Março de 2018: seca e estiagem marcam a realidade brasileira, na semana dos fóruns das águas, por Sucena Shkrada Resk
Diante
da realidade, não há meias palavras, quando se trata de insegurança
hídrica e do cenário das mudanças climáticas. Neste mês das águas, em
que fóruns internacionais ocorrem em Brasília para discutir o tema em
diferentes ângulos e propor soluções, dezenas de municípios brasileiros,
agora em março, registram “situação de emergência”, não só por causa
das chuvas, mas em decorrência da seca e/ou estiagem, que se prolonga há
sete anos. O que, de fato, estes eventos podem trazer de mudanças para
este quadro complexo brasileiro, que impliquem políticas públicas
robustas de adaptação e redução de danos? Afinal, nos próximos meses
tende a se acentuar o problema.
De
acordo com dados disponibilizados pelo Ministério da Integração
Nacional, em Pernambuco, são aproximadamente, 70 municípios; na Bahia,
já são 46 municípios, e em Alagoas, 38 cidades. O Vale do Jequitinhonha,
entre outras regiões em Minas Gerais, sofre por anos, e nem o Rio
Grande do Sul escapa a estes eventos extremos. Entre os municípios
afetados, estão cerca de 15, que decretaram estado de calamidade
reconhecida recentemente pelo Governo Federal. No estado de São Paulo,
Aguaí e Caconde também integram esta lista.
Assunto
novo? Não. Ao se fazer uma retrospectiva do ano passado, vale destacar
que 2017 foi o pior ano de seca no Nordeste em 100 anos, e até no final
do ano, havia 901 localidades em estado de calamidade pública em todo o
país, sendo a maioria na Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte e
Pernambuco. Até dezembro, um terço do Nordeste teve a seca com o grau
mais severo (nível 4). Em 2018, é aguardado o anúncio do atual Plano
Nacional de Segurança Hídrica, pela Agência Nacional das Águas (ANA) e
pelo Ministério de Integração Nacional. O recentemente Monitor de Secas do Nordeste traz alertas, mas como os gestores estão utilizando estas informações ainda é algo a se acompanhar.
Os
reservatórios nordestinos, nestes primeiros meses, também exemplificam
essa escassez crônica e ficam nos limites do chamado “volume morto”. O
açúde Castanhão, no Ceará, um dos maiores do Nordeste, já atingiu a casa
dos 2,37%, e alguns estão completamente vazios. São centenas de
famílias que se transformaram em retirantes das águas.
Em
São João da Ponte (MG), todo o consumo humano e animal foi
comprometido, nestes primeiros meses de 2018. A cidade exemplifica o que
ocorre em inúmeras cidades, nas quais as condições de insalubridade
atingem a população, que está longe dos centros de decisão política e
das discussões que ocorrem nos fóruns. São cidadãos (ãs) diretamente
afetados pelo problema de não ter acesso a um dos bens mais elementares
dos Direitos Humanos.
Por
outro lado, há mais um aspecto agravante, que diz respeito à cobertura
de caminhões-pipa para suprir essas populações. Em muitas localidades,
os mesmos não chegam ou demoram a chegar e há notícias de
questionamentos de especialistas, em alguns casos, da qualidade destas
águas para consumo humano. E quando há cisternas e poços artesianos, a
questão premente é não haver regime pluviométrico seguro que as
abasteça.
Como
esses brasileiros, nos rincões, têm condições de correr atrás e dispor
de dinheiro para pagar um direito básico para a sua sobrevivência? No
ano passado, por exemplo, foi divulgado em agosto, na mídia, o atraso de
verbas disponibilizadas pelo Ministério da Integração para
caminhões-pipa às Defesas Civis em dezenas de municípios.
Esta
é uma pauta “quente”, contínua e suscita uma pergunta: como será
tratada no Fórum Mundial da Água e no Fórum Alternativo Mundial da Água,
nesta semana?
*
Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 26 anos, pela PUC-SP, com
especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política
Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo –
jornalista Sucena Shkrada Resk (http://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/03/2018
"Março de 2018: seca e estiagem marcam a realidade brasileira, na semana dos fóruns das águas, por Sucena Shkrada Resk," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/03/2018, https://www.ecodebate.com.br/2018/03/21/marco-de-2018-seca-e-estiagem-marcam-a-realidade-brasileira-na-semana-dos-foruns-das-aguas-por-sucena-shkrada-resk/.
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