Você gosta de ouvir Bach? Os porcos também
Música diminuiu brigas entre os suínos em experimento; animais também consumiram menos ração mantendo ganho de peso normal
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Suínos
tiveram uma melhoria em seu bem-estar, algumas mudanças de
comportamento e até apresentaram alterações alimentares ao ouvir música
clássica. Esses foram os resultados da tese de doutorado Enriquecimento sensorial do ambiente buscando o bem-estar de suínos,
realizada por Érica Harue Ito, com orientação de Késia Oliveira da
Silva Miranda, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)
da USP, em Piracicaba.
Segundo a
zootecnista, houve uma diminuição dos comportamentos agonísticos (brigas
e perseguições) e um aumento nos comportamentos lúdicos (brincadeiras e
interações entre eles) nos animais que ouviram o prelúdio da Suíte nº1 em Sol Maior para Violoncelo (BWV 1007), composta pelo alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750). Você pode ouvir a versão tocada para os porquinhos neste link.
Outro fator
observado pela pesquisadora foi o consumo de ração e ganho de peso.
Érica diz que ficou surpresa em perceber que os porcos que ouviram
música tiveram o mesmo ganho de peso consumindo uma quantidade menor de
ração. Ela ressalta a importância dessa descoberta para o produtor de
suínos: “50% do custo da produção de suínos é a ração. A melhora de 1%
disso faz uma diferença muito grande para produtores de animais, que
ganham em centavos.”
50% do custo da produção de suínos é a ração. A melhora de 1% disso faz uma diferença muito grande para produtores de animais, que ganham em centavos.
O estudo
buscou validar o uso em campo aberto do método conhecido como
enriquecimento sonoro. Em ambiente fechado, essa técnica já é melhor
pesquisada e oferece a possibilidade de controlar fatores como
temperatura e umidade. Em um campo aberto, esses fatores podem apenas
ser monitorados. A música foi escolhida com base em referencial teórico,
o que era necessário por ser validação de um novo método. “Como eu
estava validando uma metodologia em instalações abertas, eu tinha que
seguir alguma coisa que já existia na literatura. Pesquisei sobre rock,
pagode, mas não encontrei nada. Por mim, eu colocaria”, comenta a
pesquisadora.
A pesquisa
foi feita com os porcos divididos em duas baias, que ficavam lado a
lado, separadas por uma parede. A baia tratamento ouvia música, enquanto
a baia controle não. A intensidade e a frequência do som foram
monitoradas e a temperatura dos animais também, para garantir que não
estavam com nenhuma doença. Os suínos ouviram a música durante um mês e a
pesquisadora coletava dados a cada hora.
Segundo a
zootecnista, para entender o mecanismo que levou a música a influenciar
no consumo de ração e consequente ganho de peso dos animais, seria
necessária uma pesquisa multidisciplinar, com psicólogos e
neurocientistas. “Nós sabemos como é que a música influencia os seres
humanos. Mas como influencia os animais? Será que ativa as mesmas
regiões cerebrais que ativa em nós? Não há pesquisas sobre isso.”
Érica
comenta que o estudo é apenas parte de um quebra-cabeça, pois além de
faltar entender como a música afeta os animais, há também a
possibilidade de se testar outros gêneros musicais e avaliar se possuem o
mesmo efeito. Ela pretende continuar pesquisando, mas ressalta que
provavelmente será mais difícil agora, por ser bolsista da Capes (Conselho Superior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que, no início deste mês anunciou uma possível suspensão no pagamento de bolsas e a interrupção de programas de fomento à pós-graduação no País.
“É um pouco difícil, ainda mais agora, com os problemas de bolsa e
financiamento. Então os recursos vão ser prioritários para a área de
saúde, para o que é ‘considerado importante’. Eu sei que vai ficar mais
difícil agora, mas o intuito é continuar”, avalia a pesquisadora.
A aplicação
direta da pesquisa seria para os produtores de animais, que podem
utilizar a música, um recurso barato, ao qual todo mundo tem acesso, e
se mostrou eficiente. Para além disso, fica a reflexão para a sociedade:
“É muito fácil alguém que é leigo no assunto ter um cachorro ou um gato
de estimação e entender que aquele animal sofre, sente fome, precisa de
carinho e tem sentimentos. Mas é muito difícil ainda, para a grande
maioria das pessoas, entender que a vaca que dá leite, o porco que dá
carne, a galinha que dá ovo, também têm esses mesmos sentimentos”,
afirma Érica. Sendo assim, nada mais justo do que buscar situações que
proporcionem aos bichos viverem, se reproduzirem e crescerem de maneira
agradável e de forma ética.
Você pode ter acesso à versão simplificada da tese Enriquecimento sensorial do ambiente buscando o bem-estar de suínos neste link.
Mais informações: e-mail ericaito@usp.br com Érica Harue Ito
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