terça-feira, 7 de novembro de 2017

O Globo – ‘Não temos como financiar todas as iniciativas’ / Entrevista / Everton Lucero

Secretário de Mudanças do Clima e Florestas do Ministério do Meio Ambiente diz que Brasil também deve buscar recursos na COP-23

O Brasil pode assumir compromissos mais ambiciosos contra as mudanças climáticas?
Nossa meta é a única compatível para que o aquecimento do planeta seja inferior a 2 graus Celsius. Já sabemos como nos portar até 2025, e temos uma ação preliminar para 2030. A maior preocupação do governo é descobrir como implementar o que prometemos, e não rediscutir os índices que foram apresentados.

De que forma ocorrerá esta implementação?
Preparamos uma articulação com diversos ministérios e áreas da economia. No ano passado, convidamos o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, que é nosso canal de diálogo com a sociedade, para uma série de estudos setoriais. Recebemos sugestões de ações que o governo deve tomar. Agora, precisamos analisá-las e montar estratégias.

O governo tem recursos para tirar as propostas do papel?
Este é o grande nó. São planos que envolvem 11 áreas. Não temos como financiar todas as iniciativas sobre o clima com recursos públicos. Daí vem a importância da Conferência de Bonn: não condicionamos o cumprimento de nossas metas à chegada de recursos internacionais, mas não renunciaremos a eles. Devemos lembrar que a proteção da Amazônia é um valor difuso para o planeta inteiro. Portanto, se todo o mundo se beneficia dessa iniciativa, vamos sensibilizar os participantes da convenção para que façam um pagamento por estes serviços ambientais.


Mas as conferências costumam priorizar o financiamento aos países mais pobres, e não ao Brasil, que é uma das maiores economias do mundo.
Não tenho nada contra isso. De fato, os recursos para adaptação devem ser maiores para os países menos desenvolvidos. Mas as ações de mitigação terão um efeito muito maior se a verba for destinada aos grandes poluidores, como Brasil, China e Índia.

Além da busca por recursos internacionais, o que mais pode ser feito?
É importante que os riscos relacionados aos eventos extremos não sejam encarados apenas como despesas. Por exemplo, se uma empresa construir uma barragem sem levar em conta o que ocorrerá no meio ambiente daqui a 20 anos, sua infraestrutura terá uma vida útil encurtada. Se prestar atenção no que acontecerá à sua volta, aumentará a eficiência energética do projeto. Portanto, muitas dessas ações geram uma compensação financeira no futuro.

A iniciativa privada tem demonstrado interesse no combate às mudanças climáticas?
Sim, diversos setores sinalizaram que querem contribuir com o governo. É o caso do agronegócio, que pode ser afetado se nada for feito contra as mudanças climáticas, já que depende de fenômenos naturais, como a regulação de recursos hídricos.

Nenhum comentário: