segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A ficha vai ter de cair

A ficha vai ter de cair




Pu­bli­cação na Na­ture aponta ainda mais ni­ti­da­mente para uma dura re­a­li­dade. Os ce­ná­rios para au­mento de tem­pe­ra­tura global de 1,5°C de­mandam: aban­dono rá­pido das fontes fós­seis, re­moção de CO2 at­mos­fé­rico *E*, pelo menos con­tenção do cres­ci­mento da de­manda ener­gé­tica, o que ine­vi­ta­vel­mente impõe "mu­danças nos pa­drões de con­sumo".

Sabe-se também, por outro lado, que BECCS não podem as­sumir a es­cala que al­guns ima­ginam, de­vido a ou­tros pro­blemas am­bi­en­tais, como dis­cu­timos em nosso blog. Re­mover car­bono da at­mos­fera, su­prindo uma de­manda cres­cente via bi­o­e­nergia, mesmo usando tec­no­lo­gias bem mais efi­ci­entes do que os tra­di­ci­o­nais bi­o­com­bus­tí­veis im­plica em au­mento da de­manda de terra para essas cul­turas, de água para ir­ri­gação e de uso de fer­ti­li­zantes (com con­sequên­cias graves para a ci­clagem de ni­tro­gênio e fós­foro).

Mas é fato, e não digo isso con­for­ta­vel­mente, pelo con­trário. Sem re­moção de car­bono para além da­quela pos­sível via re­flo­res­ta­mento, não vamos conter essa ba­gaça. Em suma: estou dis­posto a abrir mão, por­tanto, de uma ilusão, a de que sem ne­nhum uso dessas tec­no­lo­gias po­de­remos re­solver o pro­blema.



Uma ex­ce­lente me­tá­fora da im­pos­si­bi­li­dade fí­sica de cres­ci­mento econô­mico in­fi­nito é o "hamster im­pos­sível", vídeo de pouco mais de um mi­nuto, dis­po­nível no You­Tube.

No en­tanto a questão fun­da­mental é outra: é se po­lí­ticos, eco­no­mistas, chefes de Es­tado, to­ma­dores de de­cisão etc. também estão dis­postos a abrirem mão das suas ilu­sões. E aqui, a de que é pos­sível se­guir ex­plo­rando e quei­mando fontes fós­seis im­pu­ne­mente (como a es­querda que se ilude em fi­nan­ciar pro­gramas so­ciais com o pré-sal) só não é pior do que a outra: a de ser pos­sível ter um fu­turo com mais con­sumo de energia do que temos hoje. Não dá, não cabe.

Re­no­vá­veis como eó­lica e solar podem nos co­brir uma parte im­por­tante da de­manda. As hi­dre­lé­tricas em ope­ração e a bi­o­e­nergia podem com­ple­mentá-las, com­pen­sando pela in­ter­mi­tência. Mas não há fi­si­ca­mente como se­guir com essa ideia es­ta­pa­fúrdia de cres­ci­mento econô­mico in­fi­nito. É uma fan­tasia, uma crença des­pro­vida de base real. E se não pla­ne­jarmos o nosso pró­prio de­cres­ci­mento, o pla­neta o im­porá pelos seus meios.

Spoiler: não vai ser nada bo­nito.

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