quinta-feira, 24 de agosto de 2017
Existe uma crença que boa lavagem, cloro ou iodo possam remover
agrotóxicos dos alimentos. Pelo que se depreende, atualmente ocorre
absorção dos agrotóxicos pelo metabolismo das culturas vegetais. Por
isso, se imagina que seja tarefa impossível a remoção dos agrotóxicos
dos alimentos.
Receitas caseiras a base de água sanitária, água oxigenada, iodo, hipoclorito, bicarbonato e carvão ativado, podem afetar a tireoide.
Os agrotóxicos são substâncias químicas ou biológicas normalmente
utilizadas para combater possíveis pragas que podem vir a causar danos
aos cultivos. São herbicidas que combatem ervas daninhas, inseticidas
que combatem pragas e fungicidas que atuam sobre fungos e uma série de
outras substâncias.
Os agrotóxicos são divididos basicamente em grupos de transmissão por
contato ou sistêmicos. Os agrotóxicos sistêmicos, mais usados
atualmente penetram no fruto desde a seiva e se incorporam ao ácido
desoxirribonucleico (DNA) do vegetal. Logo, não podem ser removidos como
resíduo físico. Seu acúmulo no organismo leva ao câncer, alergias em
geral, doenças generativas e desequilíbrios hormonais. Em gestantes,
podem ser teratogênicos e causar má formação fetal.
Higienizar os vegetais é fundamental para eliminar possíveis parasitas
contudo, remove apenas parte ínfima dos agrotóxicos usados nos cultivos.
Para eliminar micro-organismos biológicos e parasitas em geral, o mais
recomendado é deixar de molho em soluções à base de cloro ou cloreto de
sódio e permanganato de potássio, produtos tradicionalmente à venda em
supermercados e distribuídos gratuitamente em postos de saúde mantidos
pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na ausência de ambos, soluções de
limão ou vinagre diluídos em água resolvem perfeitamente.
O brasileiro já consome em média 5 litros anuais de agrotóxicos, muitos
dos quais proibidos em outros países, que são adulterados e
contrabandeados sem qualquer controle. Consumir produtos orgânicos, além
de ser mais recomendável para a saúde, fortalece a agricultura
familiar, mantém a terra nas mãos de pequenos produtores, não financia a
agroindústria de agrotóxicos e de transgênicos e qualquer produtor de
fertilizantes sintéticos, que não contaminam apenas os alimentos, mas
também o solo e os lençóis freáticos do entorno.
Deixar vegetais de molho no vinagre antes de levá-los à mesa pode ser
ótimo para matar micróbios, mas nem sempre vai funcionar quando se quer
tirar agrotóxicos de frutas e verduras, relataram especialistas ouvidos
por sites de órgãos de comunicação como G1.
Em 15 de 20 culturas analisadas pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), foram encontrados ingredientes ativos em processo de
reavaliação toxicológica junto à agência, como o endossulfan em pepino e
pimentão; acefato em cebola e cenoura; e metamidofós em pimentão,
tomate, alface e cebola.
Para o engenheiro de alimentos Carlos Eduardo Sassano, professor da
Universidade de Guarulhos, o problema seria resolvido se os agrotóxicos
fossem utilizados da maneira correta. “Se fossem usados dentro dos
padrões permitidos, não teria problema”, defende. Se questiona se existe
maneira correta e adequada de manejar esta venenama.
Ocorre lembrar de experiência pessoal emblemática. Colaboradora do
serviço de higienização de um grande hospital, referência no
centro-oeste brasileiro, dentro de sua concepção humilde e sincera,
certa noite numa ala destinada a pacientes com câncer terminal, fez
constatação diagnóstica da maior relevância.
Indivíduos de origem europeia, expostos a substâncias cancerígenas desde
a primeira revolução industrial, da máquina a vapor, estão exibidos ao
contágio de substâncias químicas potencialmente cancerígenas. Aduziu que
estes pacientes eram amplamente hegemônicos na referida ala hospitalar.
Cidadãos de origem afrodescendentes, segundo a colaboradora, costumavam
ir a óbito por “unha encravada” numa clara alusão de um “chiste”,
”blague” ou pilhéria jocosa.
De 3.130 amostras coletadas pela agência, 29% apresentaram algum tipo de
irregularidade. A dificuldade cresce nas situações em que há penetração
da substância.
De acordo com o médico Wanderlei Pignati, as estatísticas não mostram
essas doenças relacionadas a agrotóxicos porque é difícil fazer exames
para identificar substâncias tóxicas no organismo. “Aqui em Mato Grosso,
se eu quiser fazer uma análise de suspeita de resíduos de agrotóxicos
no sangue ou na urina, tenho que mandar a amostra para o Rio de Janeiro
ou São Paulo”.
Os fabricantes de defensivos agrícolas, por meio da Associação Nacional
de Defesa Vegetal (ANDEF), defendem que os produtores rurais estão cada
vez mais preocupados em aplicar corretamente os agrotóxicos.
“A ANDEF considera fundamental tranquilizar a população quanto à
segurança dos alimentos tratados com defensivos aplicados de acordo com
as recomendações agronômicas e oficialmente registrados”, afirmou a
instituição em nota divulgada à imprensa.
A preocupação com resíduos tóxicos na comida ganhou força quando um
relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) indica a
alta presença de agrotóxicos nos alimentos brasileiros.
Segundo Anthony Wong, diretor médico do Centro de Assistência
Toxicológica (CEATOX) da Faculdade de Medicina da USP, “se o agrotóxico
for de superfície, de aplicação limitada à parte externa do alimento,
elimina-se o risco na maioria das vezes lavando bem”, diz. Os casos do
morango e do tomate, por exemplo, poderiam ser “facilmente resolvidos”
assim. Mas como já se viu, hoje os agrotóxicos empregados são
predominantemente sistêmicos ou metabólicos.
O médico Wanderlei Pignati, professor de Saúde Ambiental na Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT), é mais cético em relação à água. Para
ele, “lavar os alimentos não resolve praticamente nada. Vai eliminar o
agrotóxico que tem na casca, mas o grande problema está dentro”, afirma.
Ocorre enfatizar que nada é contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida
sempre foi e parece que sempre será o sistema que melhor recepciona a
liberdade e a democracia. Mas uma nova autopoise sistêmica para o
arranjo social, é urgente, principalmente nesta exposição irresponsável a
que se submete a vida humana.
Referência:
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia
Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em
Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Fonte: EcoDebate
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