Algumas palavras sobre esta tal biodiversidade
A
professora de uma turminha de alunos do ensino fundamental de uma
escola privada do Rio de Janeiro pediu aos alunos que pesquisassem e
escrevessem sobre biodiversidade. Fiquei sabendo disso ao acaso, em
conversa com amigos. E hoje, em vez de escrever sobre o início do Fórum Mundial das Águas
que está acontecendo em Brasília, ou mesmo sobre as mudanças do clima
que serão provocadas pela chegada do outono, decidi dar uma ajuda a quem
interessar possa. Meu post, portanto, vai para a meninada de 8 a 10
anos, geração que em 2050 estará na faixa dos 40, certamente já sofrendo
na pele as consequências diretas das atitudes pouco cuidadosas das
gerações que têm subestimado o meio ambiente.
O
foco deste texto será, portanto, a biodiversidade. A primeira
informação é que se trata de uma palavra que começou a ser muito
conhecida depois da Conferência Mundial do Meio Ambiente que aconteceu
no Rio de Janeiro em 1992, também chamada Cúpula da Terra.Naquele
encontro, 150 líderes mundiais assinaram a Convenção sobre Diversidade
Biológica (CDB), que reconhece que a diversidade biológica é mais do que
plantas, animais e microorganismos e seus ecossistemas: estamos
tratando de pessoas e de sua necessidade de segurança alimentar. Afinal,
o ambiente natural é que proporciona as condições básicas, sem as quais
a humanidade não conseguiria viver no planeta.
“O
que sabemos é que se alguma parte dessas condições se quebra, o futuro
da humanidade no planeta estará em risco”, diz o texto de apresentação
sobre a biodiversidade que pode ser lido no site da Convenção.
Busquei
mais definições para o tema biodiversidade e encontrei no livro
“História Social da Borracha”, de Carlos Carvalho, fotógrafo que passou dez anos documentando a vida dos seringueiros, um texto que a define de maneira mais poética. E lindamente:
“Sem
a floresta à sua volta, as castanheiras não podem ser polimerizadas
pelos insetos porque eles não têm autonomia de voo para alcançarem o
topo dessas árvores que chegam a 50 metros de altura. Esses insetos
precisam das outras árvores que servem de escada para que de escala em
escla alcancem a copa e façam a fecundação. Assim, mesmo estando vivas,
as castanheiras param de produzir. Daí a designação dada pelos
seringueiros, de cemitério das castanheiras”.
No
dia 22 de maio é celebrado o Dia Internacional da Biodiversidade, pois é
a data em que foi aprovado o texto final da Convenção da Diversidade
Biológica. Nesse texto, está mais do que claro que a conservação da
diversidade biológica deve ser uma preocupação comum à humanidade e que
os Estados são responsáveis pela utilização sustentável dos seus
recursos biológicos. Mas, infelizmente, não tem sido assim. A humanidade
tem, seguidamente, desdenhado dessa tarefa. Não fosse esse desdém,
possivelmente nem precisaríamos estar reunidos, como está acontecendo em
Brasília, para debater sobre a água.
Vale a pena ler mais um trecho do texto sobre a Convenção Biológica que está no site da CDB:
“A
diversidade biológica – a variabilidade da vida na Terra – é a chave
para a capacidade de a biosfera continuar fornecendo bens e serviços
ecológicos. No entanto, como espécie, somos degradantes e, em alguns
casos, destruímos a capacidade de diversidade para continuar a realizar
esses serviços. O século XX viu aumentar em quatro vezes o número de
humanos que estão habitando o planeta e um crescimento de dezoito vezes
na produção econômica mundial. Com isso, vieram padrões insustentáveis
de consumo e o uso de tecnologias ambientalmente inadequadas. Há agora
mais de sete bilhões de humanos e estamos colocando tensões sem
precedentes na capacidade do planeta. Pior ainda, os frutos desse
crescimento são extremamente desigualmente divididos”.
O
Brasil é apontado pelos cientistas como o país com maior biodiversidade
do mundo – de cada 5 ou 6 espécies de plantas no planeta, uma ocorre
aqui. E tem povos, entre nós, que sabem muito bem como preservar toda
essa riqueza. Os indígenas, os quilombolas, as populações ribeirinhas
têm essa preocupação porque sabem que sua vida na Terra depende de
preservar.
Só
que a palavra preservação arrepia as pessoas que entendem o
desenvolvimento a qualquer custo como um processo inerente à condição
humana, sem o qual não conseguiríamos estar no planeta. E, dentro dessa
necessidade de extrair os recursos da natureza para dar conforto ao
homem, lá se vão embora muitas espécies. E lá se vai, assim, a
biodiversidade. Atualmente, segundo especialistas da ONG WWF estamos usando 25% a mais de recursos naturais do que o planeta é capaz de fornecer.
Um
exemplo da ameaça que já atinge a todos nós é, justamente, a perda da
água doce. E lá vamos nós, de novo, encostar no tema que está sendo
debatido no Fórum Mundial das Águas, o principal encontro para discutir
os recursos hídricos do planeta e que, pela primeira vez, está
acontecendo no Hemisfério Sul.
Há
mais informações importantes aqui: o Brasil tem a maior reserva de água
doce do mundo. Cerca de 12% da água doce superficial do planeta correm
em nossos rios e bacias e temos ainda grandes reservas de águas
subterrâneas e chuvas abundantes em 90% do nosso território.
Mas desmatamos muito, e sem cobertura florestal natural, a água vai-se
embora. Outra questão séria é a poluição: nossos rios são tratados como
esgotos a céu aberto. E eles já foram fonte de água potável, ou seja, já
serviram para que pudéssemos matar nossa sede.
Há
muito mais o que falar sobre os maus tratos à biodiversidade. Escolho a
história das abelhas para terminar o texto. São insetos que têm a
capacidade de aumentar em 25% o
rendimento dos alimentos que comemos. Porque são polinizadoras:com
exceção de alimentos básicos como trigo, arroz ou milho, que são
polinizados pelo vento, todos os outros alimentos ricos em
micronutrientes dependem das abelhas. Ocorre que as abelhas estão
desaparecendo, sobretudo na Europa e na América do Norte, mas aqui no
Brasil também já se está observando o fenômeno.
Não
se tem certeza sobre a causa exata deste sumiço, mas há uma combinação
de fatores, incluindo o uso abusivo dos pesticidas e a perda de habitat
natural. Este segundo fator é causado pela redução de áreas florestais
por causa do surgimento de cidades.
Como
se pode perceber, está tudo interligado no ambiente que vivemos. E é
quando o homem se instala em seu papel de predador-mor e decide
desconhecer a lei natural que nos ensina que precisamos respeitar o que
está em volta, que ele passa a desrespeitar a tal biodiversidade. Meus
votos sinceros são para que as crianças que hoje se debruçam sobre esse
dever de casa possam levar consigo vida afora uma consciência mais ativa
da importância de cuidar dela.
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