seus múltiplos usos, particularmente dos serviços de
abastecimento urbano e na água envazada. Quando um bem essencial à vida
como a água é apropriado privadamente e mercantilizado, passa a ser
gerido pelas regras absolutistas do mercado. A consequência é o preço
exorbitante da água para populações mais pobres e o lucro soberbo das
empresas que adquirem esses serviços. O que aconteceu em Itu e nas
periferias da grande São Paulo ilustram esse fator de forma cabal.
Finalmente,
o descuido. Não temos nenhuma política de educação, ética do cuidado
com nossos mananciais ou a utilização de nossas águas. Mesmo quando a
questão é abordada, simplesmente prefere-se transferir o problema para
os consumidores domésticos, exatamente a parte menos influente na crise.
A
ruptura do ciclo das águas + escassez qualitativa + expansão da demanda
+ hidronegócio – cuidado. Eis a equação da crise perfeita e perversa.
Roberto
Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em
Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São
Francisco.
Fonte: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário