Defensores do meio ambiente ganham garantias com novo Acordo de América Latina e Caribe
Saiu o Acordo Vinculante da América Latina e Caribe de Acesso à Informação, à Participação e à Justiça em Assuntos de Meio Ambiente. Os
representantes dos 24 países da região, reunidos em São José da Costa
Rica, aprovaram o tratado no domingo (4). Depois de ler o texto que postei na sexta-feira passada (2) anunciando
que o acordo poderia sair até domingo (4), o representante da Fundação
Esquel Brasil nas negociações, Rubens Born, engenheiro ambiental e
mestre em saúde pública, fez contato comigo via redes sociais e me deu a
boa notícia.
Conta-me
Rubens Born que o texto passará ainda por breve revisão editorial e que
na próxima Assembleia Geral da ONU, que acontece sempre em setembro,
será oficialmente aberta a temporada para assinaturas dos 24 países da
região. O Brasil propôs, e os outros acordaram, um prazo de dois em vez
de um ano para colher as assinaturas.Dessa forma, o acordo estará aberto
para assinaturas dos países de setembro de 2018 até setembro de 2020. A
entrada em vigor ocorrerá quando 11 signatários depositarem o documento
de ratificação junto à ONU, ainda que antes de findo o prazo de dois
anos.
Só
para lembrar: o Acordo está baseado no Princípio 10 daDeclaração do Rio
de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento aprovada na
Conferência da ONU Rio-92. É a seguinte a íntegra desse Princípio:
“A
melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a
participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No
nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações
relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas,
inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas
comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos
decisórios. Os estados irão facilitar e estimular a conscientização e a
participação popular, colocando as informações à disposição de todos.
Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e
administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de
danos”.
Rubens Born conta ainda que “A novidade relevante [do Acordo]
é que se trata do primeiro tratado vinculante em escala global que
inclui artigo sobre obrigações dos países em prevenir e sancionar
ameaças, coações, violências contra defensores de direitos humanos em
assuntos ambientais. Esse foi um dos temas de intensa demanda pelas
pessoas do "público" (ONGs, movimentos etc) - cerca de 30 de toda a
região da América Latina e Caribe) que acompanharam a negociação do
tratado”.
No site da ONG Global Witness há um relatório que detalha essa questão. Diz o texto de apresentação do estudo que quase 40% dos assassinados eram indígenas.
“A
falta de processos também dificulta identificar os responsáveis... É
cada vez mais claro que, globalmente, os governos e os negócios estão
falhando em seu dever de proteger ativistas em risco. Eles estão
permitindo um nível de impunidade que permite que a grande maioria dos
perpetradores andem livres, encadear os possíveis assassinos. Os
investidores, incluindo os bancos de desenvolvimento, estão alimentando a
violência apoiando projetos que prejudicam o meio ambiente e atropelam
os direitos humanos”, explicam os estudiosos que publicaram o relatório.
Um caso recente, muito impactante e de repercussão internacional foi o de Berta Cáceres, uma
professora de 43 anos que morreu assassinada a tiros em 2016, em
Honduras. Ela protestava e tentava paralisar a construção da represa
hidrelétrica da empresa Desarrollos Energéticos (Desa) no rio
Gualcarque, considerado sagrado pelo povo indígena de Los Lencas.
Por
tudo isso, no comunicado emitido depois da conclusão das negociações, a
Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), que organizou
todo o processo, ressaltou que foi um feito histórico “na construção de
uma democracia ambiental na região”, já que constitui o caminho para que
os países possam implementar medidas que garantam os direitos
ambientais.
Natalia
Gómez, investigadora da Asociación Ambiente y Sociedade uma das
representantes da sociedade civil no processo, disse ao jornal
colombiano “El Tiempo” que a importância do tratado é o fato de ser “o
primeiro do mundo em que se faz menção específica ao trabalho dos
defensores ambientais”.
“Com este acordo, os países se comprometem a dar-lhes garantias para exercerem seu trabalho”, disse ela.
Alícia Barcena, secretária-executiva da Cepal, disse que o
Acordoresponde à busca de respostas da comunidade internacional para
mudar o atual estilo de desenvolvimento e “para construir sociedades
pacíficas, mais justas, solidárias e inclusivas, nas quais os direitos
humanos sejam protegidos e a proteção do planeta e de seus recursos
naturais seja garantida”.
Já
o presidente da Costa Rica, Luis Guillermo Solís, na cerimônia de
aprovação do Acordo, descreveu-o como uma espécie de marco na luta
contra a pobreza, a desigualdade e o ódio. "Também é crucial para a
própria sobrevivência de nossa espécie", disse ele. "O direito a um
ambiente saudável é um direito humano".
É, portanto, um Acordo que se deve comemorar.
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